sexta-feira, 5 de junho de 2009

O POVO ACREANO

Océlio de Medeiros*

 

Sarapatel de tipos diferentes,

de raças e de sangues,

panelada da terra,

buchada ou maniçoba,

procede o povo do Acre da violência

da conquista da selva,

do domínio dos rios,

da ambição, da aventura.

Dos quatro cantos vieram várias levas

dos homens sem mulheres,

nortistas, nordestinos,

heróis do Paraguai,

foragidos do horror da Cabanagem,

da guerra de Canudos

e da maior das secas,

desde o devassamento.

Dos quatro cantos vieram logo atrás

dos homens da borracha

as caboclas e as brancas

para a rede das índias.

Os brabos e as mulheres que o seguiram,

as Donas do Ceará

e as Sinhás do Pará

abriram seringais.

Depois, quando a borracha foi pneu,

"polacas" foram polens,

sementes e matrizes,

que criaram raízes.

Foi assim que nasceu da descendência

da gente aventureira

o povo da fronteira

do noroeste acreano.

Nasceu mamando leite de seringa

e comendo borracha,

guerreando a Bolívia

e quebrando castanha.

 

Referência e sugestão:

MEDEIROS, Océlio de. Jamaxi: A Poesia do Acre. Rio de Janeiro: Arquimedes Edições, 1979.

 

* OCÉLIO DE MEDEIROS foi um dos intelectuais mais fantásticos e irreverentes que o Acre já teve. Nasceu em 1917 em Xapuri e faleceu em 2008. Escritor, poeta, professor, advogado e ex-deputado federal pelo Estado do Pará.

P.S. Estou lendo e pesquisando acerca de Océlio de Medeiros, assim que concluir estarei postando um pequeno artigo sobre esse grande humanista acreano.

Foto: Marcos Pasquim



Um comentário:

"Quando se sonha só, é apenas um sonho, mas quando se sonha com muitos, já é realidade. A utopia partilhada é a mola da história."
DOM HÉLDER CÂMARA


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