J. G. Araújo
Foto: Blog do Rocha
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Ele se chamava Joaquim Gonçalves.
Dizem que, quando nasceu, sua
família portuguesa de tão pobre o doou para outra família inglesa. Isto era o
dia 14 de fevereiro de 1860, em Povoa do Varzim. Os pais lavradores. Como
chegou em 1871, aos 11 de idade, no Amazonas? Seu biógrafo, Agnello
Bittencourt, diz que veio agregado ao barco de Nuno Pau Brasil, que viajava
entre Manaus e Lisboa. Pau Brasil era o nome de uma antiga família amazonense.
Em Manaus conseguiu-lhe colocação na “Casa Silva”. Em 1875, o comandante Nuno
emprestou-lhe dinheiro com que pôde abrir seu primeiro comércio. Mas o próprio
J. G. disse que começara a vida cortando piaçaba.
O homem construiu um império.
Quando faleceu, em 21 de março de
1940, deixou um patrimônio incalculável em navios, casas comerciais, empresas.
Quase todo o centro comercial de
Manaus da época lhe pertencia. A primeira casa de pedra e tijolos em Manaus foi
construída por ele, onde instalou a “Padaria Progresso”. Sua famosa firma “J.G.
Araújo & Cia” fez de tudo. Inclusive financio um filme famoso, “No país das
amazonas”, de Silvino Santos, um belo filme (Silvino era um gênio) hoje raro e
desconhecido.
O filme “O cineasta da selva”, de
Aurélio Michiles, de 1997, conta essa estória, a de Silvino Santos e do
Desembargador.
Silvino Santos (1886,
Portugal-1969, Brasil) começou sua carreira de cinematógrafo na cidade de
Manaus quando esta vivia seu apogeu graças ao ciclo da borracha, tornando-se um
dos pioneiros do cinema no Brasil. Adotou o Brasil como pátria aos 13 anos de
idade, documentou a história de uma Amazônia com uma produção extensa e
diversificada. Ao longo dos seus 84 anos realizou nove longas e 57 curtas e
médias metragens no Brasil em Portugal, muitas vezes se embrenhando na floresta
amazônica com uma câmera de manivela na mão e fazendo as pontas de teste do
material filmado nos ocos das gigantes árvores da selva”, diz o autor do filme.
“No paiz das Amazonas”, de Silvino
Santos e Agesilau de Araújo (filho do comendador), foi realizado em 1922.
Diz-se, dele: “Percurso por
alguns rios da bacia amazônica, o filme retrata diversas formas de
sobrevivência e trabalho na região: a pesca do peixe-boi e do pirarucu, a
extração da balata e do preparo do látex, a extração da castanha e o preparo do
guaraná”. “No Paiz das Amazonas” é considerado o filme mais famoso de Silvino
Santos que realizou enquanto funcionário da Cia J. G. Araújo. Foi sucesso de
público e crítica permanecendo em cartaz cinco meses no Cine Palais no Rio de
Janeiro, além de ser exibido em salas de cinema na França, Inglaterra e Lisboa.
Junto de Nanook, de Flaherty (1922), La Crosière Noire (1926) de Léon
Poirier, Tabu (1930) de Murnau, o
filme No Paiz das Amazonas e No rastro do Eldorado (1925) de Silvino
formam um conjunto de filmes de viagem que forneceram aos moradores das
metrópoles a oportunidade de se aventurar e descobrir as regiões “mais
selvagens do mundo”.
O Comendador aparece no romance “A
selva” de Ferreira de Castro.
Do seu casamento nasceram vários
filhos, um também comendador e Presidente da Província.
Quando o apogeu da economia da
borracha acabou, somente o pai seguiu próspero, pois suas atividades abrangiam
um pouco de tudo, criava gado, tinha farmácia, padaria, barcos etc. Além disso
ele construiu asilos, um forno para queimar o lixo que era único no Brasil.
Um dia um adversário comercial
tentou matá-lo com tiro, à queima roupa, no coração. Ele foi salvo pelo cabo do
guarda-chuva, onde havia uma placa de ouro. Pois bem, depois disso, perdoou o
inimigo e mandou soltá-lo, dizendo que o criminoso tinha “numerosa família”
para sustentar.
Aos domingos, o Comendador
visitava a Santa Casa e a Beneficente Portuguesa para ver se alguém estava
necessitando de alguma coisa. Ele levava envelope de dinheiro, para ofertar.
Fazia ofertas generosas. Em dinheiro. E construiu o “Asilo de Mendicidade” do próprio
bolso para ali abrigar os numerosos mendigos de Manaus depois da crise da
borracha. E fazia doações em segredo, não queria que ninguém soubesse.
Estranho é o fato de que todo o
império dos Araújos desapareceu por completo.
Um dia, visitei a sua casa, hoje transformada
em repartição do governo, ou algo assim. Assaltou-me uma reflexão sobre a
impermanência de todas as coisas. Como era a vida daquele homem, tão rico e tão
bom? Diante da janela de sua mansão se via o Teatro Amazonas. O símbolo daquela
época de riqueza.
HÁ MUITO MAIS SOBRE ESSE IMPORTANTE EMPRESÁRIO...
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