Isac de Melo
Que santos grilos são esses
Que de forma contundente
Se instalaram no passado
Permanecem no presente
E até de forma aguerrida
Penetram na nossa vida
Fundindo a cuca da gente
São os grilos da saúde
No descaso com doentes
Grilos dos falsos profetas
Na usurpação dos crentes
Na horta do camponês
Até na forma das leis
Nos embargos infringentes
Distribuição de cotas
Pra entrar na faculdade
Estatuto da criança
A lei da maioridade
Até o processo lento
E o mau atendimento
De quem tem prioridade
Invertendo os valores
Partindo do pré-suposto
Que o militar fardado
Não pode negar seu posto
Numa atitude rara
A polícia mostra a cara
E o ladrão esconde o rosto
Violentar virou moda
Por conta da impunidade
Já não dá mais nem cadeia
Pois virou banalidade
E além de premeditado
Está sendo praticado
Por menores de idade
Na maioria dos casos
O crime é recorrente
Nossa lei mal redigida
Protege o delinqüente
A toga por força plena
Dá-lhe a progressão da pena
E ele estupra novamente
Deputados mensaleiros
Que vão de quadrilha a lobe
Brincam com nosso dinheiro
Fazendo de tudo um hobe
Como é que eu explico
Se a lei que protege o rico
É a mesma que prende o pobre?
Mensaleiros condenados
No supremo tribunal
Assumindo seus mandatos
Como se fosse legal
Burlando o curso da história
E enlameando a memória
Do congresso nacional
Pessoas somem do nada
Sem deixar nenhum indício
No caso do Amarildo
E do garoto Fabrício
Isso acontece com seres
Enquanto nossos poderes
Ficam fazendo comícios
Nós fomos espionados
Por racks americanos
Que procurando saber
Nossos desejos e planos
Não foram nem informados
Que estamos amparados
Pelos direitos humanos
Está entregue às baratas
Nossa pátria gloriosa
Só temo que deputados
De maneira vergonhosa
Reunidos em um bosque
Criem a lei Levandowisk
Pra prender Joaquim Barbosa
Tem grilos na segurança
Grilos na educação
Como nas provas do ENEM
Que eu vi um cidadão
Que muito antes da hora
Ele contava vitória
Com o gabarito na mão
O Marcelo perceguine
Que assassinou os pais
Coronel exonerado
Por ter falado demais
Governo não quer embargo
E pra não perder o cargo
Gruda até no satanás
Nicolau dos Santos Neto
Cadê essa criatura?
Que sorridente exibia
Exuberante postura
De repente se acomoda
Numa cadeira de rodas
E perde a magistratura
Nem chegou a esfriar
O caso do mensalão
Já surgiu outro mais caro
Chamado de petrolão
Que roe com gosto de gás
Os cofres da petrobrás
Deus, salve a nossa nação
Estupro banalizado
Proliferou o ladrão
Assalto à mão armada
Transformou-se profissão
A coisa ficou tão feia
Que quem vive na cadeia
É o pobre cidadão
Saudades da minha infância
De quando havia respeito
Eu dizia: bença pai
E saía satisfeito
Aprendi desde menino
Quando ouvir o nosso hino
Levar a mão sobre o peito
A professora chegava
Todos lhe davam bom dia
Numa só voz afinada
Sem sussurro ou gritaria
Dali pra frente o silêncio
Fazia jus ao bom senso
E a educação fluía
Santos grilos no PROCON
Órgão do consumidor
Que em prol dos nossos direitos
A telexfree embargou
Acarretando em juízo
Um enorme prejuízo
Justo ao investidor
Grilos na internet móvel
Telefone celular
Aifone aipede aipode
Tablet pra variar
Tanta tecnologia
Transformando em agonia
Pra quem se atreva a comprar
No transporte coletivo
Ta faltando correção
Na catraca, nos assentos
Segurança e direção
Nas paradas nem se fala
Pairam buracos de bala
E marcas de arrastão
Sobre globalização
Tome tento e fique esperto
Alguém me disse outro dia
E eu achei muito certo
Que a internet hoje
Aproxima quem ta longe
Mas afasta quem ta perto
A direção destrutiva
Acaba de se instalar
O cara sai atrasado
De manhã pra trabalhar
Acha-se o dono da estrada
Desvia pela calçada
E só pára pra brigar
Coitadinho do idoso
Que por ser aposentado
Passou a tornar-se vítima
Constantemente é roubado
Às vezes sem deixar trilha
Alguém da própria família
Ceifa a vida do coitado
Grilos com tantos grileiros
Matando a mata e seus donos
Tomando as terras dos índios
Forjando nelas seus tronos
Queimando a fauna e a flora
Empurrando para fora
A família dos colonos
Grilos ao ver nossos cofres
Ajudar outros países
Como se a gente não fosse
Passivos das mesmas crises
Com nosso sangue e suor
Talvez fosse bem melhor
Regar as nossas raízes
Não é justo nem humano
Tirar de onde não tem
Doar a quem não precisa
Em detrimento de alguém
Pois quem puser quem acena
Numa embarcação pequena
Pode naufragar também.
Sebastião ISAC DE MELO é natural de Rio
Branco, onde nasceu em 1953. Ingressou na carreira militar no Exército
Brasileiro em 1981, estando na reserva desde 2005. Serviu como músico em
batalhões do Acre, Amazonas, Roraima, Ceará e Amapá. Exerceu ainda a função de
mestre na Banda de Música do 1º Batalhão B COM DIV em Santo Ângelo-RS e Banda
de Música do 44º BIMTZ em Cuiabá-MT. É autor de Cordel Reflexivo (2011), A
Bíblia em literatura de cordel (2012) e Urucum (2014). Possui formação em
Teologia pela Faculdade de Ciências Sociais Filosofia e Teologia da Amazônia.