Maria Zenaide de Souza Carvalho, a Zenaide Parteira, nasceu em Tarauacá-AC, neta de indígena Ashaninka. Viveu muitos anos em Marechal Thaumaturgo-AC. Vítima de violência sexual, mudou-se para Rio Branco-AC. Em seus 40 anos como parteira pelo interior do Acre, Maria Zenaide fez 306 partos. Em 2021, com a produção do grande Alexandre Anselmo, Zenaide lançou o primeiro CD, intitulado “Mulher vagalume”. Ela possui mais de quinhentas composições.
sábado, 23 de abril de 2022
sexta-feira, 22 de abril de 2022
DANILO DE S'ACRE: vernissage e lançamento de livro hoje no Memorial dos Autonomistas
Acontece, nesta sexta-feira, às 18h, no
Memorial dos Autonomistas, em Rio Branco-AC, a vernissage e o lançamento do
livro “Vestígios inversos” (editora Nepan, 2022), do artista visual acreano
Danilo de S’Acre, projeto aprovado pela lei Aldir Blanc.
“Vestígios inversos” é a terceira obra poética de Danilo de S’Acre nestes últimos três anos. Em 2020, publicou “Estilhaços”, também pela editora acreana Nepan; e, em 2021, “Fractais: abstrações poéticas em imagens diluídas”.
Danilo de S’Acre nasceu em Rio Branco-AC, no
ano de 1958. Desde 1974 passou a atuar nas artes visuais. Nestas quase cinco
décadas de atuação, o artista acumulou uma vasta experiência materializada em exposições
e pesquisas de visualidades, entre as quais, a pintura, o desenho, a performance,
a fotografia, a poesia e os filmes experimentais.
‘Vestígios inversos” é um dos livros mais belos
produzido nesses últimos anos no Acre. Segue, de certa forma, os vestígios de
suas obras anteriores, ao mesmo tempo, que está muito além. A capa é primorosa,
o que é uma verdade para toda a obra em si. São 131 poemas e 20 poemas-desenhos.
Arrisco a dizer que é o clássico, até o momento presente, de Danilo de S’Acre.
Danilo de S’Acre que é hoje uma das vozes mais
consolidadas do cenário artístico acreano. Sua obra singular, vanguardista e
inquietante, revela um artista que dialoga constantemente com o tempo. Daí
decorre, talvez, a pujança e a fertilidade de seu trabalho, marcante e
imprescindível no Acre em que vive.
segunda-feira, 18 de abril de 2022
MUNDURUCÂNIA: poemas de Homero de Miranda Leão
MUNDURUCÂNIA
Mundurucânia é a minha Terra. um dia
um povo altivo, de alma resoluta,
lança um brado de angústia e rebeldia
e marcha decidido para a luta...
Sua voz guerreira o grande vale escuta,
e eis que em breve história preludia;
e a brava gente, destemida e arguta,
para sempre a injustiça destruía...
Louvo-te, minha Terra, nestes versos
por onde, entre emoções, andam dispersos
meus sentimentos... Estes versos são
Alguma cousa do teu solo. O traço
que junta, pelo tempo e pelo espaço,
o meu ao teu vibrante coração! p. 47
O GUARANÁ
Cerêçáporanga
era a mais bela
da taba dos “Maués”...
Por isso aquela
afeição dos selvagens
que a resguardavam
muito mais que às suas irmãos...
Eis que surge, no
entanto, em seu caminho
um índio viril
e, de pronto,
violenta paixão
lhe irrompe
no coração...
Resistência tenaz
foi-lhe, porém, oposta
a essa união!...
Mas, Cerêçáporanga,
insubmissa,
resiste à opressão...
Foge, com o bem
amado!...
A tribo se levanta!...
Tambores vibram!
Índios, afoitos, percorrem
a selva
de flecha
à mão...
É s caça ao sedutor!...
Mas... ante o espanto
dos “Maués”,
do bando ante o torpor,
ao pé de velha árvore,
fulminados
por um raio certeiro,
dormiam, para sempre,
os dois enamorados...
E dos olhos de Cerêçáporanga,
tempos depois,
no solo verdejante
nascia o Guaraná...
E de seu amor
verdadeiro
– amor desfeito pela
sorte má –
ficou esta lenda
comovida,
que diz do amor e da
vida
dos “Maués”... p. 49-50
AJURICABA
Altivo e crepitante, indômito valente
sentindo dentro d’alma um resplendor de sóis,
tu foste a própria vida deste sangue ardente
que ilumina e fecunda esta raça de heróis...
cortando com nobreza a audácia do invasor
que tentava levar o teu irmão, jamais
voltaste sem trazer em tua fronte o fulgor
das conquistas febris, das conquistas reais...
Abatido, afinal, depois de luta insana
eis que reprimes ainda a cruel e tirana
mão que te ousa deter em amarga atrocidade...
E atirando-se ao rio – ampla baía revolta
sumiu-se a tua figura luminosa envolta
na martirização sem fim da LIBERDADE!...
p. 53
CATEDRAL DOS MEUS SONHOS
A André Araújo – grande
pelo
pensamento e pelo
coração
Na catedral magoada dos meus sonhos
vibram, chorando, os sinos da saudade...
Longe se vão os cânticos risonhos
das límpidas manhãs de alacridade...
Hoje, gemendo dentro a soledade
rezam o rosário da melancolia
E, como outrora, no festim da tarde
não mais arpejam em notas de poesia...
E oh! Catedral dos sonhos meus doirados
que iluminaste o meu cantar de moço
entre o esplendor de líricos noivados,
Como estás triste, como estás dorida!
Não mais em ti o íntimo alvoroço
dos teus cantos de amor na minha vida. p. 58
MEU CANTO
(Ao acadêmico Pe. R.
Nonato Pinheiro,
fulgor das letras Amazônicas)
Eu faço versos como quem respira!
Da sístole e diástole da vida
minh’alma inquieta e sôfrega retira
a palavra no tempo prometida...
Plúmbleo que seja o céu ou de safira
eu me deslumbro, irmão, e sobre a terra
lanço meu canto em cuja voz se encerra
a pureza do sonho em que delira...
Olho os lírios do campo, olho as estrelas,
as rosas dos jardins que pra colhê-las
antes me curvo em genuflexão...
Meus versos falam pelas cicatrizes
das dores mudas, pelos infelizes
que têm fome de amor, de luz e pão!... p. 114
VITAE
Nós morremos, irmão, a cada instante!
E a cada instante há uma ressurreição.
Se temos hoje u’a hora de diamante
teremos o amanhã só de aflição...
E em meio desse amor e transição
pensamos nos mais rútilos castelos.
Sonhos atormentados, sonhos belos
erguendo e derrubando o coração!...
E nessa mutação pelo destino
imposto, nossas vidas vão correndo,
ora em paz, ora em triste desatino...
Há sempre em nós uma ilusão querida!
Mas por ela também vamos morrendo
num sabor de chegada e de partida... p. 162
LEÃO, Homero de Miranda. Mundurucânia: poemas.
2ª ed. Fortaleza: Imprensa Universitária da Universidade Federal do Ceará, 1988.
Homero de Miranda Leão.
Arquivo da família
Homero de Miranda Leão, poeta e político amazonense. Nasceu em Maués-AM, em 01 de janeiro de 1913, filho de Manuel José de Miranda Leão e Eponina Martins de Miranda Leão, casou-se com a Sra. Letícia Faraco de Miranda Leão com quem teve seis filhos. Faleceu em Manaus, em 08 de agosto de 1987. A primeira edição de “Mundurucânia” saiu em 1960, pela Sérgio Cardoso Editores.
quarta-feira, 13 de abril de 2022
PORTAIS: poemas de Moacir Andrade
MANSA PROCURA
Para meu irmão Eurico Alves
Vejo a folha cair como uma sombra
e o silêncio inventar seu canto triste
na flauta abstrata desta tarde.
Corcéis de sons e cores transmutando
a insânia azul que roça a minha imagem
como um toque de líquida penumbra.
Assim me vejo – gestos transparentes
mansa procura gotejando esperas
nesse calmo sussurro de visagens
que se inquilinam frios e mansos nos meus
ossos.
Essa torpe visão me acena
é um absurdo Fantasma de pranto extravasado
como o impossível gesto de uma estátua.
Mesmo assim eu caminho, lentamente,
sobre este chão de líquidas lembranças
de inconcebíveis expectativas. p. 32
PEIXE-PÃO
Para a grandeza espiritual e humanista
de Roberto Tadros
As escamas pulam como estrelas
sob o gume da faca afiada
despertando o cheiro de pitiú
do jaraqui agora véspera
do caldo verde e grosso, com chicórias
pimenta-murupi e cheiro-verde.
O peixe se despe de sua roupa de malhas:
ticado, em postas, participa
do prato com farinha, coentro e cebolinha.
Pão do rio, pão do pobre,
bailarino aquático, sempre pronto
à armadilha de um anzol ou
ao abraço de uma rede de pescador marupiara,
Não mais as algas verde-escuras
dos igapós, nem os pulos acrobáticos
acordando astros no rio Solimões,
nem os repiquetes enchendo de ventos frios,
ou chuvas hibernais tecendo véus de sons e
sonhos
no palco de uma mesa – o peixe brilha sob os
olhos
e a fome.
Fora da vida é vida, é mesa farta. p. 37
BARCOS – I
Para Nilton Lins
Estes meus barcos são visões fantásticas
desfilando distâncias e horizontes;
com dorso inflado de mistério e sonhos,
como teatro mundos flutuando,
constroem malabarismos de ilusões.
Universo marítimo de rumos,
errantes naus que o vento acaricia,
entranhas vivas de horas e emoções,
imorredouro painel de pátrias.
Nômade altar, divino excalibur,
estrela solitária em mar pousada.
Oh! Albatroz de asas decepadas
sobre o mar a vida confinando.
Teu lar é longe, é a líquida miragem
e a superfície do mar te amparando.
Gaivota dos mares de martírio e medo,
teus marujos, intrépidos guerreiros
se confundem contigo no teu fado,
no bojo de ouro das manhãs e ocasos
como canções de quilhas navegando.
Benditos barcos de prata dos luares,
do fogo-de-santelmo de alvoradas,
dos pescadores de velas retesadas,
dos remadores de matas afogadas
e de segredos em sonhos embalados.
Barcos da Amazônia agigantada,
dos rios, lagos, paranás e furos,
barcos heróis de históricas memórias,
construtores de pátrias e de povos,
de longas travessias malogradas,
de partidas e esperas desejadas,
de lendas mil em almas divulgadas.
Barcos veleiros dos descobridores,
naufragados barcos em noites ancorados,
barcos fantasmas nos mitos povoados,
nas bocas e corações ressuscitados
e em saudades eternas relembrados.
Eu te bendigo, barco navegante,
irmão da solidão do espaço infindo.
Bendigo teus mastros apontando os céus
como orações materializadas.
Bendigo o leme, irmão do teu destino,
todos os portos onde tens andado.
Bendigo as partidas e as chegadas.
Bendigo o teu convés, um livro aberto
de heroicas e lendárias descobertas,
registro inapelável de mistérios.
Todo o teu corpo é um abraço terno,
hinário sacrossanto de canções,
magnetismo de imaginação.
No teu longo apito há um grave apelo
e a leve sensação de um nunca mais.
Ninho de amor por homens tripulado,
nave de destinos desiguais
tatuando no líquido caminho
a imagem de saudade do teu cais. p. 42-43
BARCOS – II
Nesta noite
várias figuras e barcos me deslizam
sem ruído sem cor e sem murmúrios
como flocos de nuvens esculpindo
um teatro de lendas e canções sem vozes.
Nesta noite
me voltam, compassadas de ternura,
visagens frias
no reencontro de apenas um veleiro
– navegantes do ontem inesquecível
onde me encontro em restos de outrora
veladas confissões de estrelas e manhãs.
Nesta noite
não sei se ouço, sinto ou mesmo sonho,
só sei que em sentimento me proponho
velar no meu silêncio estas visões.
E vejo e sinto e ouço e paro
no limiar do eu e o nada,
porque o menino há muito já se foi
e no rio Solimões, que a sede aplaca,
eu vejo a infância em transe retornando
com seu filão de ouro e de venturas.
E no voo silente dos meus versos.
a embalsamada infância se refaz
como cristais de orvalhos das manhãs.
Beiradão do rio Solimões. p. 44
OUTONO
Para a menina de ontem Maria Elba dos Santos
Uma folha, outra folha,
e no espaço desprendidas, açoitadas pela brisa,
rodopiam em acenos de saudade – as folhas
mortas.
As folhas que foram sombras de conforto e de
alento,
as folhas, que foram abóbadas de sonho e,
agora,
amarelecidas e soltas,
são pontos vagabundos de saudade.
Folhas mortas, folhas fugidias,
multidão de folhas esquecidas.
Como as folhas que o outono impiedosamente
abate,
o meu coração é um pedaço da ilusão que míngua,
cada vez que as folhas se cobrem de orvalhos.
Árvore desnuda, não chores as tuas folhas idas.
Outras folhas virão,
te cobrirão de milhões de folhas, verdejantes,
farfalhantes, buliçosas, primaveris.
E o meu coração que não tem folhas
chora a saudade das folhas que não vêm. p. 84
ANDRADE, Moacir. Portais. Manaus: Editora
Valer, 2008.
Moacir Andrade. Foto: Robervaldo Rocha
Moacir Couto de Andrade nasceu em Manaus-AM, em
17 de março de 1927, onde também faleceu, em 27 de julho de 2016. Artista
plástico, desenhista, escritor e poeta. Em 9 de abril de 1952 realizou a sua
primeira mostra individual, no peristilo da Escola Técnica Federal do Amazonas.
Foi também professor de Educação Artística na antiga Universidade do Amazonas
(UA), Escola Técnica Federal, Colégio Estadual e no Colégio Militar. Um dos
fundadores do Clube da Madrugada, em 1954. Pertenceu, ainda, à Academia
Amazonense de Letras. Escreveu os livros: Alguns Aspectos da Antropologia
Cultural do Amazonas (1978); Amazônia: a Esfinge do Terceiro Milênio
(1981); Manaus: Monumentos, Hábitos e Costumes (1982); Tipos e
Utilidades dos Veículos de Transportes Fluviais do Amazonas (1983); Manaus:
Ruas, Fachadas e Varandas (1985); Nheengaré: ou Poranduba dos Dabacuris
(1985); Pratos, Lendas, Estórias e Superstição de alguns Peixes do Amazonas:
Folclore do Peixe do Amazonas (1988); Moacir Andrade
(autobiográfico, 1992); Antologia
Biográfica de Personalidades Ilustres do Amazonas
(1995); Colégio Santa Dorotéia: 1910 a 1995 (1995); 100 Anos de
Arquitetura (1996); Acontecimentos
de um Amazonas
de Ontem (2006); Portais (poesia, 2008); Vida e Obra: 66
anos de História e Paixão pelas Artes Plásticas (2008); Segredo dos
Silêncios: Cantigas de Ninar e Roda (2012); Histórias, costumes e
tragédias dos barcos do Amazonas (2012); Desenhos: Memória e Testemunho
(2012); Inventário dos Sonhos (poesia, 2014).
terça-feira, 12 de abril de 2022
DIEGO MENDES SOUSA: dois poemas de Rosa numinosa (2022)
GESTA DO PANTEMPO
“Quero é perder-me no mundo
Para fugir do mundo.”
Augusto Frederico Schmidt
No fundo,
é tédio.
O desespero
como companheiro,
a tarde desata
os seus tons
de róseo
e cinza.
Morre
dentro de mim,
o velho poeta passadista,
que padece
da dor
dos precipícios amargos
e demasiadamente
violentos.
A vertigem
do tempo
é uma
sombra
paralítica
a rir dos frágeis
gestos
da testemunha
irrevelada.
Trago nos olhos,
a tristeza
das voragens,
uma certa melancolia
acesa,
travada
nos arreios adormecidos
da infância,
que ultrapassa
a existência,
por ser repositório
de saudades
e eternidades
infindas.
O sonho
é uma bile negra,
o rastro das descobertas
sem propósitos aparentes.
Digo muito
das telhas
despencadas,
dos mistérios
que dormem
nos anseios
dos pássaros
insulares.
Comovo-me
com palavras felizes:
girassol, campo, andorinha,
céu, riacho, relva,
cavalo, boi, arado…
E mais alguma
procela
de pantempo
que move
o presságio.
O corcel
do universo
é amarelo
e vagueia
em seu abismo
de imagens.
O que tenho?
Miro a fonte
dos segredos.
A poesia é fuga…
Um partir desorientado
a seguir o rumo
do desencontro…
Correm fantasmas
nas noites
que clareiam
a alma
pé ante pé
na arribação
do cosmos
na agonia
que transcende
as velas
espantadas
do passado…
Cruzeiro do Sul (AC), Amazônia, 05 de abril de 2020.
ISOLAMENTO
“vamos dar vazão a toda essa dor,
porque se o fizermos juntos,
poderemos suportá-la.”
Concita de Gregorio
palavra nenhuma
suporta
a dor da solidão.
declaro o nome
dos meus mortos
no tempo
e trago para mim
a sílaba etérea
dos seus sonhos.
isolo os cravos
no crepúsculo,
porque sei
da porta
escura
da hora
seguinte.
só morrerei
na noite
em que estacado,
o meu coração
desistir de mim.
não posso
coexistir
mitigado
e desprovido
de amor.
quem poderá?
quem sobreviverá
ao fogo solitário
da vida
que preserva
o mistério
e a ironia
do não ser?
à distância,
prego o que sofro,
já que
no sofrimento
posso alegrar
o meu próprio fim.
ao norte do mar
da minha vida,
longe das areias
que perfuraram
os meus pés,
choro às escondidas.
poeta, pretérito do futuro,
o futuro no passado largo,
quem poderá
unir a alma
aos sussurros inaudíveis
do tempo?
quem poderá
escutar a beleza de um poema
quando tudo
for escuridão?
quem ainda terá rosto
para exprimir o atônito
negrume de uma
desesperança?
Cruzeiro do Sul (AC), Amazônia, 31 de março de 2020.
Poemas extraídos do livro Rosa numinosa (2022), de Diego Mendes Sousa.
Diego Mendes Sousa é natural de Parnaíba, no litoral
do Piauí. Poeta, jornalista, advogado, indigenista, com atuação em Cruzeiro do
Sul, vale do Juruá, Acre. É autor de Divagações (2006); Metafísica do
Encanto (2008); 50 Poemas Escolhidos pelo Autor (2010); Fogo de
Alabastro (2011); Candelabro de Álamo (2012); Alma Litorânea
(2014); Coração Costeiro (2016); O Viajor de Altaíba (2019); Gravidade
das Xananas (2019); Tinteiros da Casa e do Coração Desertos (2019); Velas
Náufragas (2019); Fanais dos Verdes Luzeiros (2019) e Rosa Numinosa
(2022).
Para adquirir os livros, acesse:
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terça-feira, 5 de abril de 2022
TRÊS POEMAS DE MÁRCIO COSTA
Cavalos nos sonhos,
sonâmbulos, adeptos.
Galopes continuados,
sons de aspectos
cinematográficos.
Glóbulos gigantes,
animalescos, de esguelha.
Uma procura silenciosa,
esconder-se, esquivar-se
sem teto, entregue.
Uma ruptura de som
de soluço, às três
da manhã, um corpo
macio e sem flor.
Jornada mortificada,
dentro do cérebro,
pisada macia e sons
de passos em folhas
secas. Cavalos
sonâmbulos, interstício
provisório de carbono
em matéria mínima,
decompondo-se
com o tempo.
Prolongando-se
com os sonhos.
ERROS
Durante a noite o poeta
comete pequenos erros de criação.
Por vezes peguei-me
jogando cartas e poemas amassados
quando deveria guardá-los arquivados.
Outras peguei-me
entre relatos e vozes usadas
quando deveria estar
entre corpos e olhos
de mulheres de verdade.
Na última, a mais grave, peguei-me
com corda e trave na mão
para morrer enforcado
quando deveria ter encontrado
o caos abismo do meu silêncio
e me precipitado.
ANTÍDOTO
Preocupado com o salto
no abismo
condicionei alguns preparativos
ao inesperado.
Nada de suicídios antes de dormir.
Nada de expectativas ao acordar.
Evite fragmentos de qualquer espécie.
Não encare olhos que pareçam excessivamente
trêmulos e profundos.
Se dizer palavras
as diga de esguelha.
Se enfrentar a multidão
pessoas podem ferir quando feridas
e o amor pode não existir
quando parecer mais vivo.
COSTA, Márcio. Cavalos sonâmbulos. São Paulo:
Fábrica de cânones, 2021. p. 18, 30 e 51
________________________
Márcio Costa é poeta acreano, natural de Sena
Madureira, mas residente em Rio Branco-AC. Advogado e sociólogo, formado pela
Universidade Federal do Acre. Iniciou na poesia com o livro “Deserto provisório”
(Edufac, 2008).
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