Inês Lacerda Araújo
É comum pensar que a filosofia é inútil ou que há tantos conceitos de filosofia quantos são os filósofos.
Ok, digamos que isso esteja correto. Mas o que se deve entender por utilidade? A do martelo? A da receita culinária? A de um sinal de trânsito?
Neste sentido, a filosofia é inútil, contemplativa, pura reflexão, ideias que apenas servem para se ter novas e mais ideias. Eu costumava dizer aos meus alunos: tudo contitunuará tal como está, com ou sem a filosofia...
Então, para que filosofar? A filosofia é ensinadora, tem um uso na formação pessoal, alarga horizontes, sem ela não saberíamos como pensar as situações a partir de um ponto de vista menos comprometido com casos particulares, mais geral e mais aprofundado.
Quando se para (do verbo parar) para (preposição) pensar, surgem questões fundamentais, que a maioria dos filósofos fez e ainda faz: para que, por que, por que não, desde quando?
Algumas respostas são dadas pela ciência, outras pelas diversas religiões, e outras ficam sem resposta.
Ora, isso que acabei de escrever, é reflexão filosófica. A partir do momento histórico, na Antiga Grécia, em que pela razão são expostas dúvidas e perguntas, a narração mítica aos poucos cede lugar à reflexão dos primeiros filósofos.
Por exemplo, nos mitos se atribui aos deuses com suas iras, conflitos e lutas, a existência do cosmo. Os filósofos, pelo contrário, perguntam com sua própria cabeça, como tudo veio a ser?
E, ainda apenas pensando, refletindo, atribuem a origem a uma causa primeira, a um princípio geral, como o fogo, o ar, as partículas elementares.
Aos poucos a pergunta se deslocou para outras questões, como o que são as coisas que percebemos? São como as percebemos ou o que não percebemos é o que elas realmente são, isto é, sua essência?
A pergunta pela essência de todas as coisas dominou o cenário da história da filosofia até bem recentemente. Hoje as questões mudaram. Esse é um tema para a próxima postagem.
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** INÊS LACERDA ARAÚJO, filósofa, doutora em Estudos Linguísticos (UFPR), professora aposentada do departamento de filosofia da UFPR e do programa de Mestrado da PUC-PR. Autora dos livros: Do signo ao discurso: introdução à filosofia da linguagem; Foucault e a crítica do sujeito; Introdução à Filosofia da Ciência, dentre outros.