segunda-feira, 10 de outubro de 2022

CRONOLOGIA DAS EFEMÉRIDES QUE SE RELACIONAM COM A HISTÓRIA DO JURUÁ FEDERAL/CRUZEIRO DO SUL

Vista de Cruzeiro do Sul, Acre, 1906. Arquivo Nacional. Afonso Pena.

1560. - Segundo historiadores, é assassinado por dois companheiros, na bacia do Juruá, o explorador Pedro de Ursúa e sua mulher Inez.

1568. - Pelo vigário José Monteiro de Noronha, é narrada a versão de índios de cauda, no Juruá. A referida versão é posta em foco ainda, outra vez, em 1847, pelo naturalista CASTELNAU.

1857. - O diretor de índios João da Cunha Correia, faz a primeira expedição no alto Juruá e alcança a confluência do Juruá-Mirim.

1867. - O geógrafo inglês, Willian Chandless, faz a primeira exploração científica no Juruá chegando até a foz do Campinas.

1870. - Segundo narração do Pe. Dr. Constantino Testevin, terrível epidemia dizima os índios que habitavam o local onde hoje se acha a cidade de Cruzeiro do Sul, obrigando os remanescentes buscarem o Peru através dos altos rios.

1870. - Penetração brasileira no alto Juruá alcança as barras do Amônea e do Tejo.

1872. - Exploração científica, por Augusto Hiliges e Lopes Neto, alcançando a foz do Breu, cujo curso ficou servido de limites entre o Perú e o Brasil.

1877. - Levas de nordestinos, acossados pelas secas naquela região, buscam os altos rios da Amazônia, completando assim o povoamento do alto Juruá.

1889. - O Mundurucús, primeiro barco a vapor que sulcou as águas da região, regressa do lugar que tomou o seu nome, muito acima da cidade. No baixo Juruá a navegação fora iniciada pelo vapor Jurupecem em 1870.

1891 - Balduino de Oliveira e João Dourado, chefiando uma expedição, expulsam os peruanos, subindo o Juruá até a foz do Dourado, no Peru.

21/10/1902 - Brasileiros, sob a direção de Carlos Eugênio Chauvin, expulsam os peruanos que se haviam estabelecido na foz do Amônea, território explorado pelos brasileiros.

15/11/1902 - Os peruanos, tendo à frente Carlos Vasques Quadra, voltam à foz do Amônea, acampando em Minas Gerais, de Luiz Francisco de Melo, instalando um posto militar e uma repartição aduaneira, dando ao lugar o nome de NUEVO IQUITOS, atual Vila Thaumaturgo.

07/09/1904 - Circula o primeiro número do Jornal O Progresso, editado no Amônea.

07/09/1904 - Pelo Decreto Federal n.º 5.188, que deu a primeira organização ao território do Acre, é criado o Departamento do Alto Juruá.

12/09/1904 - O Prefeito Gregório Thaumatugo de Azevedo inaugura a sede provisória do Departamento do Alto Juruá, no lugar "INVENCIVEL", na foz do rio Moa.

28/09/1904 - NO LUGAR "CENTRO BRASILEIRO" PROPRIEDADE ADQUIRIDA DE ANTÔNIO MARQUES DE MENEZES, É FUNDADA POR GREGÓRIO THAUMATURGO DE AZEVEDO A SEDE DEFINITIVA DO DEPARTAMENTO DO ALTO JURUÁ, COM O NOME DE CRUZEIRO DO SUL.

04/11/1904 - São aprisionados por forças brasileiras do 15.º Batalhão de Fronteiras, sob as ordens do Ten. Guapindaia de Souza Bregense, o cobrador de impostos peruanos Alferes Manoel Severo Ramirez e os soldados que o acompanhavam. Os prisioneiros eram funcionários do Posto Militar peruano de Nuevo Iquitos, atual Vila Thaumatugo.

05/11/1904 - Após um combate que durou 22 horas de cerrado fogo, soldados do 15.º Batalhão de Fronteiras reunidos aos seringueiros do local, são derrotadas as forças peruanas do Posto Militar do Amônea, sendo as perdas - nove peruanos mortos e vários feridos; um brasileiro morto e diversos feridos.

08/11/1904 - É instalado o Posto Fiscal Brasileiro na foz do Amônea.

01/0111905 - Fundação de Vila Thaumaturgo.

03/05/1905 - Criação das Vilas Andrada e Feijó, hoje cidade Tarauacá e Feijó.

03/05/1906 - Inauguração da Luz Elétrica e circula o primeiro número do jornal - CRUZEIRO DO SUL - orgão oficiaI.

31/05/1906 - Cruzeiro do Sul elevada à categoria de Cidade.

19/12/1907 - Fundação da loja Maçônica.

01/02/1908 - Inauguração do Liceu Afonso Pena, que foi extinto em 30/06/1911.

06/06/1909 - Fundação do Centro Operário Beneficente.

08/09/1909 - Tratado de limites com o Peru.

01/06/1910 - É deposto pela revolução autonomista, o Prefeito João Cordeiro. O governo autonomista durou 100 dias.

28/09/1911 - O Prefeito Pedro Avelino inaugura o Mercado Público.

21/06/1912 - Inauguração da 1.ª estação telegráfica de ondas largas.

13/06/1912 - Chega o Engenheiro Alberto Masô para fazer o levantamento e o mapa da região.

07/09/1912 - Inauguração do cais do porto.

28/09/1912 - Inauguração do obelisco comemorativo da cidade e que foi reformado em 28/09/1931.

23/10/1912 - Criação do Departamento de Tarauacá.

13/02/1913 - Instala-se a Intendência com o nome de Cruzeiro do Sul.

12/03/1913 - Instalação do Tribunal de Apelação na cidade, sendo Presidente e Desembargador Elizário Távora onde mais tarde falecerá.

24/05/1913 - Instalação do 1.º Conselho Municipal.

06/08/1916 - TEM INÍCIO O PRIMEIRO NOVENÁRIO DE N. S. DA GLÓRIA, PADROEIRA DA CIDADE.

                      Primeira Guerra Mundial - Apresentaram-se dois voluntários: João Tibúrcio da Silva e Francisco Valeriano da Silva, porém não foram aproveitados.

28/09/1920 - Inaugura-se a atual Cadeia Pública.

06/03/1921 - Visita do Governador Epaminondas Jácome.

03/09/1923 - Falece na cidade o Cel. Absolon Moreira.

19/08/1923 - Falece o Vogal Alfredo Teles.

02/09/1923 - Fundação da União Agrícola do Juruá.

28/08/1924 - Fundação da Santa Casa de Misericórdia.

15/08/1926 - Inauguração da Igreja de N. S. da Glória, cujo início de construção data de 1924.

09/20/1927 - Cria-se um abrigo para os leprosos, hoje, o atual Leprosário.

07/09/1931 - Falece em Belém o Cel. João Bussons.

14/07/1931 - Retira-se da cidade o Dr. José Moreira Brandão Castelo Branco Sobrinho onde vivera muitos anos, com real proveito para a região.

24/10/1931 - Inaugura-se o obelisco em memória de João Pessoa.

1933 - Inaugura-se o Correio e Telégrafo.

06/09/1934 - Falece em Alagoas, João Craveiro Costa, que na cidade viveu 16 anos, como Educador, político, jornalista e historiador.

14/10/1934 - Primeira eleição para deputados acreanos.

06/11/1935 - Inauguração da estação telegráfica de ondas curtas.

13/04/1936 - Chega à cidade D. Henrique Ritter, 1.º Bispo Prelado do Juruá.

11/05/1936 - Chega à cidade o engenheiro Pedro Moura, e técnicos para pesquisas de petróleo do Môa.

14/05/1939 - Chega o primeiro avião brasileiro "GETÚLIO VARGAS" do governo do Acre.

12/05/1942 - Falece o Maj. Odilon Augusto de Moura, jornalista e advogado de renome.

20/06/1942 - Falece em Manaus D. Henrique Ritter.

01/03/1943 - Inaugura-se a Agência do Banco do Brasil S.A.

01/01/1944 - O Município de Juruá passa a denominar-se município de Cruzeiro do Sul.

26/06/1944 - Realiza-se aqui o 1.º Tríduo Eucarístico no Acre.

18/10/1944 - Falece o Pe. Agostinho Haberkorn.

                     Segunda Guerra Mundial - Foram convocados pela classe 80 filhos de Cruzeiro do Sul, que seguiram até Manaus, onde foram inspecionados no 27.° Batalhão de Caçadores, dispensados e considerados SOLDADOS DA BORRACHA, face trabalharem em área considerada de guerra pela colaboração no Esforço de Guerra. Combateram no Teatro de Operações de Guerra na Itália só dois: Euribíades Rodrigues de Carvalho e Nicomedes Corrêa Lima.

18/06/1947 - Batismo com água do Juruá, do avião "JURUÁ" em presença do Governador que o havia adquirido para a ligação inter-Municipal, pelo deputado acreano José Guiomard dos Santos.

07/08/1947 - Viagem inaugural do Correio Aéreo Nacional.

09/11/1947 - Chega a cidade D. José Hascher, 2.° Bispo prelado do Juruá, tendo grandiosa recepção.

12/01/1948 - Falece em Rio Branco, o Prefeito da cidade, Alfredo Pereira Sales.

10/07/1948 - Falece no Rio, o seringalista e comerciante Luiz Antônio Meirim Pedreira.

11/08/1949 - Inauguração do Grupo Escolar "Braz de Aguiar" e escola "Gov. Hugo Carneiro".

        /1950 - Início da construção do prédio Instituto Santa Terezinha, pelo Rvmo. Sr. Bispo Prelado D. José Hascher.

27/07/1950 - Falece o coronel Mâncio Agostinho Rodrigues Lima, pioneiro do Juruá, figura de maior vulto nos meios sociais e políticos e cidadão benemérito do Município.

10/12/1950 - Cola Grau a 1.ª Turma de Normalistas do Colégio S. Terezinha, da cidade.

25/01/1951 - Inauguração da Linha Aérea da PANAIR DO BRASIL ligando Manaus a Cruzeiro do Sul.

09/02/1951 - Inauguração da Cruzeiro do Sul, Linha Aérea.

02/03/1952 - Falece o Dr. Mário Lobão, jornalista, farmacêutico e figura de alto reIevo social, Prefeito por duas vezes.

02/03/1952 - Inauguração do Educandário Cruzeiro do Sul, com a presença de Da. Eunice Weaver.

20/08/1952 – Visita oficial do Dr. João Kubitschek de Figueiredo, governador do Território, que foi até Vila Japiim.

31/01/1953 - Fundação do Jornal O Juruá.

02/08/1953 - Inauguração da Agência do Banco de Crédito da Amazônia S. A.

28/09/1954 - Inauguração dos bustos de Gregório Thaumaturgo de Azevedo e Cel. Mâncio Agostinho Rodrigues Lima.

28/09/1954 - Inauguração da Praça da Bandeira.

25/06/1956 - Viagem de uma equipe do INPA ao Alto Juruá até limites com Peru para estudos geológicos e zoológicos do município, chefiados por Dr. Lelewellyn Ivor Price.

27/04/1957 - Inauguração dos prédios do Aeroporto, Armazém do Porto, Correios e Telégrafos e Posto de Saúde Dr. Acrízio Bezerra.

15/08/1957 - Lançamento da pedra fundamental da Catedral de N. Sra. da Glória.

10/12/1957 - Criação do Ginásio Cruzeirense.

08/07/1960 - Entra no ar pela 1.ª vez, em caráter experimental a Rádio Difusora de Cruzeiro do Sul.

29/11/1967 - Visita do Rei Leopoldo da Bélgica em excursão científica pela Amazônia. Visitou Cruzeiro do Sul, coletando e pesquisando a piscicultura local, especialmente no Igarapé São Salvador, que passa na Olaria e Sangrador da Foz do São Francisco.

Março de 1969 - Começou a funcional a Escola Técnica de Comércio “Prof. Flodoardo Cabral”.

17/07/1969 - Instalação do 7.º BEC.

09/07/1971 - Instalação do Campus Avançado de Cruzeiro do Sul, da Universidade Estadual de Campinas.


Referência

A cidade e a História. Anais do VII Simpósio Nacional dos Professores Universitários de História. Organizado pelo Prof. Eurípedes Simões de Paula. Volume III. p. 1864-1869

sábado, 8 de outubro de 2022

O homem que vio o Mapinguary

Franco Cispeira

 

Sim ! Foi na Terra-Firme-Geral, na matta bruta, im-

pe-

ne-

tra-

vel !

( Não fosse eu magro e audaz como um seringueiro flagellado,

Chegado ao Barracão depois de quarenta duas de viagem,

A bordo da lancha “Soberana”,

Sentindo no estomago uma grande, enormíssima

Saudade da Carne de Sol! Não fosse eu

                                                              esguio

                                                                  como um fio

                                                                       de agua de gente

                                                                                quente,

                                           combatendo a desgraça frente a frente!

                                           – Lá não teria entrado! )

“A casa de Flora era um sonho confuso,

A trama de um Averno de arvores enormes,

Ataviadas de Timbó-assú,

                                     Timbótitica,

                                                Tiririca,

                                                      Unha-de-gato

                                                                 Espera-ahy,

                                                                         Pente-de-macaco,


                                                     
 Muratinga,

                                                                Bico-de-tucano,

                                                                Tudo balouçando,

                                                                E se entrelaçando,

Homenagem a Mario Andrade
na passagem por Manaos

Como se fosse os grandes fios

do cabelo verde

da Yara de olhos amarelos,

Que carregou

para o fundo do Rio Negro

o guerreiro Jaguarary...

 

“Sim! Creiam,

almas envenenadas de malicia !

Eu vi

O bicho Mapinguary...

 

“Os meus olhos

sahiram três quilômetros

Além das orbitas sangrentes !

E os meus cabelos, wagnerianamente agitados e rebeldes

Ao pente,

                                                      Subiram,

                                            Subiram,

                                  Subiram,

A três mil e quinhentos metros de altura,

Batendo o record da ascendência do Pavor!...

“Hon ! Hon ! Hon ! Hon-Rhiiiiiiu ! Hiu ! Hiu ! ! !”

Era ele! Um bicho assim do

Tamanho do

Mario

Andrade

E da grossura do constitucionalissimamente senador

                                               Lopes

                                               Gon-

                                               çalves...

Com um olho só, muito redondo e perquirente

                                               No meio

                                               da testa!

Feio ! Feio ! Feio !

Horripilantemente tremebundo,

                     Grunhindo, guturalmente,

                              Saxofonicamente :

                                             Hon !

                                             Hon !

                                             Hon !

 

“Era ele! (Sem duvida!) O terror dos Seringueiros do Paiz das Amazonas!

Cabeludo, de pernas curtas, bracilongo... (Até parece

Um urso; mas, segundo opiniões abalizadas, há de ser algum

Raro exemplar do Dinothério ou Megathério, com a idade

– mais ou menos –

Do meretissimo senhor desembargador Ataulpho de Paiva,

Servindo-se do aplomb do Firmissimo

Senhor deputado Dorval Porto ).

 

“O Mapinguary! (Senhor Deus recei a Alma do vosso Servo !

 

“A seu lado – as carcaças de uns trinta jacarés do tamanho de um bond

grande da Ligth,

Minutos antes devorados!

                    E mais oito onças

                    Bem creadas,

                               Espostejados, talvez, para a merenda do Bruto...

( Afora as embiraras arquejantes... )

E o animal comia

                    comia

                    comia

Com tanta gana engulia,

                    Que parecia

Ter no estomago de Moloch todas as grandes fomes que assolaram o Ceará

Nestes quatro séculos! (Vide as obras do Barão de Studart

E “Seccas contra as Seccas”, do desembargador

Britto

Guerra)

 

“Pois bem: – apezar de manjares tão fartos, o

Mapinguary, quando me vio

Abriu um boccão

– Deste tamanho ! –

                               Hon ! Hon ! Hon ! E deu um pulo

                               Pra riba de muá, como quem diz:

                                                                        “Eu te engulo,

                                                                                        Chico !”

“Considerei a gravidade do momento. ( E

Quasi sou victima de um parto prematuro – eu que tenho no prelo

Um livro de versos! )

Num milesimo de segundo,

Comprehendi toda a grandeza, toda a magnitude do Viver!...

A vida!... Oh! A Vida... A Vida é bella!...

E a Perfeição

Deve

Ser leve

Como a neve

Breve!...

 

“Diante do bicharoco, eu senti a

Agrada-

Bilissima

Im-

Pressão

De ser flú...

                  flú...

                         flúido...

 

 

( Na verdade, eu não me apercebia do pezo da materia,

Nem tinha a noção do que fosse

A ossatura

Humana...

“Homem-Sonho ! homem-Volatização!...

Que bom !

Eu – Poeira Impalpavel, ourejando ao Sol de um Medo Heroico !

Eu – Lembrança Vaga de mim mesmo !

Eu – Desejo Incontido de Não Ser !

– O Homem-Renuncia que perdeu as pernas, atravessando as Nuvens,

Seguindo a Cavalgada das Walkyrias !...

 

“E decido-me a defender a Vida-Boa!

 

... Oh! Nunca!... Nunca!

Ser comigo, assim, na matta; assim,

Bestialmente, por um animal que veio ao Mundo

Antes do Diluvio ! (Coragem! Coragem!

– Dizia uma voz enérgica, escondida no meu abdômen: –

Banca o Valente que ele acaba dando

                                                          – o fora –)

 

“Falei: – Mapinguary! Está escripto: – o morrerás!

                                       Prrrááá!

                                       Prrrááá!

                                       Prrrááá!

                                       – Trez

                                       Tiros

                                       De

                                       Rifle

                                       Calibre

                                       44!

Bala na agulha novamente...

O bicho guincha, pula, abre o bocão...

Tremem

As arvores e a Terra...

Pela espinha dorsal dos paranás, das aguas-paradas, passa um calafrio...

O rifle engasga.

E o Mapinguary

                     ri,

                     ri,

                     como um palhaço sentimental, comendo fogo

                                                                      num circo de cavalinhos.

E avança, feio e forte, na minha direcção.

 

Jogo-lhe o rifle á cara.

...E o monstro engole a Winchester, como se a arma fosse

                                                                                   – um pirolito !

“Que me restava, então? Morrer !

                           Morrer!... “quando este Mundo é um Paraizo!...”

E resolvi morrer de pé. Fiquei firme, o olhar duro, o coração

                                                                                 Tuco-tuco!

                                                                                 Tuco-tuco!

                                                                                 Tuco-tuco!

 

“O Mapinguary, estacando a dez passos, olhou-me

                                          alto

                                            a

                                          baixo,

Formaliza-se,

                    Perfila-se,

Como faz um recruta no exercício, em frente do sargento-instructor,

Commissionado no posto de

2.º Tenente,

Por serviços relevantes prestados á Legalidade...

E marcha esticadíssimo,

                             Marcialissimo,

                                          Na minha direção...

 

Fiz o Tom-Mix da Indifferença que espia de soslaio...

E á proporção que o bicho avança,

No seu passo-de-ganço ameaçador,

                                                               Eu berro, lembrando

                                                                        “O Alto”

                                                                               Um-dois! Um-dois!

 

Um-dois! Um...

 

“O Terror dos Seringueiros das Mattas do Rio das Amazonas,

Ouve a extranha voz, assusta-se e estaca,

                                                                      intrigando...

                                                                      Um-dois!...

                                                                            Um!...

E baixando o longo pêllo negro da pupila sobre o olho único,

Redondíssimo, que

Possue no

                                               meio

                                                 da

                                               testa,

Fica sem saber em que terra nasceu. Encabula !

 

Gloria ao Homem ! A melhor obra de cerâmica

Da Creação !...

                     Um-dois!

                                  Um-dois!

                                               Mapinguary inquieta!

                                                                                Um...

Dois-tres-quatro-cinco-seis...

                                              Mapinguary tremendo...

                                                                                 Dois

Um-dois ! Um-dois !

                            Mapinguary rodando nos pés redondos...

Um-dois-um-dous ! Um

                            Mapinguary entrando, com todos os diabos

Pela matta a dentro, derrubando as sumaumeiras,

                                                                    as castanheiras

                                                                    os taxizeiros

                                                                    os mulateiros,

Fazendo um estrepido de Fim de Mundo !

                                                                    Um-dois ! Uuum !

                                                                    Dôôôôôôis !

Oh ! vivam os meus suores frios da Alegria da Ressurreição !

                                                                    Uuuumm-Dôôôôôôis !

Conheceu, papudo ?

 

“Eu vi... Eu vi

                       o Mapinguary

                                            Hon ! Hon ! Hi ! Hi !”

 

... E o homem do tapery solitário mordeu o pedaço

De Lua que estava pendurado no Céu Amarello

                                                                      Da Terra-Verde...

 

Franco Cispeira



CISPEIRA, Franco in CLOS, Daioneta; SILVEIRA, Oldovar. O Homem que engoliu o próprio sonho. Manaus: Typographia da papelaria velho Lino Local, 1927. p. 13-18

Nota: o contexto do folheto é a passagem do escritor modernista Mário de Andrade, que esteve no Amazonas em 1927, na sua famosa viagem etnográfica pelo Brasil.