Maze Oliver é
natural de Rio Branco-AC. Pedagoga formada pela Universidade Federal do Acre, especialista
em educação, com pós-graduação em Ensino Infantil e Fundamental, aposentou-se
como professora, depois de uma vida inteira dedicada à educação. Ao longo dos
anos, Maze tem marcado presença no cenário cultural do Acre. No cinema acreano,
dirigiu os documentários “História Musical do Grupo Capu”, em que conta a
história do primeiro grupo de rock do Acre, filme vencedor, na categoria
documentário, do V Festival Acreano de Vídeo (2003); e “História do Cinema
Acreano”. Ainda atuou e roteirizou o filme “Menina Mãe” (1997), também
premiado. Estreou na literatura em 2015, com o livro “Devaneios”; em seguida,
para o público infantil, publicou “A Poção Mágica” (2016); e tem outros
trabalhos no prelo, a aguardar publicação. Juntamente com outros artistas, em
2016, fundou a Sociedade Literária Acreana – SLA, a qual preside, grupo que tem
como missão apoiar e realizar iniciativas literárias voltadas para o
desenvolvimento artístico e cultural do Acre, incentivando e apoiando novos
autores. Entre outras atividades, a SLA tem-se feito presente, na sociedade e
nas escolas, por meio dos saraus literários, onde Maze também apresenta a sua performance
de bruxa, baseada em seu livro A Poção
Mágica.
Blog da autora:
FALSA REPÚBLICA
Maze Oliver
Quem dá mais? Onde
vendo?
Homens de paletó,
vidas gordas, vidas caras!
Na feira do voto,
feira do silêncio...
Vou seguir minha sina...
Diz a menina.
Homem da boca, rei
dos becos
Vidas curtas... Custa
quanto?
A vida? O sorriso?
Correm os ratos. É
a guerra!
Troca a faixa do
príncipe!
Agora o novo rei do
beco.
Enquanto alguns poetas
contam sílabas,
Alguns cantores
cantam o sexo...
Outros fecham os
olhos, fingem...
Hipócritas,
dormentes! Perdidos!
Feira de vidas,
escravos da gravata, do nó, do pó...
Enquanto a grande
prostituta no cio
(A falsa república)
Ceifa vidas, abafa
dores e gritos.
MEDO DA MORTE
Maze Oliver
A morte não me dá
medo
É o fim do amor
platônico
Final de uma
história de amor,
Do ser com o seu
tempo.
A morte não me dá
medo
Eu com a minha
morte,
Tal encontro
impossível.
Quando ela for
existir,
Não mais estarei
aqui.
A morte não me dá
medo,
Creio estar num
sono profundo
Num quase sono
eterno,
Muito longe deste
mundo.
Se a morte chegar a
mim,
Dela só tenho UM
medo
O medo de desistir,
Do medo, de não ter
medo.
ACRE
Maze Oliver
Nasci no Acre
Nasci no Acre
Terra de índio e de
índia,
Sou meio índia,
pele de sol,
Sangue forte.
Da minha gente
tenho orgulho,
Sou do norte.
Sou cabocla da
floresta
O chão do Acre
beijei.
Sou mulher quase
índia,
Eu sei.
Nos mistérios da
mata,
No calor do Acre, me
gerei
No aceiro da mata
me criei.
Acre que dizem
fraco, ledo engano...
Ele é rico e
soberano,
Pena que sua
riqueza
Esvai-se nas mãos
de porcos.
QUERO UM FERIADO
Maze Oliver
Ah, quem dera um
feriado!
Aplaudir a TV
Tomar banho na lama
do rio,
Tomar banho de
chuva,
Ah, quem dera um
feriado!
Beijar a amada
Ir ao cinema,
Ver os amigos,
viver!
Repartição, lugar
de ninguém
Quero um feriado!
Esbaldar na
cachaça,
Ouvir música
sertaneja,
Chorar as mágoas a
sangrar...
Gastar os últimos
centavos,
Do mísero salário
E zumbis, voltar à
senzala.
Na segunda-feira:
Sim senhor, não senhor!
Ah, um feriado!
ESCRAVOS
Maze Oliver
Somos escravos do
poder
Da moeda e do
capital,
Sem tempo para
pensar;
Sem tempo para
viver.
Negro ou branco,
Não importa!
Todos estão à mercê
De um papel moeda
qualquer!
Cego é, quem não
quer ver.
SONETO DA POESIA (Mundo
Poético)
Maze Oliver
Não só por hoje,
quero viver de emoção,
Poetizar, esquecer
dores da vida
Limpar, cicatrizar,
acalmar a ferida,
Cantar, e acalentar
o meu coração.
Não só por hoje,
quero viver poesia,
Também exorcizar a
dor da lida,
Rimar em verso a
dor mais escondida,
Cercar, prender,
domar a rebeldia.
Faço isso para
esquecer o passado
Quero sim, cantar
em verso a vida,
Renascer num viver
apaixonado.
Jogar pro ar
sentimentos dispersos
Sobreviver só, num
mundo encantado,
Na realidade do
mundo dos meus versos.
ESPELHO MEU
Maze Oliver
Onde fostes,
juventude?
A tez, a pele de
veludo?
As curvas sinuosas,
A boca provocante?
O lindo sorriso,
quase miss,
Quase princesa,
quase tudo?
No túnel da vida...
Tudo muda
O tempo levou as
curvas,
O relógio trouxe as
rugas,
E os cabelos
embranqueceram.
Mas, atributos
permanecem
Pois a mulher se
faz poema,
Maquiada em
fantasia,
Adornada em belas
rimas,
Eternizada em
poesia.
O TEMPO
Maze Oliver
O tempo passa,
Refazendo caminhos,
Limpando trilhas,
Buscando
horizontes,
Fazendo as malas,
Recuperando
traumas,
Cicatrizando
feridas,
Ampliando amizades,
Ceifando dores,
Apreciando arte,
Atravessando
pontes.
É a vida que passa,
Com o passar do
tempo.
BARGANHA
Maze Oliver
Tu que NÃO és
político,
Mas dissimula e
engana,
Vende e troca tua
honra
Por títulos,
troféus ou vinténs.
O que tens para
ensinar?
E ousas cobrar de
alguém!
Onde foram parar
teus valores
Nessa sociedade
nefasta?
Que troca dignidade
por grana,
Teu conhecimento
barganha
Contagiando até
crianças,
Muitas vezes por
vaidade ou façanha.
Só isso, homem, te
basta?
Onde foi parar tua
paixão?
O que te fez
esquecer a emoção?
MULHER
Maze Oliver
Mulher respeita-te!
O que és?
Corpo?! Não. És
muito mais!
Além de cara, bunda
e peitos,
Sentes, pensas, és
alma. És mais!
Não deixe que te
façam vender
Carne de açougue,
sem emoção.
Isso compra-se no
mercado,
Produto de oferta,
promoção.
Tens reflexão,
inteligência,
Deus te fez dotada
de razão.
Não dê coroa, a
quem te usa!
Usufrui do teu
reinado:
És dama, princesa,
és musa!