Na dança de corpos loucos
Me descobri menina, mulher...
Te encontrei criança, homem...
Como em cantigas de roda, giramos,
Levados, incoerentes.
Folhas levadas ao vento,
Insanos, inconsequentes.
No teu nome te encontro anjo,
No meu nome, encontro mar.
Anjo que sabe nadar
Nas entranhas do meu corpo.
Caiu de uma nuvem qualquer
Em um mar incandescente;
Formaram uma boa química.
Amor, Paixão, Tesão, Carência?
Não importa!
“Tá delícia, tá gostoso”,
“Que seja eterno enquanto dure”... p. 10
TEIA ASSASSINA
Beijo, fatal, tresloucado
Fatal, tresloucado, beijo
Tresloucado, beijo, fatal.
Teia maldita,
Eu, presa fácil,
Vulnerável,
Perdida.
Ah, cela assassina.
Sangue rompendo vasos,
Boca insaciável;
Afasta de mim esse cálice;
Veneno bendito e letal;
E deixa a vida morrendo,
Querendo,
Necessitando,
Desse teu beijo vital. p. 23
METAMORFOSE
Breve existência conturbada;
Breve nos amores,
Breve nas angústias.
Nada é eterno;
O ponto de partida,
O ponto de chegada,
Pura metamorfose;
E é o inesperado que nos impulsiona,
É o inesperado que nos faz querer o amanhã. p. 29
MEMÓRIAS
Na solidão do barraco,
Busco nos alfarrábios
De uma memória esquecida,
Alegria e inspiração,
Para a composição.
De poesias floridas,
Que possam servir de canção
Para o séquito de amantes
Perdidos na multidão.
Inspiração eu encontro,
Difícil é deixar fluir
O que falta no coração... p. 39
TÚMULO DE POEIRA
Ao pegar os alfarrábios
E reler coisas passadas,
Tu surgistes novamente.
Eu, que tentava enterrar
Em poeiras de gavetas
A dor que nem morta estava,
vi-a subir do túmulo
com toda força e vigor.
E como que, por vingança,
Entrou, espada afiada,
Varando o coração,
E banhei-me em líquido morno... p. 91
ARAÚJO, Marta. Mar de anjo. Rio Branco: Fundação Garibaldi Brasil, 1999.