terça-feira, 27 de abril de 2010

O CONCEITO DE FILOSOFIA

Inês Lacerda Araújo


É comum pensar que a filosofia é inútil ou que há tantos conceitos de filosofia quantos são os filósofos.

Ok, digamos que isso esteja correto. Mas o que se deve entender por utilidade? A do martelo? A da receita culinária? A de um sinal de trânsito?

Neste sentido, a filosofia é inútil, contemplativa, pura reflexão, ideias que apenas servem para se ter novas e mais ideias. Eu costumava dizer aos meus alunos: tudo contitunuará tal como está, com ou sem a filosofia...

Então, para que filosofar? A filosofia é ensinadora, tem um uso na formação pessoal, alarga horizontes, sem ela não saberíamos como pensar as situações a partir de um ponto de vista menos comprometido com casos particulares, mais geral e mais aprofundado.

Quando se para (do verbo parar) para (preposição) pensar, surgem questões fundamentais, que a maioria dos filósofos fez e ainda faz: para que, por que, por que não, desde quando?

Algumas respostas são dadas pela ciência, outras pelas diversas religiões, e outras ficam sem resposta.

Ora, isso que acabei de escrever, é reflexão filosófica. A partir do momento histórico, na Antiga Grécia, em que pela razão são expostas dúvidas e perguntas, a narração mítica aos poucos cede lugar à reflexão dos primeiros filósofos.

Por exemplo, nos mitos se atribui aos deuses com suas iras, conflitos e lutas, a existência do cosmo. Os filósofos, pelo contrário, perguntam com sua própria cabeça, como tudo veio a ser?

E, ainda apenas pensando, refletindo, atribuem a origem a uma causa primeira, a um princípio geral, como o fogo, o ar, as partículas elementares.

Aos poucos a pergunta se deslocou para outras questões, como o que são as coisas que percebemos? São como as percebemos ou o que não percebemos é o que elas realmente são, isto é, sua essência?

A pergunta pela essência de todas as coisas dominou o cenário da história da filosofia até bem recentemente. Hoje as questões mudaram. Esse é um tema para a próxima postagem.

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** INÊS LACERDA ARAÚJO, filósofa, doutora em Estudos Linguísticos (UFPR), professora aposentada do departamento de filosofia da UFPR e do programa de Mestrado da PUC-PR. Autora dos livros: Do signo ao discurso: introdução à filosofia da linguagem; Foucault e a crítica do sujeito; Introdução à Filosofia da Ciência, dentre outros.

sábado, 10 de abril de 2010

GIBRAN KAHLIL GIBRAN

Há 79 anos, em 10 de abril de 1931, desfalecia o autor de "O Profeta", o poeta do belo e da arte, o libanês Gibran Kahlil Gibran. Como leitor e admirador de sua obra não poderia deixar de lembrar essa data e partilhar um pouco mais com vocês, amigos e amigas.

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Vim para dizer uma palavra e devo dizê-la agora. Mas se a morte me impedir, ela será dita pelo amanhã, porque o amanhã nunca deixa segredos no livro da Eternidade. Vim para viver na glória do Amor e na luz da Beleza, que são reflexos de Deus.

Estou aqui, vivendo, e não me podem extrair o usufruto da vida porque, através da minha palavra atuante, sobreviverei mesmo após a morte. Vim aqui para ser por todos e com todos, e o que faço hoje na minha solidão ecoará amanhã entre todos os homens.

O que digo hoje com apenas meu coração será dito amanhã por milhares de corações.

- Gibran Kahlil Gibran -
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Ele escreveu coisas maravilhosas, e sua literatura e arte ímpares espalharam-se, traduzidas por mais de 30 países. Gibran manteve sempre seu sublime e independente culto ao espírito e aos ditames da ética.
Gibran Kahlil Gibran, em 1896, com 13 anos.

Para aqueles que o leem pela primeira vez, pode-se acentuar que ele combina as mais elevadas e vívidas percepções da realidade espiritual com uma poesia adornada e absolutamente individual.

Sua originalidade e poder conquistaram a admiração e até mesmo o fervor de milhões de leitores, em dezenas de línguas. Gibran também conquista quase igual reputação como pintor. Seus desenhos e pinturas eram expostos periodicamente pelas metrópoles mundiais. Quando o grande Rodin quis que lhe pintassem o retrato, Gibran, que era comparado a ele e a William Blake, foi o artista escolhido.

No mundo ocidental, esse poeta, filósofo e artista chegou a ser chamado de "o Dante do século XX". Para seus admiradores do Oriente Médio, ele é o Amado Mestre.

Uma testemunha dos funerais de Gibran, realizados em 1931, descreveu-os como tendo sido "além da imaginação". Centenas de padres e líderes religiosos, representando cada uma das grandes seitas do Oriente, ampliavam com suas presenças a emoção da solenidade. Lá estavam sacerdotes e dignitários Maronitas, Católicos, Xiitas, Protestantes, Muçulmanos, Gregos Ortodoxos, Judeus, Sunitas, Druzos e outros.

E, para completar a reintegração de Gibran no seio da Igreja, ele foi enterrado numa gruta do Mosteiro de Mar Carkis, em Bsharri, no Líbano — a diocese de sua infância.

Seu túmulo transformou-se num lugar de peregrinação. Ao lado, o Comitê Nacional de Gibran edificou um museu onde são expostos algumas das suas belas telas e os seus livros em todas as línguas. Em cima do túmulo, esta simples inscrição: "Aqui, entre nós, dorme Gibran."

Mas lá, na verdade, dorme somente seu corpo. Sua alma, difundida nos seus livros, serve de guia a milhões de leitores na mais fascinante de todas as viagens: a que leva o homem das trevas do egoísmo e da cegueira ao esplendor do dom de si e da compreensão.

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sexta-feira, 9 de abril de 2010

O CONHECIMENTO PRÓPRIO

Gibran Kahlil Gibran


E um homem disse:
- Fala-nos do Conhecimento Próprio.
E ele respondeu dizendo:
- O vosso coração conhece em silêncio os segredos do dia e da noite.
Mas os vossos ouvidos esperam escutar o eco do conhecimento do coração.
Gostarias de conhecer por meio de palavras o que sempre conhecestes em pensamento.
Gostarias de tocar com os dedos o corpo nu dos vossos sonhos. E está bem que gosteis.
A fonte secreta da vossa alma deve brotar e correr murmurando para o mar.
E o tesouro das vossas profundezas infinitas que ser revelado aos vossos olhos.
Mas não há balança para pesar o vosso desconhecido tesouro.
E não procurais os abismos do vosso conhecimento com a vara ou som a sonda.
Porque o eu é um mar sem limites e sem medida.
Não digais:
- Achei a verdade mas antes:
- Achei uma verdade.
Não digais:
- Encontrei o caminho da alma
dizei antes:
- Encontrei a alma a andar no meu caminho.
Porque a alma pisa todos os caminhos.
A alma não anda sobre uma linha mas cresce como a cana.

A alma desdobra-se como lótus de inumeráveis pétalas