quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

FOGE...

Foge para a tua solidão, meu amigo! Vejo-te atordoado pelo barulho dos grandes homens e picado pelos ferrões dos pequenos.


NIETZSCHE, Friedrich. Assim falou Zaratustra: um livro para todos e para ninguém. Tradução, notas e posfácio Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. p.51

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

NIHIL NOVUM

Florbela Espanca (1894-1930)


Na penumbra do pórtico encantado
De Bruges, noutras eras, já vivi;
Vi os templos do Egito com Loti;
Lancei flores, na Índia, ao rio sagrado.

No horizonte de bruma opalizado,
Frente ao Bósforo errei, pensando em ti!
O silêncio dos claustros conheci
Pelos poentes de nácar e brocado...

Mordi as rosas brancas de Ispaã
E o gosto a cinza em todas era igual!
Sempre a charneca bárbara e deserta,

Triste, a florir, numa ansiedade vã!
Sempre da vida – o mesmo estranho mal,
E o coração – a mesma chaga aberta!


ESPANCA, Florbela. Poemas de Florbela Espanca. Estudo introdutório, organização e notas de Maria Lúcia Dal Farra. São Paulo: Martins Fontes, 1996. p.298

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

RECADO DO VELHO MACHADO...

E amar e ser amado é, neste mundo,
A tarefa melhor da nossa espécie,
Tão cheia de outros que não valem nada.


ASSIS, Machado de. Poesias Completas. Rio de Janeiro: W. M. Jackson Inc. Editores, 1962. p.452 (excerto de o poema O Almada)

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

O TEMPO

Emily Dickinson (1830-1886)


Dizem que o tempo ameniza.
Isto é faltar com a verdade.
Dor real se fortalece
Como os músculos, com a idade.

É um teste no sofrimento
Mas não o debelaria.
Se o tempo fosse remédio
Nenhum mal existiria.


DICKINSON, Emily. Poemas. Tradução Idelma Ribeiro de Faria. São Paulo: Hucitec, 1986. p.87 (p.s. no original, o poema não consta título)

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

O VERBO SE FEZ CARNE

Georges Bernanos (1888-1948)


O Verbo se fez carne, e os jornalistas daqueles tempos não souberam de nada!

A Virgem não teve nem triunfo nem milagres. Seu filho não permitiu que a glória humana a tocasse, ainda que com a mais tênue extremidade de sua grande asa selvagem. Ninguém viveu, sofreu e morreu tão simplesmente e numa ignorância tão profunda da própria dignidade, de uma dignidade que no entanto a coloca acima dos anjos. Pois afinal ela havia nascido sem pecado, que espantosa solidão! Uma fonte tão pura, tão límpida, tão pura e tão límpida, que ela nem podia ver nela a própria imagem, feita apenas para a alegria do Pai – ah, solidão sagrada!

A Virgem era a inocência. Você tem consciência daquilo que somos para ela, nós, a raça humana? Ah, naturalmente, ela detesta o pecado, mas afinal não tem qualquer experiência dele, aquela experiência que não faltou aos maiores santos, até mesmo ao santo de Assis, por mais seráfico que seja.

O olhar da Virgem é o único olhar verdadeiramente infantil, o único olhar de criança que jamais foi erguido sobre nossa vergonha e nossa infelicidade.


BERNANOS, Georges. Diário de um pároco de aldeia. São Paulo: Paulus, 1999. p. 209-211

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

GIORGIO AGAMBEN

Fragmentos de entrevista do filósofo Giorgio Agamben


Para entendermos o que está acontecendo, é preciso tomar ao pé da letra a ideia de Walter Benjamin, segundo o qual o capitalismo é, realmente, uma religião, e a mais feroz, implacável e irracional religião que jamais existiu, porque não conhece nem redenção nem trégua. Ela celebra um culto ininterrupto cuja liturgia é o trabalho e cujo objeto é o dinheiro.  Deus não morreu, ele se tornou Dinheiro.  O Banco – com os seus cinzentos funcionários e especialistas - assumiu o lugar da Igreja e dos seus padres e, governando o crédito (até mesmo o crédito dos Estados, que docilmente abdicaram de sua soberania ), manipula e gere a fé – a escassa, incerta confiança – que o nosso tempo ainda traz consigo. Além disso, o fato de o capitalismo ser hoje uma religião, nada o mostra melhor do que o titulo de um grande jornal nacional (italiano) de alguns dias atrás: “salvar o euro a qualquer preço”. Isso mesmo, “salvar” é um termo religioso, mas o que significa “a qualquer preço”? Até ao preço de “sacrificar” vidas humanas? Só numa perspectiva religiosa (ou melhor, pseudo-religiosa) podem ser feitas afirmações tão evidentemente absurdas e desumanas.

“É mais simples manipular a opinião das pessoas através da mídia e da televisão do que dever impor em cada oportunidade as próprias decisões com a violência.  As formas da política por nós conhecidas – o Estado nacional, a soberania, a participação democrática, os partidos políticos, o direito internacional – já chegaram ao fim da sua história. Elas continuam vivas como formas vazias, mas a política tem hoje a forma de uma “economia”, a saber, de um governo das coisas e dos seres humanos. A tarefa que nos espera consiste, portanto, em pensar integralmente, de cabo a cabo,  aquilo que até agora havíamos definido com a expressão, de resto pouco clara em si mesma, “vida política”.”

Poucos sabem que as normas introduzidas, em matéria de segurança, depois do 11 de setembro (na Itália já se havia começado a partir dos anos de chumbo) são piores do que aquelas que vigoravam sob o fascismo. E os crimes contra a humanidade cometidos durante o nazismo foram possibilitados exatamente pelo fato de Hitler, logo depois que assumiu o poder, ter proclamado um estado de exceção que nunca foi revogado. E certamente ele não dispunha das possibilidades de controle (dados biométricos, videocâmaras, celulares, cartões de crédito) próprias dos estados contemporâneos. Poder-se-ia afirmar hoje que o Estado considera todo cidadão um terrorista virtual. Isso não pode senão piorar e tornar impossível  aquela participação na política que deveria definir a democracia. Uma cidade cujas praças e cujas estradas são controladas por videocâmaras não é mais um lugar público: é uma prisão.

A situação da arte hoje em dia é talvez o lugar exemplar para compreendermos a crise na relação com o passado, de que acabamos de falar. O único lugar em que o passado pode viver é o presente, e se o presente não sente mais o próprio passado como vivo, o museu e a arte, que daquele passado é a figura eminente, se tornam lugares problemáticos. Em uma sociedade que já não sabe o que fazer do seu passado, a arte se encontra premida entre a Cila do museu e a Caribdis da mercadorização. E muitas vezes, como acontece nos templos do absurdo que são os museus de arte contemporânea, as duas coisas coincidem.

Esta é a contradição da arte contemporânea: abolir a obra e ao mesmo tempo estipular seu preço.

Leia aqui na íntegra a entrevista de Giorgio Agamben

sábado, 20 de dezembro de 2014

MINHA FELICIDADE

Friedrich Nietzsche (1844-1900)


Depois que cansei de procurar
Aprendi a encontrar.
Depois que um vento me opôs resistência
Velejo com todos os ventos.


MEIN GLÜCK

Seit ich des Suchens müde ward,
Erlernte ich das Finden.
Seit mir ein Wind hielt Widerpart,
Segl’ich mit allen Winden. 


NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. A gaia ciência. Tradução, nota e posfácio Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. p.16-17

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

LEANDRO MARTINS

Felicito meu amigo acreano-tarauacaense Leandro Martins da Silva por ocasião de sua recém-formatura em Filosofia pela PUC-PR. Ainda ontem mesmo ele embarcou para Davao, nas Filipinas, onde cumprirá por um ano mais uma etapa de sua formação Marista, antes de seguir para Roma, onde fará os estudos teológicos. Sucesso na caminhada, meu amigo!

DAS ORIGENS

Paulo Bomfim


Das origens só restou
este jeito de sentir.
Arrogância disfarçada,
sesmarias de remorso,
glebas de tédio e de luto,
ponchos cobrindo de sono
o galope das varandas.
As demandas se perderam
na agonia dos avós,
e o tiro das emboscadas
é flor de chumbo crescendo
no pressentir de seus netos.
Há vetustos casarões
e espectros de cafezais
habitando nossos pousos;
– os mansos apartamentos,
as vivendas de aluguel
onde deuses clandestinos
tilintam suas esporas,
preiam índias, sangram ouro,
emprenham sol nas mucamas,
balanças cadeiras rústicas,
e tiram de seus alforjes
a palha para o cigarro,
a pólvora para a morte,
e a matéria para o sonho.
Das origens só restou
o sigilo das candeias.


BOMFIM, Paulo. 50 anos de poesia. São Paulo: Editora Green Forest do Brasil, 2000. p.321

sábado, 13 de dezembro de 2014

ECCE HOMO

Friedrich Nietzsche (1844-1900)

Sim, eu sei de onde sou!
Insaciável como o fogo
Eu ardo e me consumo.
Tudo o que toco vira flama
E tudo o que deixo, carvão.
Sou fogo, não há dúvida.


ECCE HOMO

Ja! Ich weiss, woher ich stamme!
Ungesättigt gleich der Flamme
Glühe und verzehr' ich mich.
Licht wird Alles, was ich fasse,
Kohle Alles, was ich lasse:
Flamme bin ich sicherlich!



NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. A gaia ciência. Tradução, nota e posfácio Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. p.46-49

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

MUNDO DA BORRACHA


Fotografias constam em:
REIS, Arthur Cezar Ferreira. O seringal e o seringueiro. (capa e ilustrações de Percy Lau). Rio de Janeiro: Serviço de Informação Agrícola, 1953.

ONDE ESTÁ O POETA?

Luísa Lessa


Não busquem pelo poeta
Na estrofe ou na curva dos versos,
Eu não sou fantasma para viver em papeis dispersos,
E cobrir o rosto num véu celestial,
E depois me mostrar igualmente colegial.
Eu habito alguns poemas,
N’outros versejo na sombra das rimas,
Mas não vivo de quimeras,
Assim não tolero feras,
Que de mim digam esmeras.
Não me procure nas contravoltas dos poemas,
Eu estou nas metonímias e metáforas dos ecossistemas,
Ou nas figuras de linguagem,
Que tanto dizem, fazem e desfazem,
Tudo por meio da linguagem.
Não estou aqui nem ali,
Habito os ancestrais dos rios,
Das matas nos desafios,
Sem confessar a quem,
Onde vou encontrar alguém.
Eu viajo no ar da brisa,
Nos encantos da Monalisa,
Nas fábulas de La Fontaine,
Os pés na terra e o olhar online,
Embalada na ternura de Exupéry Antoine.


Luísa Lessa é da Academia Brasileira de Filologia, da Academia Acreana de Letras, membro-fundadora da Academia dos Poetas Acreanos e membro da International Writers and Artists Association (IWA).

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

ORDEM DO DIA

J. G. de Araújo Jorge (1914-1987)


Não chegaremos ao livro, sem o leite e o pão,
nem chegaremos ao pão sem a terra e sem teto,
nem chegaremos à terra sem liberdade e justiça
nem chegaremos à liberdade sem coragem e honestidade,
oh! a indispensável coragem para a
nossa luta.

Lutemos, pois – todos nós – brancos, pretos e amarelos,
que choramos e comemos, que crescemos e estudamos,
que sofremos e construímos, como homens sem cor,
todos nós que precisamos do mesmo leite branco
e do mesmo livro, e da mesma terra, e da mesma liberdade
para viver.

Viver.  Ou ao menos, morrer, mas lutando.


JORGE, J. G. de Araujo. Estrela da Terra. Rio de Janeiro: Editora Vecchi, 1947. p.133

sábado, 6 de dezembro de 2014

DE TUDO QUANTO AMAMOS

Paulo Bomfim


De tudo quanto amamos o que resta,
O riso desbotado dos retratos,
A talagarça dos momentos gratos
Ou a tristeza desse fim de festa?

Ficou por certo a ruga em nossa testa
Inventariando feitos e relatos,
E vozes e perfis somando fatos,
E a desfocada imagem da seresta.

E tudo o fogo afaga em canto findo,
Este porque de coisas devolutas,
E o tempo nômade que foi partindo.

Ficou de quanto amamos nos escolhos
A restinga das horas dissolutas,
E o mar aprisionado em nossos olhos!


BOMFIM, Paulo. 50 anos de poesia. São Paulo: Editora Green Forest do Brasil, 2000. p.372

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

POEMA DO ADOLESCENTE TRANSVIADO

Paulo Bomfim


A vida oferece
A boca
Os seios
E um sexo desesperado

Buscamos paz
No atordoamento
Colhemos amor
Na vertigem
E a morte
Gruda-se à nossa cintura
Na garupa
Das motos
Que voam como
Anjos perdidos

No fundo de todos os corpos
No fim de todos os delírios
Estamos lúcidos e tristes
Com blusões de sangue
Cobrindo um luto de viver


BOMFIM, Paulo. 50 anos de poesia. São Paulo: Editora Green Forest do Brasil, 2000.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

EINSTEIN E A EDUCAÇÃO

Irineu Monteiro


Einstein encara os problemas educacionais a partir de sua experiência e convicções pessoais. Em Pensamento Político e Últimas Conclusões – obra que abrange cerca de 15 anos de atividades intelectuais e práticas, em contacto com o mundo e suas lutas, reflete ele sua vivência filosófica, política, social e espiritual. Penetra em áreas muito atuais para a humanidade de hoje. Suas reflexões têm conteúdo vivo e que pode produzir, na mente dos interessados no assunto, uma reação positiva em busca de conclusões satisfatórias para os problemas educacionais da sociedade mutante:

Sobre a escola, o cientista-filósofo assim se expressa:

“A escola sempre foi o meio mais importante para transferir a riqueza da tradição de uma geração para outra. Isso se passa hoje num grau mais elevado do que em épocas anteriores, pois, através do desenvolvimento moderno da vida econômica, a família como portadora da tradição e da educação perdeu seu poder. A continuidade e a sanidade da sociedade humana, portanto, dependem hoje bem mais da escola do que antigamente.”

Critica o fato de que a escola, encarada por alguns educadores mal informados, é encarada como “instrumento”, ou, talvez, máquina destinada a colocar na cabeça dos alunos “certa quantidade máxima de conhecimentos”. Einstein afirma que o conhecimento em si mesmo é morto. O educando não, este é vivo:

“Algumas vezes considera-se a escola simplesmente como instrumento para transferir uma certa quantidade máxima de conhecimento à nova geração. Mas isto não é correto. O conhecimento é morto; a escola, porém, serve aos vivos. Deveria desenvolver nos indivíduos jovens as qualidades e capacidades que são valor para o benefício da comunidade. Mas isso não significa que a individualidade deveria ser destruída para que o indivíduo se tornasse mero instrumento da comunidade, como uma abelha ou uma formiga. Uma comunidade de indivíduos padronizados, sem originalidade pessoal e sem aspirações pessoais, seria uma comunidade inferior, sem possibilidade de desenvolvimento.”

A motivação é que ativa o educando. Sem este elemento dinamizador, não haverá interesse por parte do homem face a uma possível realização. A instrução fornece ao homem o que se denomina conhecimento – instrumentos ou objetos destinados aos profissionalismos. A educação por sua vez, tem por finalidade esperar no homem suas potencialidades (valores da sua natureza interna), desenvolvendo-as criadoramente. A instrução tem seus limites e mutações no correr dos tempos. Lida com coisas e não com vidas, com seres racionais. Num manual escolar há coisas estáticas. Numa vida racional sempre há elementos dinâmicos, criatividade latente, adormecida e que deve ser despertada ou ativada. Sem motivação, a educação não tem sentido. Einstein tece reflexões sobre o assunto:

“Por detrás de cada realização existe a motivação que é seu fundamento e que, por sua vez, é fortalecida e alimentada pela própria realização do empreendimento (...) A motivação mais importante do trabalho, na escola e na vida, é o prazer no próprio trabalho, prazer em seu resultado e o conhecimento do valor desse resultado para a comunidade. No despertar e no fortalecer dessas forças psicológicas no jovem, vejo a tarefa mais importante fornecida pela escola.”

Opõe-se Einstein ao tipo de ensino que torne o indivíduo uma espécie de “ferramenta”:

“Quero opor-me à ideia de que a escola tem de ensinar diretamente o tipo especial de conhecimento e as técnicas que uma pessoa tenha que utilizar mais tarde diretamente na vida. As exigências da vida são demasiado múltiplas para permitir que uma preparação tão especializada seja possível na escola. Além disso, parece-me também digno de objeção tratar o indivíduo como uma ferramenta morta. A escola deveria sempre ter como alvo que o jovem saísse dela como uma personalidade harmoniosa, não como um especialista. Isso, na minha opinião, se aplica até certo ponto às escolas técnicas, cujos alunos se dedicarão a uma profissão bem definida.”

A primazia do “desenvolvimento da capacidade geral do pensamento e julgamento” é um fato perfeitamente aceito por Einstein. E nisto está evidente que a criatividade se projeta:

“O desenvolvimento da capacidade geral de pensamento e julgamento independentes, sempre deveria ser colocado em primeiro lugar, e não a aquisição de conhecimento especializado. Se uma pessoa domina o fundamental no seu campo de estudo e aprendeu a pensar e a trabalhar independentemente, ela encontrará o seu caminho e, além do mais, será capaz de adaptar-se ao progresso e às mudanças do que a pessoa cujo treinamento consiste principalmente na aquisição de conhecimento detalhado.”

A ausência de estímulo mental, o treinamento mental obliterado, a ênfase do “êxito no sentido costumeiro” são elementos negativos na educação dos jovens. De maneira sabiamente formulada, Einstein levanta o problema, aguçando a mente daqueles que se interessa pelo assunto:

“O desejo de obter reconhecimento e consideração, está firmemente arraigado na natureza humana. Com a ausência de estímulo mental desse tipo, a cooperação humana seria inteiramente impossível; o desejo de aprovação por parte dos semelhantes é certamente um dos mais importantes fatores de coesão da sociedade (...) O homem deve sua força na luta pela vida, ao fato de ser um animal que vive em sociedade (...) Deveríamos abster-nos de pregar aos jovens o êxito, no sentido costumeiro, como alvo da vida. Pois um homem bem sucedido é aquele que recebe muito de seus semelhantes, geralmente muitíssimo mais do que corresponde ao serviço que lhes prestou. O valor de um homem, no entanto, deveria ser avaliado pelo ele dá e não pelo que é capaz de receber.”

Finalmente, o treinamento – sua importância para o educando – e aqui se pode citar a frase de John Dewey: “Só se aprende a fazer, fazendo”. Einstein dá ênfase ao treinamento:

“Se um jovem treinou seus músculos e sua resistência física pela ginástica e pelas caminhadas, mais tarde ele estará apto a qualquer tipo de trabalho físico. isto também é análogo no treinamento da mente e no exercício da habilidade mental e manual. Assim, não estava errado o sábio que definiu a educação do seguinte modo: ‘A educação é o que sobra, quando se esqueceu tudo aquilo que se aprendeu na escola.’ Por esta razão não tenho nenhum desejo de tomar partido na luta entre os seguidores da educação clássica filológico-histórica e os educadores mais dedicados às Ciências Naturais.”


MONTEIRO, Irineu. Einstein: reflexões filosóficas. São Paulo: Martin Claret, s/d. p.89-93