Chico da Silva
(1910 - 1985)
Chico da Silva. O que está por trás deste nome tão simples é a história daquele que é considerado o maior pintor de estilo primitivo do Brasil. E poucos sabem que a sua obra hoje se encontra nas principais coleções de arte do mundo – como na coleção da Rainha da Inglaterra. A seguir transcrevo o artigo de Cassandra de Castro Assis Gonçalves (bolsista IC-FAPESP) sobre o nosso Chico da Silva.
“Marcadas pelo talento, o acaso e a decadência, a vida e a obra de Chico da Silva são das mais intrigantes da História da Arte brasileira e também um retrato da falta de suporte por parte do governo e dos próprios artistas em oferecer a oportunidade de um grande artista, ainda que simples como Chico da Silva - analfabeto toda a vida - de se profissionalizar.
Francisco Domingos da Silva nasceu em 1910, às margens do “Alto Tejo” no Acre, e aos 10 anos veio para Pirambu, bairro pobre de Fortaleza-CE. Perdeu o pai logo cedo, passando então, a fazer todos os tipos de serviços - consertando sapato, fogão, cobrindo guarda chuva, etc. para sobreviver. Em suas muitas andanças pela cidade, Chico às vezes parava em frente a um muro branco e fazia desenhos com carvão ou tijolo, colorindo-os com folhas. Foram estes desenhos, na Praia Formosa, que chamaram a atenção do crítico de arte e pintor Jean-Pierre Chabloz que passou a procurá-lo e foi seu primeiro incentivador.
Chabloz ensinou Chico da Silva a pintar com guache e passou a dar o material para que ele pintasse, além de comprar todas as suas telas - comprou mais de 40. Foi por intermédio dele que Chico da Silva expôs sua arte, pela primeira vez, no III Salão Cearense de pintura e no Salão de Abril de 1943, em Fortaleza. Em 45, junto com outros artistas cearenses, expõe na Galeria Askanasy e, durante a década de 50, suas obras vão ser vistas em várias galerias da Europa, conseqüência de um artigo a seu respeito no CAHIERS D’ART, conceituada publicação francesa, que o considerou um pintor genuinamente primitivo.
Deslumbrado com o dinheiro e a fama, Chico da Silva passa a gastar com álcool e mulheres; atento à supervalorização dos seus quadros, quer produzir cada vez mais, e passa a recorrer a ajudantes, na verdade meninos e meninas que pintavam os quadros que ele só assinava - cerca de 90% dos quadros com data posterior a 72 eram falsos. A esta altura o artista estava cercado de aproveitadores que o exploravam, exigindo cada vez uma produção maior, vendendo quadros de Chico em mercados, feiras e até na porta de hotéis, por valores ínfimos.
Em meio a denúncias de falsificação, Chico da Silva é indicado para expor na XXXIII Bienal de Veneza (Itália), em 66, onde recebe Menção Honrosa. Chabloz, decepcionado com os rumos que artista e obra tomaram, rompe com ele em 69, afirmando em um artigo do Jornal do Brasil, intitulado Chico da Silva ou a ingenuidade perdida, que sua arte estava morta.
O processo de decadência do artista se agravara com a morte da mulher, Dalva, em 75, e tem seu ápice em 1976, quando foi internado com cirrose hepática e tuberculose crônica, permanecendo um ano no hospital. Mesmo se recuperando fisicamente, Chico continuou bebendo e jamais conseguiu recuperar sua arte. O maior artista primitivo do Brasil, que imprimia nas suas pinturas toda a mitologia da região amazônica realizava através de uma expressão quase surrealista, e que está representado nas maiores coleções do mundo - como a da Rainha da Inglaterra - nunca teve suporte para estruturar sua carreira, apenas incentivos isolados, que o jogou em um meio desconhecido que o deslumbrou e, dentro do qual, sem orientação, acabou por perder-se.”
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Algumas de suas obras:
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Fonte das imagens: MAUC
Obs: Não foi possível precisar o nome de cada obra, pois o site de onde foram retiradas, expirou.