segunda-feira, 29 de abril de 2019

O ATO DE MATAR (filme)


“Quem realiza sonhos a qualquer custo deveria apenas tê-los quando dorme. Pois alguns destes sonhos foram os maiores genocídios da humanidade.”

“O Ato de Matar” (2012) é um documentário dirigido por Joshua Oppenheimer, e se há algum adjetivo que o classifique é aterrorizante, conforme a história vai sendo revelada ficamos boquiabertos com tanta maldade sendo exaltada.
A obra traz a entrevista com o líder paramilitar Anwar Congo e seus comparsas, incluindo o dono de um jornal, todos assassinos confessos vivendo livremente na Indonésia, orgulhosos de todos os seus crimes. Os diretores convencem Congo e sua gangue, que chegaram ao poder após o golpe militar de 1965, a encenar suas táticas de tortura e matança, como se fosse um filme de verdade, incluindo figurinos e efeitos especiais.
Em 1965, na Indonésia, Anwar e seu esquadrão da morte iam atrás de pessoas consideradas comunistas, líderes sindicais, artistas e opositores do regime indonésio, as técnicas que eles usavam para aniquilar o máximo de pessoas possível nos são mostradas neste filme chocante. Anwar é um homem adorado, seu jeito calmo esconde coisas terríveis, a frieza acompanha esse ser humano que não demonstra arrependimento, só em algumas cenas ele diz que tem pesadelos, mas nada que mude o orgulho que sente de si mesmo. A palavra gângster é usada constantemente, pois assim é que designavam-se. Ao lado de seus colegas Anwar vai reconstruindo episódios chocantes, atos cruéis, como a técnica em que ele enforca com arame, ou esmaga a garganta com o pé da mesa, enquanto isso é mostrado vemos gargalhadas, imponência e apreço pelo que estão fazendo. Num dos momentos mais angustiantes, reconstroem a cena em que um vilarejo é queimado, onde todos os habitantes morrem, as memórias são reavivadas e podemos ver o horror nos olhos daquelas pessoas que se ofereceram como voluntárias, crianças chorando sem parar, um clima pesado paira no ar. Paralelamente vemos jovens seguindo o caminho totalitário sob a denominação Juventude Pancasila.
“O Ato de Matar” é um documentário difícil de se assistir, por várias vezes parece inacreditável a brutalidade sendo retratada com tanta facilidade. O diferencial deste filme está em mostrar personagens reais, assassinos que continuam impunes, vivendo como heróis. Sem dúvida o diretor teve muita coragem ao decidir retratar o genocídio indonésio, e os protagonistas ao aceitarem expor seus rostos contando coisas horríveis, demonstrá-las só ressalta o quão orgulhosos são de si, porém numa das cenas finais Anwar ao assistir uma de suas encenações diz: “As pessoas que eu torturei se sentiram como eu me senti nessa cena?”, e chora. Uma ponta de humanidade é revelada aí, mas não é o suficiente para nos convencer, a frieza e a maldade nunca foi tão presente em um filme.
Totalmente rodado na Indonésia, na cidade de Medan, “Ato De Matar” carrega uma narrativa perturbadora e provocativa ao exibir pessoas que cometeram crimes em situações líricas, como a cena das dançarinas, alguns trechos se repetem e a duração é um pouco excessiva, mas com certeza conseguiu atingir seu objetivo, mostrar a crueldade personificada.
Há uma continuação chamada “Look of Silence” (2014). Neste uma família que sobreviveu ao genocídio na Indonésia confronta os homens que mataram um de seus irmãos.

MaríliaTasso

Nenhum comentário:

Postar um comentário

"Quando se sonha só, é apenas um sonho, mas quando se sonha com muitos, já é realidade. A utopia partilhada é a mola da história."
DOM HÉLDER CÂMARA


Outros contatos poderão ser feitos por:
almaacreana@gmail.com