sexta-feira, 16 de novembro de 2018

SOBRE OS FESTIVAIS DAS NOVAS ESPERANÇAS

João Veras


O que mais queres tu de mim, colonizador?

Além desse acre de terras com fartas madeiras sem lei?

Que eu rogue por seus empréstimos, essa tua riqueza que me roubas?

Que eu continue seguindo as tuas bulas, fórmulas e mapas-armadilhas?

Que eu viva a sorri pra ti? A abrir pernas, estradas e mentes?

Queres ainda mais meus pobres conhecimentos que valem outro?

Minhas ignorâncias sobre tuas estratégias de saber?

Que eu faça mais poses para tuas fotografias de viagens?

Que eu consuma mais as tuas artes, as que eu não entendo e as que são feitas justamente para eu entender?

Que eu continue acreditando em teus deuses?

Que eu viva a te receber como um dos meus melhores?

Queres ainda que eu morra desejando ser como você?

Que eu viva sonhando ser um dia você?

Que eu seja você?

E que me mantenha sem vestes a seios nus matando a sede dos teus baratos com minhas bebidas? Ofertando-te o que me resta de sagrado?

O que mais queres, além de meu corpo, da minha história, dos meus sonhos?

Pois agora eu não te dou mais! (...assim pensou alguém lá nos fundos da aldeia, no mais respeitoso silêncio).

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"Quando se sonha só, é apenas um sonho, mas quando se sonha com muitos, já é realidade. A utopia partilhada é a mola da história."
DOM HÉLDER CÂMARA


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