José FARHAT
Chegada do avião Taquary no estirão do Bagé,
Bairro do 15, 05 de maio de 1936.
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Falemos hoje de aviação.
Pesquisando para comemorar o primeiro voo solo de Amelia Earhart, de Hawaii à
Califórnia, em 11 de janeiro de 1935, distância mais longa que aquela que
separa os Estados Unidos da Europa, pousei na Encyclopaedia Britannica e acabei voando na lembrança de minha
própria ligação com a aviação, desde o dia da chegada do primeiro avião que
pousou em águas de Rio Branco, no Acre, um ano e quatro meses após o voo de
Earhart, o que me levou ao site Alma
Acreana onde encontrei alguns detalhes deste último fato histórico.
A narrativa do acontecimento pelo
site Alma Acreana mereceu alguns
reparos e escrevi para os editores do site e eles publicaram a minha versão
sobre quem primeiro gritou ao ver um avião no céu, um pontinho no horizonte.
Um primeiro avião, da
estadunidense Panair, fracassou numa
tentativa de amerissagem em Rio Branco e, meses depois, a companhia alemã Condor teve sucesso.
Era o dia 5 de maio de 1936
quando eu, nos meus 8 anos e 7 meses, gritei olhando para o horizonte: “Lá vem ele” e o hidroavião Junker-W-34, monomotor, apelidado de
Taquary, amerissou “com dois botes de alumínio pendentes de seu delgado corpo e
com asas largas e compridas no Estirão de Bagé” relata o Alma Acreana. Seu prefixo era PP-CAP. Larguei a mão de meu irmão
Hechem e fui pulando até a beira do rio Acre e, moleque danado – que surripiava
(para mim era pedir emprestada para aprender a remar) canoas dos seringueiros
que vinham entregar borracha para seu pai – pulou em cima do bote, antes mesmo
de um soldado amarrar o avião num toco de madeira afundado à margem. A
impressão com a qual fiquei e guardo sempre, além obviamente do avião, é como
era gigante o piloto alemão Frederico Hoepken e como minúsculo era eu com meus
poucos palmos de estatura; comparo-me hoje ao Petit Nicolas de frente para os adultos que fizeram parte de sua
vida em casa, na rua e na escola.
A aventura aeronáutica acreana não
ficou por aí e, junto com Otávio Bonfim de Oliveira, exemplo de garoto bem
comportado, construímos um avião com duas caixas, nas quais eram importadas do
outro Brasil para o Acre as cervejas produzidas em Belém, e duas folhas de
zinco formando as asas. Otávio arrumou um quepe e se tornou o comandante. O avião
decolava voava, voltava amerissava ou pousava, para nós, enquanto não saia do
chão, nos baixos da residência de Dr. Mário de Oliveira.
Minha vida seguiu seu rumo e,
quando cresci, vendi aviões comerciais durante 12 anos, já tinha um brevê do
Líbano e tirei outro aqui mesmo, no Campo de Marte em São Paulo, e continuo,
aos 86 anos, interessado em tudo o que se refere a avião e aviação. Para que se
tenha uma ideia do quanto estou ligado, passei o dia chateado porque uma
transportadora aérea da Arábia Saudita comprou uma dezena de aviões Bombardier do Canadá preterindo os
aviões da Embraer que tanto sucesso
têm apresentado na região; reminiscência de vendedor que perdeu uma venda,
talvez.
Voltemos, e já é hora passada, à
primeira homenageada de hoje, a esta mulher decidida e corajosa que foi Amelia
Earhart (nome completo: Amelia Mary Earhart), nascida em 24 de julho de 1897,
no estado do Kansas, nos Estados Unidos, e desaparecida no dia 2 de julho de
1937 perto da Ilha Howland, no oceano Pacífico Central. Esta aviadora
estadunidense, afirma a Britannica,
foi “uma da mais celebradas em todo o mundo, sendo a primeira mulher a voar
solo sobre o Atlântico”.
Amélia Earhart. Foto: travelandleisure.com |
Earhart mudou-se de cidade em
cidade frequentemente, com sua família, e completou o colegial em Chicago em
1916. Foi enfermeira militar no Canadá durante a I Guerra Mundial e assistente
social na Denison House, em Boston, depois da guerra.
Contrariando o desejo de sua
família, aprendeu a voar em 1920-1921 e em 1922 comprou seu primeiro avião, um Kinner Canary de segunda-mão, biplano de
dois lugares, pintado de amarelo vivo que Earhart apelidou de “Canário”, com o qual registrou o
primeiro recorde feminino em altitude, voando a 14.000 pés (4.267,2 m).
Earhart tornou-se, entre 17 e 18
de junho de 1928, a primeira mulher a voar sobre o Atlântico, entre os
continentes que o oceano separa, americano e europeu, mas era somente como
passageira em um avião Fokker trimotor,
pilotado por Wilmer Stultz e Louis Gordon. Ao voltar, e no mesmo ano, publicou
suas memórias deste voo num livro intitulado 20 Hrs., 40 Mi, referência ao tempo de duração do voo.
Nem seu casamento, em 1931, com o
publicitário George Palmer Putman, impediu-a de continuar sua carreira sob o
seu nome de solteira corroborando o que me disse um velho lobo do ar certa
feita no aeroporto de Bauru onde fui treinar: “Voar, é cachaça”.
Mulher determinada e para
justificar a fama que lhe trouxe o voo sobre o Atlântico, ela entrou na cabine
de seu Lockheed Vega e voou sozinha,
de Newfoundland para a Irlanda, um voo que estabeleceu o recorde de tempo de 14
horas e 56 minutos. Depois deste voo, ela escreveu outro livro: The Fun of It (1932).
Intrépida, ela empreendeu uma
série de voos através dos Estados Unidos, o que a colocou à testa de um
movimento que encorajou o desenvolvimento da aviação comercial.
Como era de se esperar, ela também
tomou parte ativa no esforço de abrir a aviação para as mulheres e acabar com a
dominação masculina no setor; o que de certa forma as mulheres ainda lutam e
quando conseguem brilham.
Foi em 11 de janeiro de 1935 que
ela fez o voo solo a que nos referimos no início deste artigo, de Hawaii à
Califórnia, superando, devido à maior distância o seu voo da América à Europa.
Corajosa, ela foi a primeira pessoa a ousar tomar esta rota perigosa onde
muitos morreram e ter sucesso.
Não contente com as realizações,
até então, a arrojada Earhart, acompanhada de Fred Noonan como navegador, ela
iniciou, em 1937, a bordo do bimotor Lockheed
Electra, para um voo ao redor do mundo. Completados mais de dois terços de
distância de seu objetivo, seu avião desapareceu no Pacífico central, próximo à
Linha Internacional da Data.
Seu desaparecimento misterioso
levantou muitas questões e especulações a respeito dos acontecimentos que o
cercaram, mas a única verdade é que os fatos continuam desconhecidos.
Hoje temos aviões que voam de
qualquer lugar, percorrem continentes e voltam a pousar nos pontos de partida e
voar para e de Rio Branco é comum, o que não tira a importância dos dois fatos
aqui apontados.
José FARHAT
11/01/2014
Publicado originalmente
no site do autor:
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DOM HÉLDER CÂMARA
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