segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

RIO BRANCO, DE CARA

João Veras

Quando o mundo pega fogo, busco água em qualquer lugar.
Sobre isso que direi nada tem de poético, talvez.
O português é uma língua que às vezes confunde.
Não diz nada denotando.
Ou não diz o que quer, dizendo outra coisa.
Estou pensando em duas palavras que no caso são uma, afinal.
Rio branco não é absolutamente o que significa, de cara.
Não passa de uma ideia que não incorre no real.
Um substantivo rio – curso de água - adjetivado pela cor branca.
Aonde se pode encontrar neste mundo um rio de cor branca?
A ciência já disse: a água é azul.
E um rio, aos olhos de todos, pode ser negro, barrento, cinzento...de toda cor...menos branco.
Isso é corrente. E vai se falando não que o rio é branco.
Tanto que ninguém repara – nem se importa com isso.
Isso se leva no automático, o seu uso.
Irrefletidamente vamos usando sem qualquer senso poético, nem de realidade. Há um senso comum imposto.
A não ser uma criança, um estrangeiro, por razões diversas – imaginárias e linguísticas,
e um poeta às avessas, desses postiços que ama confundir cabeças.
Dessa impossibilidade de rio branco significar rio branco.
Rio Branco é um nome dado a cidades. Também a gentes.
Essas coisas do mundo que costumam também não significar o que são, nem de cara.
Como um tipo de literatura, a que suspende as zonas de verdades e mentiras, talvez!

01/20

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