Irineu Monteiro
Einstein encara os problemas educacionais a
partir de sua experiência e convicções pessoais. Em Pensamento Político e
Últimas Conclusões – obra que abrange cerca de 15 anos de atividades
intelectuais e práticas, em contacto com o mundo e suas lutas, reflete ele sua
vivência filosófica, política, social e espiritual. Penetra em áreas muito
atuais para a humanidade de hoje. Suas reflexões têm conteúdo vivo e que pode
produzir, na mente dos interessados no assunto, uma reação positiva em busca de
conclusões satisfatórias para os problemas educacionais da sociedade mutante:
Sobre a escola, o cientista-filósofo assim se
expressa:
“A escola sempre foi o meio mais importante
para transferir a riqueza da tradição de uma geração para outra. Isso se passa
hoje num grau mais elevado do que em épocas anteriores, pois, através do
desenvolvimento moderno da vida econômica, a família como portadora da tradição
e da educação perdeu seu poder. A continuidade e a sanidade da sociedade
humana, portanto, dependem hoje bem mais da escola do que antigamente.”
Critica o fato de que a escola, encarada por
alguns educadores mal informados, é encarada como “instrumento”, ou, talvez,
máquina destinada a colocar na cabeça dos alunos “certa quantidade máxima de
conhecimentos”. Einstein afirma que o conhecimento em si mesmo é morto. O
educando não, este é vivo:
“Algumas vezes considera-se a escola
simplesmente como instrumento para transferir uma certa quantidade máxima de
conhecimento à nova geração. Mas isto não é correto. O conhecimento é morto; a
escola, porém, serve aos vivos. Deveria desenvolver nos indivíduos jovens as
qualidades e capacidades que são valor para o benefício da comunidade. Mas isso
não significa que a individualidade deveria ser destruída para que o indivíduo
se tornasse mero instrumento da comunidade, como uma abelha ou uma formiga. Uma
comunidade de indivíduos padronizados, sem originalidade pessoal e sem
aspirações pessoais, seria uma comunidade inferior, sem possibilidade de
desenvolvimento.”
A motivação é que ativa o educando. Sem este
elemento dinamizador, não haverá interesse por parte do homem face a uma
possível realização. A instrução fornece ao homem o que se denomina conhecimento
– instrumentos ou objetos destinados aos profissionalismos. A educação por sua
vez, tem por finalidade esperar no homem suas potencialidades (valores da sua
natureza interna), desenvolvendo-as criadoramente. A instrução tem seus limites
e mutações no correr dos tempos. Lida com coisas e não com vidas, com seres
racionais. Num manual escolar há coisas estáticas. Numa vida racional sempre há
elementos dinâmicos, criatividade latente, adormecida e que deve ser despertada
ou ativada. Sem motivação, a educação não tem sentido. Einstein tece reflexões
sobre o assunto:
“Por detrás de cada realização existe a
motivação que é seu fundamento e que, por sua vez, é fortalecida e alimentada
pela própria realização do empreendimento (...) A motivação mais importante do
trabalho, na escola e na vida, é o prazer no próprio trabalho, prazer em seu
resultado e o conhecimento do valor desse resultado para a comunidade. No
despertar e no fortalecer dessas forças psicológicas no jovem, vejo a tarefa
mais importante fornecida pela escola.”
Opõe-se Einstein ao tipo de ensino que torne
o indivíduo uma espécie de “ferramenta”:
“Quero opor-me à ideia de que a escola tem de
ensinar diretamente o tipo especial de conhecimento e as técnicas que uma
pessoa tenha que utilizar mais tarde diretamente na vida. As exigências da vida
são demasiado múltiplas para permitir que uma preparação tão especializada seja
possível na escola. Além disso, parece-me também digno de objeção tratar o
indivíduo como uma ferramenta morta. A escola deveria sempre ter como alvo que
o jovem saísse dela como uma personalidade harmoniosa, não como um
especialista. Isso, na minha opinião, se aplica até certo ponto às escolas
técnicas, cujos alunos se dedicarão a uma profissão bem definida.”
A primazia do “desenvolvimento da capacidade
geral do pensamento e julgamento” é um fato perfeitamente aceito por Einstein.
E nisto está evidente que a criatividade se projeta:
“O desenvolvimento da capacidade geral de
pensamento e julgamento independentes, sempre deveria ser colocado em primeiro
lugar, e não a aquisição de conhecimento especializado. Se uma pessoa domina o
fundamental no seu campo de estudo e aprendeu a pensar e a trabalhar
independentemente, ela encontrará o seu caminho e, além do mais, será capaz de
adaptar-se ao progresso e às mudanças do que a pessoa cujo treinamento consiste
principalmente na aquisição de conhecimento detalhado.”
A ausência de estímulo mental, o treinamento
mental obliterado, a ênfase do “êxito no sentido costumeiro” são elementos
negativos na educação dos jovens. De maneira sabiamente formulada, Einstein
levanta o problema, aguçando a mente daqueles que se interessa pelo assunto:
“O desejo de obter reconhecimento e
consideração, está firmemente arraigado na natureza humana. Com a ausência de
estímulo mental desse tipo, a cooperação humana seria inteiramente impossível;
o desejo de aprovação por parte dos semelhantes é certamente um dos mais
importantes fatores de coesão da sociedade (...) O homem deve sua força na luta
pela vida, ao fato de ser um animal que vive em sociedade (...) Deveríamos
abster-nos de pregar aos jovens o êxito, no sentido costumeiro, como alvo da
vida. Pois um homem bem sucedido é aquele que recebe muito de seus semelhantes,
geralmente muitíssimo mais do que corresponde ao serviço que lhes prestou. O
valor de um homem, no entanto, deveria ser avaliado pelo ele dá e não pelo que
é capaz de receber.”
Finalmente, o treinamento – sua importância
para o educando – e aqui se pode citar a frase de John Dewey: “Só se aprende a fazer,
fazendo”. Einstein dá ênfase ao treinamento:
“Se um jovem treinou seus músculos e sua
resistência física pela ginástica e pelas caminhadas, mais tarde ele estará
apto a qualquer tipo de trabalho físico. isto também é análogo no treinamento
da mente e no exercício da habilidade mental e manual. Assim, não estava errado
o sábio que definiu a educação do seguinte modo: ‘A educação é o que sobra,
quando se esqueceu tudo aquilo que se aprendeu na escola.’ Por esta razão não
tenho nenhum desejo de tomar partido na luta entre os seguidores da educação
clássica filológico-histórica e os educadores mais dedicados às Ciências
Naturais.”
MONTEIRO, Irineu. Einstein: reflexões
filosóficas. São Paulo: Martin Claret, s/d. p.89-93