Tradução e seleção:
André Caramuru Aubert
(do Jornal RASCUNHO)
Nascido na
Martinica, em família negra de classe média-baixa, Aimé Césaire (1913-2008)
foi, acima de tudo, um gênio. Poeta, ensaísta, dramaturgo e político, tudo ao
mesmo tempo. Defensor das causas anticolonialistas e dos direitos dos negros,
além de ser um dos criadores do conceito de negritude, Césaire foi grande, e
inovador, em tudo o que fez.
Apesar da infância
pobre, acabou ganhando uma bolsa de estudos, excelente aluno que era, para a
prestigiosa École Normale Supérieure, em Paris, onde, enquanto recebia uma
formação rigorosa em cultura clássica, começou a escrever seus poemas. Logo se
ligou, por afinidade estética e política, ao movimento surrealista, e teve em
André Breton primeiro um guru e depois um admirador. Com a guerra e a invasão
nazista, Césaire voltou para a Martinica. A partir de então, sua vida seria um
eterno ir e vir, e num sentido não apenas espacial: ela também oscilaria entre
a política e a escrita, para ele naturalmente interligadas.
Será que se
poderia, então, classificar a poesia de Césaire como política? Sim, mas no
melhor sentido da palavra, porque ela reflete, com intenso lirismo, todos os
problemas que afligiam o autor, e estes problemas, em boa parte, eram
políticos. Ao mesmo tempo, Césaire era culto ao extremo, rigoroso com a forma e
um mestre do ritmo (ele adorava o recurso de repetição de palavras). Não se
espere, nesta obra, clareza e simplicidade: não se trata de poesia fácil, nem
de ler e muito menos de traduzir. Os ecos do surrealismo dos anos de formação
estarão sempre presentes, em construções sintáticas complexas e muitas vezes
obscuras, além de um sem-fim de citações eruditas. Da poesia de Césaire,
pode-se talvez generalizar o que Lilian Pestre de Almeida escreveu a respeito
do Cahier d’un Retour au Pays Natal:
ela é uma “viagem temporal e espacial, simbólica e mítica”.
Da obra lírica de
Aimé Césaire, foram publicados no Brasil o Cahier…,
um longo poema com trechos em prosa traduzido por Lilian P. de Almeida (Diário de um retorno ao país natal,
Edusp, 2012), e uma pequena, mas excelente coletânea dedicada a poemas mais
curtos, chamada Poemas, com tradução de Nelson Ubaldo e Péricles Prade (Letras
Contemporâneas, 2006), além de aparições esporádicas em revistas literárias e
sites de poesia. Mas, diante da vasta produção de Césaire, isso é muito pouco.
Para a presente seleção, priorizei naturalmente os poemas curtos, sem me
preocupar com ordem cronológica, e evitei os já publicados por Ubaldo e Prade
(exceto por um caso, Blues de la plue,
que é dos que mais gosto, e para o qual arrisquei nova tradução).
LA
ROUE
La
roue est la plus belle découverte de l’homme et la seule
il
y a la soleil qui tourne
il
y a la terre qui tourne
il
y a ton visage qui tourne sur l’essieu do ton cou quand te pleures
mais
vous minutes n’enrolerez-voux pas sur la bobine à vivre
le
sang lapé
l’art
de souffrir aiguisé comme des moignons d’arbre par les couteaux de l’hiver
la
biche saoule de ne pas boire
qui me pose sur la margelle inattendue ton
visage de goélette démâtée
ton visage
comme un village endormi au fond d’un lac
et
qui renait au jour de l’hérbe et de l’année
germe
A RODA
A roda é a mais
bela descoberta humana e a única
há o sol que gira
há a terra que gira
há o seu rosto que
gira sobre o eixo de seu pescoço quando você chora
mas seus minutos
não se enrolarão em seu carretel para viver
o sangue polido
a arte de sofrer
afiada nos troncos das árvores pelas facas do inverno
a corça embriagada
por não beber
que na beirada do
poço inesperadamente me apresenta o seu
rosto de escuna sem
os mastros
seu rosto
como uma vila
dormente no fundo de um lago
e que renasce à luz
do dia, dos pastos e do ano
germina
PRÉSENCE
tout
um mai de canéficiers
sur
la poitrine de pur hoquet
d’une
île adultère de site
chair
qui soi prise de soi-même vendange
O
lente entre les dacites
pincée
d’oiseaux qu’attise um vent
où passent fondues les chutes du temps
la pur foison d’um rare miracle
dans l’orage toujours crédule
d’une
saison évasive
PRESENÇA
todo um maio de
canafístulas
sobre o peito de
puro soluço
de uma ilha
adúltera de lugar
carne que tendo
possuído a si mesma colhe suas vindimas
Ó lentidão entre os
dacitos
uma pitada de
pássaros espalhada pelo vento
na qual as
cataratas do tempo passam misturadas
a pura profusão de
um raro milagre
na tempestade
sempre crédula
de uma não evasiva
estação
AN NEUF
Les hommes ont taillé dans leurs tourments une fleur
qui’ls ont juchée sur les hauts plateux de leur face
la faim leur fait un dais
une image si dissout dans leus dernière larme
ils ont bu jusqu’à l’horreur féroce
les monstres rhythmés par les écumes
En ce temps-là
il y eut une
inoubliable
métamorphose
le
chevaux ruaient un peu de rêve sur les sabots
de
gros nuages d’incendie s’arrondirent em champignon
son toutes les places publiques
ce fut um peste merveielleuse
sur le trottoir les moindres réverbères tournaient
leur tête de phare
quant à l’avenir anophèle vapeur brûlante is sifflait
dans les jardins
En ce temps-là
le mot ondée
et le mot sol meuble
le mot aube
et le mot copeaux
conspirèrent
pour la première fois
ANO NOVO
Os homens
entalharam em seus tormentos uma flor
que eles
empoleiraram no mais alto planalto de suas faces
a fome fez para
eles um dossel
uma imagem se
dissolve em sua derradeira lágrima
eles beberam até o
horror feroz
os monstros
ritmados pelas espumas
Naquele tempo
havia uma
inesquecível
metamorfose
os cavalos
cultivavam alguns sonhos em seus cascos
pesadas nuvens
ardentes se espalhavam como um cogumelo
sobre todos os
locais públicos
aquilo foi uma
peste maravilhosa
sobre as calçadas
os menores lampiões giravam suas cabeças de farol
quanto ao futuro
mosquito vapor tórrido assobiava pelos jardins
Naquele tempo
a palavra chuvarada
e a palavra chão
móvel
a palavra alvorecer
e a palavra
limalhas
conspiraram pela
primeira vez
QUELCONQUE
Quelconque
le gâteau de la nuit décoré de peitites bougies faites de lucioles
quelconque
une rangée de palmiers à éventer mês pensées les mieux tues
quelconque
le plat du ciel servi par des mages em drap de piment rouge
quelconque
la jeune main verte du poinsettia se crispant hors de ses gants à massacre
Espoir
Espoir
lorsque
la vague déroule son paquet de lianes de toute odeur
et
toutes les lance au cou de chevaux bigles
lorsque
l’anse développe as crinière de sel godronnée au plus rare amidon d’algues e de
poissons
Espoir plane Grand Duc
danse Espoire et piétine et crie parmi les attentions
charmantes des remoras et le beuglement neuf
qu’ément
le caïman à l’imminence d’un tremblement de terre
BANAL
Banal o bolo da
noite decorado com pequenas velas feitas de vaga-lumes
banal uma fileira
de palmeiras para soprar meus mais secretos pensamentos
banal o prato do
céu servido por magos vestidos de pimenta vermelha
banal a jovem verde
mão da poinsétia endurecendo-se para fora de suas luvas de massacre
Esperança Esperança
quando a onda
desenrola seu cacho de cipós de todos os odores
e lança-os todos em
volta dos pescoços dos cavalos vesgos
quando a angra
exibe sua crina de sal sulcada com o mais precioso amido das algas e dos peixes
Esperança paira no
ar a coruja Bufo-real
dança Esperança e
bate os pés e grita em meio a atenção encantadora das rêmoras e o mugido fresco
que emite o
crocodilo na iminência de um terremoto
LA
PAROLE AUX OURICOUS
Où
quand comment d’où pourquoi oui pourquoi pourquoi pourquoi se peut-il que les
langues les plus scélerates n’aient inventé que si peu des crocs à pendre ou
suspendre le destin
Arrêtez cet homme innocent. Tous de leurre. Il porte
mon sang sur les épaules. Il porte mon sang dans les souliers. Il colporte mon
sang dans son nez. Mort aux contrebandiers. Les frontières sont fremées.
Ni su ni insu
tous
dieu merci mon couer est plus sec que l’harmattan,
toute obscurité m’est proie
toute obscurité m’est due de toute bombe joie.
Vous
oricous à vos postes de tournoiment et de bec audessus de la forêt et jusqu’à
la caverne dont la porte est um triangle
dont le gardien est um chien
dont la vie est un calice
dont la vierge est un araignée
dont le sillage rare est un lac à se mettre debout sur
les chemins de déchant des nixes orageuses
A PALAVRA AOS
ABUTRES
Onde quando como de
onde por que sim por que por que por que é que as línguas mais celeradas não
inventaram mais do que alguns ganchos para pendurar ou suspender o destino
Prendam este homem
inocente. Todos de enganação. Ele leva meu sangue em seus ombros. Ele leva meu
sangue em seus sapatos. Ele anuncia meu sangue em seu nariz. Morte aos
contrabandistas. As fronteiras estão fechadas.
Nem os que se
conhecem e nem os que se desconhecem
todos
obrigado deus meu
coração está mais seco que o Harmatã,
toda treva é minha
presa
toda treva me é
devida e toda bomba minha alegria.
Vós abutres em seus
postos de rodopios e de bicar acima da floresta e tão longe quanto é a caverna
cuja porta é um triângulo
onde o guardião é
um cão
onde a vida é um
cálice
onde a virgem é uma
aranha
onde o rastro
precioso é um lago que se destaca nos caminhos descendentes das tempestuosas
nixes
MAGIQUE
avec
une léche de ciel sur un quignon de terre
vous
bêtes qui sifflez sur le visage de cette morte
vous
libres fougères parmi les roches assassines
à
l’extreme de l’île parmi les conques trop vastes pour le destin
lorsque
midi colle se mauvais timbres sur les plis tempétieux de la louve
hors
cadre de science nulle
et
la bouche aux parois du nid suffète des îles englouties comme um sou
avec
une léche de ciel sur un quignon de terre
prophète
des îles oublièes comme um sou
sans sommeil sans veille sans doigts sans palancre
quand
la tornade passe tongeur du pain des cases
vous
bêtes qui sifflez sur la visage de cette morte
la
belle once de la luxure et la coquille operculée
mol
glissement des grains de l’été que nous fûmes
belles
chairs à transpercer du trident des aras
lorsque
les étoiles chancelières de cinq branches
trèfles
au ciel comme des gouttes de lait chu
réajustent
um dieu noir mal né de son tonnerre
MÁGICA
com uma borra de
céu sobre um quinhão de terra
vocês bestas
assobiando sobre a face desta morta
vocês samambaias
livres entre as rochas assassinas
na extremidade de
uma ilha entre conchas por demais vastas para o destino delas
quando o meio-dia
cola seus selos errados nas tempestuosas dobras da loba
para além dos
domínios da ciência inútil
e a soca contra as
paredes do ninho que o magistrado das ilhas engoliu como um níquel
com uma borra de
céu sobre um quinhão de terra
profeta das ilhas
esquecidas como um níquel
sem dormir sem
acordar sem dedos sem redes
quando o tornado
passa roedor do pão das cabanas
vocês bestas
assobiando sobre a face desta morta
a bela onça da
luxúria e a concha operculada
frouxa corda dos
grãos do verão que nós fumamos
belas carnes a
serem pregadas pelo tridente das araras
quando as
estrelas-chanceler de cinco pontas
trevos no céu como
gotas de leite derramado
restauram um deus
negro mal-nascido de seu trovão
ALLURE
O montagnes ô dolomies coeur d’oiseau sous men mains
d’enfant
ô icebergs ô revenants vieux dieux scellés en pleine
gloire
et
quand même autour du feu à trois pierres couronné d’um cercle
vibrant
de tipules
um
étang pour les noyés se renouvelle
province
des morts vous heurtez em vain la rotation des routes
où
le spectacle passe du palier des flammes vertes à la tranche de maléfices
allure
combats avec moi je porte la tiare solaire
gong
décuple la prison dont les combats d’animaux expérimentent
les
voix des hommes conservés dans la pétrification des forêts de mille ans
ma
chère penchons sur les filons géologiques
MARCHA
Ó montanhas ó
dolomitos coração de pássaro em minhas mãos de criança
ó icebergs ó
fantasmas velhos deuses selados em plena glória
e mesmo quando em volta do fogo há três pedras coroadas por
um círculo
vibrante de típulas
uma lagoa para que
os afogados se renovem
província dos
mortos vocês batem em vão contra a rotação das estradas
onde o espetáculo
passa do nível das chamas verdes para a borda dos malefícios
a marcha combate
comigo eu porto a tiara solar
o gongo multiplica
a prisão onde animais combatem experimentando
as vozes dos homens
conservadas na petrificação das florestas de mil anos
minha querida nos
curvemos sobre as nervuras geológicas
ENTRE
AUTRES MASSACRES
De
toutes leurs forces le soleil et la lune s’entrechoquent
les étoiles tombent comme des témoins trop mûrs
et comme une portée de souris grises
ne crains rien apprête tes grosses eaux
qui
si bien emportent la berge des miroirs
ils
ont mis de la boue sur mês yeux
et
vois je vois terriblement je vois
de
toutes les montagnes de toutes les îles
il
ne reste plus rien que les quelques mauvais chicots
de
l’impénitente salive de la mer
ENTRE OUTROS
MASSACRES
Com todas as suas
forças o sol e a lua colidem
as estrelas caem
como testemunhas apodrecendo
e como uma ninhada
de ratos cinzentos
medo algum prepara
suas águas altas
que tão facilmente
removem o banco de espelhos
eles jogaram lama
por sobre meus olhos
e vejo eu vejo
terrivelmente eu vejo
de todas as montanhas
de todas as ilhas
nada deixado a
salvo os poucos dentes podres
da impenitente
saliva do mar
MILLIBARS
DE L’ORAGE
N’apaisons pas de jour et sortons la face nue
face aux pays inconnus qui coupent aux oiseaux leur
sifflet
le guet-apens s’ouvre le long d’un bruit de confins de
planètes
ne fais pas attention aux chenilles qui tissent souple
mais seulement aux millibars qui si plantent dans le
mille d’un orage
à déliver l’espace où se hérissent le coeur des choses
et la venue de l’homme
Rêve
n’apaisons pas
parmi
les clous de chevaux fous
um
bruit de larmes qui tâtonne vers l’aile immense des paupières
MILIBARES DA
TEMPESTADE
Não aplaquemos o
dia e saiamos com as faces expostas
encarando os países
desconhecidos que extraem das asas dos pássaros seus
assobios
a emboscada se abre
ao longo do ruído dos confins dos planetas
sem prestar atenção
à maleável tessitura das lagartas
mas somente aos
milibares que plantam no olho de uma tempestade
a liberar o espaço
onde se eriçam o coração das coisas e o advento do homem
Sonho não aplaca
entre os pregos de
cavalos enlouquecidos
um som de lágrimas
que tateia em busca da imensa asa das pálpebras
ODE
A LA GUINÉE
Et par le soleil installant sous ma peau une usine de
force et d’aigles
et
par le vent sur ma force de dent de sel compliquant ses passes les mieux sues
et
par le noir le long des mes muscles en douces insolences de sèves montant
et
par la femme couchée comme un montagne descellée et sucée par les lianes
et
par la femme au cadastre mal connu où le jour et la nuit jouent à la mourre des
eaux de source et des maétaux rares
et
par le feu de la femme où je cherche le chemin des fougéres et du Fouta-Djallon
et
par la femme fermée sur la nostalgie s’ouvrant
JE
TE SALUE
Guinée
dont les pluies fracassent du haut grumeleux des volcans um sacrifice de vaches
pour mille faims et soifs d’enfants dénaturés
Guinée
de ton cri de ta main de ta patience
il nous reste toujours des terres arbitraires
et
quand tué vers Ophir ils m’auront jamais muet
de
mes dents et de ma peau que l’on fasse
um
fétiche féroce gardien du mauvais oeil
comme
m’ebranle me frappe et de dévore ton solstice
em
chaucun de tes pas Guinée
muette
em moi-même d’une profondeur astrale de méduses
ODE À GUINÉ
E sob o sol instalando
sob minha pele uma usina de força e de águias
e pelo vento sobre
minha força de dente de sal elaborando seus passes melhor
sabidos
e pelo negro ao
longo de meus músculos em doces insolências de seivas
saborosas
e pela mulher
deitada como uma montanha desarreada e absorvida pelos cipós
e pela mulher com o
cadastro mal conhecido onde dia e noite jogam a morra das águas das nascentes e
dos metais preciosos
e pelo fogo da
mulher onde eu procuro o caminho das samambaias e de Fouta-Djallon
e pela mulher
fechada que pela nostalgia se abre
EU TE SAÚDO
Guiné cujas chuvas
estraçalhadas do alto coagulado dos vulcões fazem um sacrifício de vacas para
mil fomes e sedes de crianças desnaturadas
Guiné de teu berro
de tua mão de tua paciência
ainda nos resta
hoje terras arbitrárias
e quando morto em
Ofir eles não me farão mudo jamais
de meus dentes e de
minha pele deixe que façam
um fetiche feroz
guardião contra o mau-olhado
como me chacoalha
me bate me devora o teu solstício
em cada um de teus
passos Guiné
emudecida em mim
com uma profundeza astral de medusas
SOLEIL ET EAU
Mon eau n’écoute pas
mon eau chante comme um secret
Mon eau ne chante pas
mon eau exulte comme um secret
mon eau travaille
et à travers tout roseau exulte
jusqu’au lait du rire
Mon eau est un petit enfant
mon eau est un sourd
mon eau est un géant qui te tient sur la poitrine un
lion
ô
vin
vaste
immense
par
le basilic de ton regard complice et somptueux
SOL E ÁGUA
Minha água não ouve
minha água canta
como um segredo
Minha água não
canta
minha água exulta
como um segredo
minha água trabalha
e através do junco
exulta
até o leite do riso
Minha água é uma
pequena criança
minha água é um
surdo
minha água é um
gigante que segura um leão sobre seu peito
ó vinho
vasto imenso
pelo basílico de
seu olhar cúmplice e suntuoso
A
HURLER
Salut
oiseaux qui fendez et dispersez la cercle des hérons
et la génuflexion de leur tête de résignation
dans une gaine de mousse blanche
Salut
oiseaux qui ouvrez à coups de bec le ventre vrai du marais et la poitrine de
chef du couchant
Salut
cri rauque
torche
de résine
où
se brouillent les pistes
des
poux de pluie et les souris blanches
Fou
à hurler je vous salue des mês hurlements plus blancs que la mort
Mon
temps viendra que je salue
grand large
simple
où chaque mot chaque geste éclairera
sur ton visage de chève blonde
broutant dans la cuve affolante de ma main
Et là là
bonne sangsue
là origine des temps
là
fin des temps
et
la majesté droite de l’oeil originel
A UIVAR
Saudações aos pássaros
que se fendem e dispersam o círculo das garças
e a genuflexão de
suas cabeças de resignação
em uma cinta de
espuma branca
Saudações aos
pássaros que abrem a bicadas o verdadeiro ventre do brejo e o peito do chefe do
pôr do sol.
Saudações grito rouco
tocha de resina
onde são encobertas
as marcas
dos pingos de chuva
e dos ratos brancos
Louco a uivar eu
vos saúdo com meus uivos mais brancos do que a morte
Meu tempo virá e eu
o saúdo
grande vasto
simples
onde cada palavra
cada gesto esclarecerá
sobre tua face de
cabra loira
pastoreando na cuba
inquieta de minha mão
E então então
boa sanguessuga
então a origem dos
tempos
então o fim dos
tempos
e a majestade
direita do olho original
BLUES
DE LA PLUIE
Aguacero
beau
musicien
au
pied d’um arbre dévetu
parmi
les harmonies perdues
près
des nos mémoires défaites
parmi
nos mains de défaite
et
des peuples de force étrange
nous
laissons pender nos yeaux
et
natale
dénouant
la longe d’une douleur
nous
pleurions.
BLUES DA CHUVA
Aguacero
belo músico
aos pés de uma
árvore desfolhada
em meio às
harmonias perdidas
junto de nossas
memórias derrotadas
em meio às nossas
mãos de derrota
e dos povos de
estranha força
deixamos abaixar
nossos olhos
e nascer
desatando as cordas
de uma dor
nós choramos.