sexta-feira, 9 de abril de 2021

TRÊS POEMAS DE ELIANA CASTELA


LAGO

 

O lago do Silêncio

engoliu a claridade,

fim de tarde, noite fria.

O lago do Silêncio

evapora o dia.

Silentes, pescadores

margeiam as águas,

dia e noite a testemunhar

o suceder de luz e sombra.

O silêncio é habitat

e armadilha dos peixes

- todo dia é do pescador.



TEATRO

 

Primeiro ato-me,

Segundo, terceiro...

Desato o choro,

Presa à cena

Arte trágica

Nelson Rodrigues

Medos e prantos.

Do caos no trânsito

Da vida e da morte

Dos sem sorte

Das tragédias que nutrem

Todos os atos

no palco dramático.



NOVELO

 

Ao ver-se inerte, na poltrona da sala

Sentiu uma angústia sedentária...

Gorducho, entrelaçado,

Preso às próprias amarras,

O novelo resolveu rolar.

 

Caído ao chão desfez-se em fio,

Seu corpo afastando-se da ponta,

Alongava-se infinito.

 

Às vezes surgiam nós,

Alguns frouxos, outros firmes...

Todos dificultavam seu desenrolar.

 

Em desalinho, enroscava-se a tudo

que encontrava no caminho.

Sentia liberdade ao sair mundo a fora

sem estar preso a laços ou a nós.

O novelo deu o ponto final

Seguiu a linha da vida sem nada tecer.

 

p.s. pinturas também de autoria de Eliana Castela.

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"Quando se sonha só, é apenas um sonho, mas quando se sonha com muitos, já é realidade. A utopia partilhada é a mola da história."
DOM HÉLDER CÂMARA


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