sexta-feira, 28 de setembro de 2018

SEIS POEMAS DE JOÃO VERAS

O PHODER DA UNIVERSAL ACREANA

Poetas institucionais têm dor.
Não duvidam.
Morrem de medo de quem governa a dor.
E vivem a metrificar instituições as tantas
para o gozo de seus comandos e de suas penas calculadas
nas margens descaradas de seu tempo e de seu lugar.


PREVISÃO DO MEDO PARA HOJE

oscilação
sol frio morno quente insuportável quente morno frio
lua ainda sem lua vai de meio claro meio turvo
metade crescente cheia brilhante semi lume sem brilho
rara luz bola transparente distante
sol frio morno de imagem sonegada pela escura nuvem
sem luz nem sol nem lua só água desaba do céu
medo!
frio morno quente insuportável


A CATEDRAL DA SEDE

Todos querem o centro.
Ser.
Sonham, lutam por ele.
Alguns morrem, alguns vivem enfermos.
O centro? Uma voz do fundo interpela...
Sim! Todas as vozes da superfície respondem.
E completam: Qualquer um! E repetem mais de uma vez.
Mas onde está estar o centro?
E a resposta se emudece nos cantos
e assim se mantém para todo o resto.
No fundo e na superfície.
E nada se acaba como a impermanência da sede.


EMPATE

Eu jogando dados com o poema que invento:
Ele vem me dizendo
Eu retruco
Ele se impõe como uma libido
Eunuco
Nos calamos por um instante
nenhum facilita no apreço
mas só ele, só ele escrita
a minha pessoa esquisita.


ACRE EM TRANSE

Onde estão todos? Onde estão?
Nos limites, clicando conflitos?
Nas trincheiras, como cães de guerra?
Nas retaguardas das conveniências, em seus papéis partidários?

E os dignos, os cansados, os calados, os eloquentes, os malucos, os dementes?
Todos!
Os meninos, as meninas... e os demais humanos de asas?
Onde estão de casa em casa?
Os da minha infância sem ventura.
Os da minha juventude sem medo.
Os da minha maturidade sem espanto.
Os da minha morte sem pranto.

Oh-culpados!
Matando tempo.
Matando nome.
Matando gente.
Matando fome.


DIVERSÃO E ARTE

Te juro: após pensar... planejar... inventei.
Saiu de mim uma máquina sem nenhuma servidão.

Não foi acidente. Ainda bem. O resultado me satisfez.
Foi o que imaginei, foi o que resolvi criar.
Exatamente por não servir a nada, a máquina funciona.

Isso te incomoda, né?
Por que não inventa a tua?

O EXTIRPADOR DE IDOLATRIAS

Eduardo Galeano (1940-2015)

A golpes de picareta estão quebrando Cápac Huanca.

O sacerdote Francisco de Ávila grita com seus índios para que se apressem. Ainda restam muitos ídolos para serem descobertos e triturados nestas terras do Peru, onde ele não conhece ninguém que não incorra no pecado da idolatria. Jamais descansa a cólera divina. Ávila, açoite dos feiticeiros, vive sem sentar-se.

Mas para seus servos, que sabem, cada golpe dói. Esta pedra grande é um homem escolhido e salvo pelo deus Pariacaca. Cápac Huanca foi o único que partilhou com ele sua chicha de milho e suas folhas de coca, quando Pariacaca se disfarçou com trapos e veio a Yarutini e aqui suplicou que lhe dessem de beber e mascar. Esta grande pedra é um homem generoso. Cápac Huanca foi esfriado e convertido em pedra, para que não fosse levado pelo furacão de castigo que levou, em um sopro, todos os outros.

Ávila faz com que joguem seus pedaços em um abismo. Em seu lugar, finca uma cruz.

Depois pergunta aos índios a história de Cápac Huanca; e a escreve.


GALEANO, Eduardo. Memória do fogo, 1: nascimentos. Tradução Eric Nepomuceno. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983. p.218

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

FAÍSCA

Leila Jalul

Aconteceu comigo. Houvesse sido contado, dificilmente acreditaria.

Era 24 de dezembro, justo na véspera do aniversário de Jesus. O ano? 81 ou 82, creio eu.

Por volta das 22 horas, quando a cidade já se preparava para as festas, chega um carro oficial à minha porta, com uma ordem expressa, entregue em mãos pelo motorista. Dali, de imediato, deveria ir receber um alvará de soltura, já combinado entre meu chefe e o juiz, sem que houvesse qualquer tipo de procedimento jurídico aplicável. Tudo feito ‘de boca’, entre autoridades. Tudo elaborado nas coxas, para libertar um funcionário da empresa, por causa de um rapapé que acabou em grossa pancadaria e lesão corporal de natureza ‘razoavelmente’ grave.

Fui. De má vontade, mas fui. Peguei o alvará com o porteiro e rumei para a delegacia onde, segundo meu chefe, o plantonista estaria esperando.

Que plantonista? Qual delegado? Na delegacia, além de dois desordeiros e do meu ‘cliente’, apenas um vigia cochilando numa cadeira caindo aos pedaços.

Acordei-o e perguntei onde se encontrava a autoridade de plantão. Falei a razão de ali estar e mostrei o alvará.

- Olhe, dona doutora, a senhora pode aguardar ali na saleta. O delegado saiu pra jantar e disse que logo voltaria.
- Muito obrigada!

Dito isto, voltou a cochilar. Fiquei ali, com cara de paisagem, à espera do delegado. E este, arrotando peru e cheirando a Sidra Cereser, nó de gravata desfeito, apareceu já no amanhecer do dia.

‘Cliente’ solto, ordem cumprida, fui pra casa dormir. Antes, porém, combinei com ele uma solução para o problema que motivou seu recolhimento ao xadrez. Deixaríamos passar o dia de Jesus e, logo nas primeiras horas do dia 26, na sede da empresa, nos encontraríamos e passaríamos a régua no triste caso.

O resumo do entrevero: meu ‘cliente’ era caçador, tido e reconhecido dos melhores. Fez amizade com um português, também caçador dos bons e pediu-lhe emprestado uma cadela de nome Faísca, verdadeira águia na arte de achar e nocautear qualquer bicho do mato. Do tatu ao veado de capoeira.

De bom grado, pela amizade, o lusitano cedeu e emprestou a quatro patas, não sem antes avisar que aguardava a devolução imediata, tão logo retornasse da mata.

O resultado da caçada foi tão produtivo que meu ‘cliente’, de má fé, além de não cumprir o trato, passou a evitar o português. Sempre uma desculpa esfarrapada, uma escapulida, uma mudança de calçada, tudo para não devolver a cadela Faísca. E nessa demora, também de má fé, patrocinou o acasalamento da boa menina caçadora com um galgo, igualmente bom de caça. Isso levou meses, é bom que se diga.

Mesmo prenhe, o português exigiu-a de volta e, com paciência e educação, ainda prometeu ao meu ‘cliente’ que dividiria com ele as crias que escolhesse, machos ou fêmeas, que fossem. A cadela, a estas alturas, estava bem longe da confusão, escondida na casa de um parceiro de safadeza do meu ‘cliente’, já parida e alimentando seus filhotes, sem que o português soubesse do fato.

A ruindade de caráter do meu ‘cliente’ optou pela negativa e apelou para a ignorância. Daí, para as vias de fato foi um pulo. Levou a pior o pobre português, até por conta da idade.
Finalizando o episódio: no dia, hora e local marcados para a devolução do animal, saí com meu ‘cliente’ para a casa do português. Ele carregava nas mãos uma frágil caixa onde se encontrava a pivô da confusão. Estava sério, parecendo raivoso. No trajeto, nada falou, embora eu puxasse conversa e desse-lhe uns conselhos, coisa bem normal entre patrono e ‘cliente’.

Diante da residência do ofendido, chamei-o e fomos recebidos de forma séria, porém amigável. Não houve tempo para mais nada. A caixa foi jogada aos pés do português. Caiu aberta. Dentro dela, pesada e fria, estava Faísca, esfaqueada na parte frontal, pouco acima dos olhos.

Meu ‘cliente’ saiu em disparada e tomou rumo na estrada. Atônitos, eu e o português apenas nos entreolhamos. Com o animal em seus braços, olhar carinhoso, falou: vou enterrá-la. E saiu.

Enquanto ele enterrava Faísca, ali mesmo, enterrei minha carreira na área penal.

Ele chorou a amiga. Eu chorei a maldade.

DESENVOLVIMENTISMO NA AMAZÔNIA: a farsa fascinante, a tragédia facínora

Isaac Melo

Recentemente, por ocasião da XIII Jornadas Andinas de Literatura Latinoamericana, em Rio Branco-AC, de 6 a 11 de agosto, a comunidade presente pôde acompanhar o lançamento da obra “DESENVOLVIMENTISMO NA AMAZÔNIA: a farsa fascinante, a tragédia facínora” (IFAC, 2018), de autoria de Israel Pereira Dias de Souza, sociólogo, professor e pesquisador do Instituto Federal do Acre do campus Cruzeiro do Sul.

O livro, subdividido em duas partes, perfaz um total de nove textos independentes, embora persistindo o mesmo fio condutor, a saber, o “desenvolvimentismo”. Uma das ideias mais controversas e obscuras (nefastas, quiçá) no tocante à Amazônia é, talvez, a ideia de “desenvolvimento”. Desde que o europeu, a partir dos primeiros exploradores e das primeiras expedições científicas, tomou conhecimento da Amazônia, e de todas as suas potencialidades, inclusive, e, sobretudo, lucrativas, começou uma corrida não só pela posse material da região, bem como por um esforço de civilizar e amansar a “gleba tumultuária”. Era preciso ocupar e colonizar o “deserto ocidental”. Era preciso o progresso para sair da “margem da história” para entrar na marcha da civilização europeia.

Duas ditaduras brasileiras se debruçaram sobre a “questão amazônica”, a de Getúlio Vargas e a de 1964. Ambas queriam resolver o “atraso” da região, integrá-la, desenvolvê-la, explorá-la a partir de seus potenciais naturais, minerais, vegetais. Sobretudo a 64, sob a pecha da cobiça internacional, se propôs, a qualquer custo, integrá-la para não entregá-la. Era preciso trazer para uma terra sem gente a gente sem terra dos grandes centros brasileiros, que haviam ficado de fora do progresso. Dessa maneira, o progresso, no dorso de tratores e na pata do boi, rugiu e mugiu mata adentro. Aos povos indígenas, por exemplo, mais uma vez, massacrados e escorraçados, coube integrar-se e entregar tudo para não ver desintegrarem-se definitivamente da história.

Pois bem, o livro de Israel Souza vai perscrutar e desnudar o que, por detrás da simpática e benfazeja ideia de desenvolvimento sustentável, de fato se esconde. O desenvolvimento “sustentado” inicialmente era a ideia de que era preciso desenvolver sem destruir. Surge a partir do momento, sobretudo na Amazônia, em que a questão ambiental é levantada, ainda que timidamente, pelos ecologistas e movimentos sociais. À medida que cresce a consciência ecológica, cresce também a “consciência capital” acerca do enorme potencial econômico da Amazônia.

A Amazônia sempre esteve refém dos interesses do capital internacional. É dele que o conceito de desenvolvimento sustentável deixa as suas origens humildes (movimentos ecológicos) e passa a ser um conceito do capital internacional, cujo carro chefe é o Banco Mundial, que passa a influenciar as políticas públicas de desenvolvimento. Dessa forma, ao longo do livro, o autor demonstra como inúmeras iniciativas (o MAP, por exemplo) não só reproduzem como legitimam concepções e diretrizes que orientam a atuação coordenada pelo BID e o Banco Mundo na Amazônia continental. O que resulta daí é a natureza como um grande produto, a sua mercantilização, a economia verde. E, sob o selo do desenvolvimento sustentável, a espoliação e apropriação dos recursos naturais, o desrespeito aos povos locais e a devastação da natureza.

A partir da década de 1970, o desenvolvimentismo, à maneira que era praticado, revela os seus graves problemas. Para o autor, “naquele momento, em que aflorava a “consciência ambiental”, a saída foi agregar o “sustentável” ao “desenvolvimento”. Dessa forma, o capitalismo ganhou uma ideologia poderosíssima, passando a operar encoberto pelo manto da “sustentabilidade””. Nesse sentido, prossegue Souza, seguido pelo “sustentável”, o “desenvolvimento” passou a ser encarado não apenas como “ambientalmente correto”, mas como uma força-projeto capaz de salvar a vida do planeta. Assim, por um toque de mágica, “o capital já não era a ameaça, e sim a salvação”.

Por fim, a mensagem que se patenteia da reflexão de Israel Souza é a de que a ideia de “desenvolvimento sustentável” não é senão capitalismo, e a sua manutenção consiste na manutenção do próprio capital, cujo sistema, por natureza, gera desequilíbrio nas mais variadas esferas da vida. Nesses termos, o desenvolvimentismo na Amazônia é uma farsa. A farsa com que o capital tem seduzido, implantado e solidificado seus interesses a partir do financiamento de interesses de governos e classes dominantes locais. Dessa forma, para o autor “o desenvolvimentismo persiste na América Latina como uma ilusão a um só tempo fascinante e facínora”. E esclarece: “a farsa fica por conta dos de cima. Enquanto a tragédia pesa sobre os de baixo e sobre a natureza”. 

DA DESCRIÇÃO DE JOHN UNDERHILL, PURITANO DE CONNECTICUT, SOBRE UMA MATANÇA DE ÍNDIOS PEQUOT

Eduardo Galeano (1940-2015)

Eles não sabiam nada de nossa chegada. Estando perto do forte, nos encomendamos a Deus e suplicamos Sua assistência em tão pesada empresa...

Não podemos outra coisa além de admirar a Divina Providência quando nossos soldados, inexperientes no uso das armas, lançaram uma carga tão cerrada que parecia que o dedo de Deus tivesse posto fogo na mecha. Ao romper do dia, a andanada provocou terror nos índios, que estavam profundamente adormecidos, e escutamos os gritos mais cheios de lamento. Se Deus não tivesse preparado os corações nossos para o Seu serviço, teríamos sido movidos à comiseração. Mas havendo Deus nos despojado de piedade, nos dispusemos a cumprir nosso trabalho sem compaixão, considerando o sangue que os índios tinham derramado quando trataram barbaramente e assassinaram a uns trinta de nossos compatriotas. Com nossas espadas na mão direita e nossas carabinas ou mosquetões na mão esquerda, atacamos...

Muitos morreram queimados no forte, outros foram forçados a sair e nossos soldados os recebiam com as pontas das espadas. Caíram homens, mulheres e crianças; os que escapavam de nós caíam nas mãos de nossos índios aliados, que esperavam na retaguarda. Segundo os índios pequot, havia umas quatrocentas almas nesse forte, e nem mesmo cinco conseguiram escapar de nossas mãos. Grande e lastimável foi a visão do sangue para os jovens soldados que nunca tinham estado na guerra, vendo tantas almas que jaziam de boca arfante no chão e tão amontoadas que em algumas partes não se podia passar.

Se poderia perguntar: por que tanta fúria? (Como alguém disse.). Não deveriam os cristãos ter mais clemência e compaixão? E eu respondo recordando a guerra de David. Quando um povo chegou a tal ponto de sangue e pecado contra Deus e o homem, David não respeita as pessoas, e sim as rasga e destroça com sua espada e lhes dá a morte mais terrível. Às vezes as escrituras declaram que as mulheres e as crianças devem perecer junto a seus pais. Às vezes se dão casos diferentes, mas não vamos discutir isso agora. Suficiente luz recebemos da Palavra de Deus, para nossos procederes.

GALEANO, Eduardo. Memória do fogo, 1: nascimentos. Tradução Eric Nepomuceno. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983. p.259-260

terça-feira, 18 de setembro de 2018

SE ENGANA O FOGO

Eduardo Galeano (1940-2015)

Frei Diogo de Landa atira às chamas, um após o outro, os livros dos maias.
O inquisidor amaldiçoa Satanás e o fogo crepita e devora. Em volta do queimadeiro, os hereges uivam de cabeça para baixo. Pendurados pelos pés, em carne viva pelas chibatadas, os índios recebem banhos de cera fervendo enquanto crescem as chamas e gemem os frios, como queixando-se.
Esta noite se transformam em cinzas oito séculos de literatura maia. Nestes longos rolos de papel de casca de árvore, falavam os sinais e as imagens: contavam os trabalhos e os dias, os sonhos e as guerras de um povo nascido antes que Cristo. Com pincéis de pêlos de javali, os sabedores de coisas tinham pintado estes livros iluminados, iluminadores, para que os netos dos netos não fossem cegos e soubessem ver-se e ver a história dos seus, para que conhecessem os movimentos das estrelas, as frequências dos eclipses e as profecias dos deuses, e para que pudessem chamar as chuvas e as boas colheitas de milho.
Ao centro, o inquisidor queima os livros. Ao redor da fogueira imensa, castiga os leitores. Enquanto isso, os autores, artistas-sacerdotes mortos há anos ou séculos, bebem chocolate na sombra fresca da primeira árvore do mundo. Eles estão em paz, porque morreram sabendo que a memória não se incendeia. Não se cantará e dançará, por acaso, pelos tempos dos tempos, o que eles tinham pintado?
Quando queimam suas casinhas de papel, a memória encontra refúgio nas bocas que cantam as glórias dos homens e deuses, cantares que de gente em gente ficam, e nos corpos que dançam ao som dos troncos ocos, dos cascos de tartarugas e das flautas de taquara.

GALEANO, Eduardo. Memória do fogo, 1: nascimentos. Tradução Eric Nepomuceno. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983. p.170

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

PISTA DE DANÇA

Waly Salomão

Quando criança
me assoprou no ouvido um motorista
que os bons não se curvam
e
      eu
             confuso
aqui nesta pista de dança
perco o tino
espio a vertigem
                 do chão que gira
                                     tal e qual
                                              parafuso
                  e o tapete tira
                  debaixo dos meus pés
giro
piro
nesta pista de dança
curva que rodopia
sinto que perco um pino
                                                          não sei localizar se na cabeça
esqueço a meta da reta
e fico firme no leme
que a reta é torta
rei
      rainha
                bispo
                        cavalo
                                  torre
                                         peão
sarro de vez o alvo
tiro um fino com o destino
e me movimento

                                 ao acaso do azar ou da sorte
no tabuleiro de xadrez
extasiado
extasiado
                                  piso
                          hipnotizo
                          mimetizo
                                    a dança das estrelas
debuxo sobre o celeste caderno de caligrafia das constelações
                                e plagio a coreografia dos pássaros e dos robôs
aqui neste point
a espiral de fumaça me deixa louco
e a toalha felpuda suja me enxuga o suor do rosto
aqui nesta rave
narro a rapsódia de uma tribo misteriosa
imito o rodopio de pião bambo

Ê Ê Ê tumbalelê
      é o jongo do cateretê,
              é o samba
                          é o mambo
                                      é o tangolomango
                                                   é o bate-estaca
                                                                 é o jungle
                                                                              é o tecno
                                                                                           é o etno

é o etno
      é o tecno
             é o jungle
                         é o bate-estaca
                                     é o tangolomango
                                                  é o mambo
                                                               é o samba
                                                                     é o jongo do cateretê
                                                                             Ê Ê Ê tumbalelê

redemoinho de ilusão em ilusão
como a lua tonta, suada, e, fria
que do crescente ao minguante varia
                                    e inicia e finda
                                    e finda e inicia
                                                            e vice-versa a pista de dança

pista de dança
que quer dizer
pista de mímeses
pista de símiles
pista de faxes
pista de substância físsil
pista de fogos de artifícios
pista de pleonasmo da cera dúctil
           e da madeira entesada dura
pista de míssil
pista de símios
pista de clowns
pista de covers
pista de samplers
pista de epígonos
pista de clones
pista de sirenes
pista de sereias
pista de insones

pista do possesso febril
pista de scratches
pista de arranhões
pista de aviões
pista de encontrões
pista de colisões
pista de teco-teco, de telecoteco
pista de queima de óleo fóssil
pista de sinais pisca-pisca
pista de bate-biela
pista do pifa-motor
pista do pirata de olho de gude
              e perna de pau
pista da mulher que engoliu a agulha da vitrola
              e fala pelos cotovelos
pista do menino que come vidro
              e chupa pedra d’água
pista ouriçada
                           irada e sinistra!

Pois
pista de dança
quer dizer
Farmácia de Manipulação de Tropos Poéticos Sociedade Anônima
que existe e funciona,
                      como tudo na vida, inclusive o poeta,
                              seja dito de passagem,
para servir à poesia.
E a trilha vai por aí afora,
                                       aliás...


SALOMÃO, Waly. O mel do melhor. Rio de Janeiro: Rocco, 2001. p.87-90

terça-feira, 11 de setembro de 2018

ALGUMAS PINTURAS / PEQUENOS FORMATOS DE DANILO DE S'ACRE

Um som na fenda, dilacera
As pálpebras de veludo
Desperta a voz e a tempestade
Rasgam-se lençóis em relâmpagos
Agudos raios de águas ácidas
Lágrimas de arco-íris
Sonora vulcânica seiva
Paisagem em véu de noiva
Néctar insolúvel
O som nas sombras, dilacera...

Diálogos, 2018
Óleo sobre tela
24x30 com

Sonho com serpentes, 2018
Óleo sobre tela
24x30 cm

Dança tribal, 2018
Óleo sobre tela
24x30 cm

Sensações inesperadas, 2018
Óleo sobre tela
50x60 cm

Disseminações antropológicas, 2018
Óleo sobre tela
24x30 cm

“Bocca di rosa”, 2018
Óleo sobre tela
40x30 cm

A LÍNGUA É O CHICOTE DA BUNDA. Ô SE É!

Leila Jalul

Zacarias e Mansueto, dois tomadores de branquinha, decidiram viajar para conhecer de perto a tal de Tabuí, tão cantada em prosa e verso.

Lá, segundo pensavam, seriam os reis do pedaço. Afinal, quem saía de Barranco Alto, nas Alterosas, teriam mais inteligência que os pobres nativos da tal Tabuí.

Os dois, mal se aposentaram da prefeitura, deram uns beijos tortos e de raspão nas respectivas patroas e filhos e, de posse de uns panos de bunda, um bom pedaço de fumo de rolo, uma lata de Neston lotada de farofa de frango, uma sacola de torresmo e duas garrafas de pinga, partiram rumo ao desconhecido.

E andaram, andaram e andaram, sempre ‘de a pé’, que cansaram. A pinga acabou. O fumo de rolo acabou. Torresmo e farofa de frango, também. Acabou tudo!

- Vamos voltar pra trás, compadre Mansueto? Saporra de Tabuí não existe não!

- Não, compadre Zacarias. Já que tamos aqui, vamos até mais na frente um pouco. Tá vendo aquelas luzes? Deve ser uma cidadezinha qualquer. A gente para, compra mais umas pingas, tenta esvaziar o tanque do sexo, come umas comidinhas, compra umas bolachas e segue adiante.

E lá chegaram. Entraram num boteco, mataram a fome de comida, tomaram todas e se danaram a contar lorotas pros frequentadores do local.

Mansueto, depois de um arroto, muito falante, apresentou-se como um fazendeiro próspero, dono de mais de quatro mil cabeças de gado de corte. Já Zacarias, mais comedido, gabou-se de ser representante de uma concessionária de carros impostados. Mentiram até perder de vista a razão. Aliás, só os dois falavam. O resto do povo escutava, com clara desconfiança. Resto do povo é modo de dizer. Não havia mais que seis pessoas ouvindo os fanfarrões.

Quando a cachaça atingiu o córtex do cérebro, num arroubo, Mansueto grita: oi, gente boa, nós tamos atrás de uma porcaria de lugar que se chama Tabui. Cêis sabem onde fica? Dizem que lá é terra onde todo mundo dá. O padre dá, a mulher do prefeito dá, o xerife dá, as meninas dão e nós tamos numa seca danada!

De repente, do fundo do bar, uma voz de autoridade se levanta e dá ordem de prisão aos dois.

Adivinhem quem era o delegado?

Passada a carraspana, os dois foram expulsos de Tabuí. Será que terão coragem de voltar?

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

JARDIM FECHADO: Mário de Oliveira

“Mário de Oliveira (?-1977) é, cronologicamente, par droit de naissance, o primeiro poeta e, por igual, o primeiro bacharel em Direito do então Território, hoje Estado do Acre. Nascido em Rio Branco, no antigo seringal “Empresa”, fez os estudo primários e secundários em Manaus, onde não só conviveu com futuros expoentes das letras amazônicas, como Álvaro Maia, Cosme Ferreira, Carlos Mesquita, Vicente Bonfim e Edgar Lobão, mas também ensaiou os primeiros passos no beletrismo planiciário, assinando crônicas e poesias nas revistas estudantis “Aura” e “Lúmen Amazonense”, que fizeram época.
Transferindo-se para Fortaleza, torna-se, em 1914, bacharel em Ciências e Letras e, em 1918, com distinção, em Direito. Na capital cearense, o pendor literário do jovem acreano acentua-se e é chamado a integrar o grupo acadêmico “Tertúlia Clóvis Beviláqua”, que editava a revista “Tertúlia”, da qual se faz redator-secretário e ativo colaborador, como cronista e poeta.
Sua poética, como não podia deixar de ser, sofre influência da época, quando, no plano nacional, pontificavam Olavo Bilac, Guimarães Passos, Vicente de Carvalho e tantos outros mestres do Parnaso brasileiro. Embora chegue a adotar formas menos rígidas, posteriormente, como a polimetria e o verso branco, a verdade é que nunca abandonou a linguagem, a medida e o ritmo clássicos tradicionais, perdendo a moderna poesia brasileira, destarte, quem poderia ter sido um de seus elementos em prol.
De retorno à terra natal, aí passa grande parte da vida, no exercício de atividade polimorfa, no magistério, na imprensa, na tribuna, já membro fundador da Academia Acreana de Letras, já do Instituto Histórico e Geográfico do Acre. Quando dali se retira, por imposição do cargo que ocupa no Ministério Público da União, vai fixar residência no Rio de Janeiro e, após a mudança da capital, em Brasília, cidade ainda hoje se encontra, no gozo da tranquila e merecida aposentadoria dos que cumpriram o dever.” Romeu Jobim, prefácio, dezembro de 1970.


SAUDADES
“Ora (direis), ouvir estrelas...”
Bilac

Longe de mim – suplico – os olhos ponhas
No constelado manto das estrelas,
E busques, dentre as muitas, uma delas,
Que te fale de mim, se acaso sonhas...

Certo que ouvi-las, tão somente pelas
Cintilações de luz, flébeis, tristonhas,
É só das almas que, entre si inconhas,
Sabem senti-las, muito mais que vê-las...

Pois bem, atenta! Quando a noite, em meio,
Na azúlea concha for declinando,
– Tu hás de ouvir, a palpitar-te o seio,

Que uma fala de mim, de como, e quando,
Eu, a fitá-la, de saudades cheio,
Versos de amor, a ti, vou recitando... p.36


SAUDADE

Em certa noite enluarada,
Da “via láctea” na estrada,
Que eu fitava, em nostalgia,
Meus tristes olhos magoados
Viram, então, deslumbrados,
O que, estranho, sucedia:

No azul do céu, as estrelas,
A fim de eu bem entendê-las,
Foram-se, aos poucos, juntando,
Formando a palavra triste,
Que em todo peito coexiste,
E mais em quem vive amando...

E em sete letras, apenas,
Lembrando, porém, de penas
Um mundo, que nos invade,
– Eu li a triste palavra,
Que, dentro em mim, mora e lavra:
– Eu li, bem claro: – “Saudade”... p.81


REVIVESCÊNCIA

Quanto tempo estivemos separados,
Vivendo a solidão de almas viúvas!
Ó triste coração, quase estiolados,
Quais pobres flores a que faltam chuvas...

Tal, porém, acontece à “sempre-viva”,
Que um pouco de umidade reverdece
Nossa paixão, em ânsias redivivas,
Por nos revermos, mais se exalta e aquece.

Que indizível cadeia de contrastes
É a vida dos que se amam e se querem!
Queixas, mágoas, pesares e desastres,
– Tudo é esquecido com se, apenas, verem...

As desventuras, que, silentes, moram
Na alma de dois amantes sofredores,
Transformam-se em sorriso, e ao lábio afloram,
Como no campo desabrocham flores...

Ver-te de novo... Ter-te perto, enfim...
Prender, nas minhas, tuas mãos queridas...
Sentir teu corpo aconchegado a mim...
– Quanta recordação de horas vividas!
E os nossos lábios se buscando, ardentes...
E o langor dos teus olhos de veludo...
E as carícias das nossas mãos frementes...
E o meu silêncio te dizendo tudo!...

Horas de redenção, horas benditas!
Horas de enlevo, e êxtase, e ventura!
Horas plenas de graças infinitas!
Horas cheias de sonho e de ternura!

Horas, que valem pelas dores todas,
Que hemos sofrido, quase sem ter fim!
Horas em que sagramos nossas bodas:
– Eu, todo em ti, e toda tu, em mim... p.82-83


MEMENTO

Homem, vaidoso Irmão! – vamos ao Cemitério.
Dos Mortos este é o Dia... Anda, pois; vem comigo.
Vamos, juntos, sentir, bem de perto, o castigo
Que da Vida é a Morte, em seu atro mistério...

Na silente mansão, em cada rosto amigo,
Sentiremos da Dor o intangível império,
A enlutar corações, e, qual rubro cautério,
Queimando, dentro d’alma, a cada um consigo...

E veremos também que humanos preconceitos
Tombam, frágeis, por terra, em face da verdade:
– Que todos somos pó, e às mesmas leis sujeitos!

A vestal e a rameira, o pária e a potestade,
A jazerem, por fim, nos derradeiros leitos,
Têm, tornados em lama, a perfeita igualdade... p.97


A FLOR DA VIDA

Flor em botão, – semelha a infância descuidadosa,
A sorrir para a vida,
Como se a vida sempre um mar fosse de rosa...

Flor aberta, a seguir, – é a idade apetecida,
Esparzindo perfume,
E que a ronda de amor dos colibris convida...

Flor secando, a morrer, de mágoas se presume
            Desfolha-se a corola,
As pétalas caindo, em silente queixume...

Pois botão, depois flor, que, em breve, se estiola,
Pendendo, emurchecida,
– Eis a imagem real, que aos olhos desenrola
A nossa própria vida... p.107


POEIRA DA ESTRADA

Como é grata a partida pela estrada
Da vida, manhã clara, sol nascente!
Em cada curva, em cada canto, em cada
Moita, um pássaro canta à alma da gente...

Do meio dia ao sol, a caminhada
Já de um quase cansaço se ressente.
E em nossa fronte, em bagas perlejada,
Mede-se o esforço, cada vez crescente...

Descamba o sol. No topo da colina,
Olhando da subida os duros flancos,
A fronte se nos curva e ao chão se inclina.

E da escalada de urzes e barrancos,
A cabeça nos touca a poeira fina:
– O pó de prata dos cabelos brancos... p.109


POEMA DO ANO NOVO

O homem será sempre a mesma eterna criança,
A iludir-se de sonho e a viver de esperança!

Em cada ciclo anual, quanta desilusão
Lhe vem pungir a vida e o próprio coração!

Nem se lembra, talvez, que muito do que anseia
É, dos tempos de crianças, um castelo de areia...

Nem se lembra, por certo, à hora de sonhar,
Que o sonho da ilusão é amargo, ao despertar!...

Continua sonhando, a querer iludir-se,
Esquecido que a vida é feiticeira Circe,

A transformar em mal todo bem que logremos,
Em fel a converter algum mel que libemos...

Assim, quando a ventura à porta, de mansinho,
Nos bate, qual temendo acordar mau vizinho,

Não tarda que a desdita, a, de longe, espreitar,
Nos venha, só de má, o bem arrebatar...

Se a alegria nos chega, em visita, bondosa,
A tristeza se apressa a surgir, invejosa...

Se o riso nos aflora à pétala dos lábios,
Pronto as lágrimas vêm, com amargos ressábios...

Se a paz espiritual faz morada em nossa alma,
É preciso lutar, para ter essa palma!

Se a bondade reside em nosso coração,
Fazendo-nos querer a outrem como irmão,

A perversa maldade a descrer do altruísmo,
Julga impuro esse afeto e ri-se com cinismo...

Se o prazer nos ilude, em momentos felizes,
Entrelaçadas nele a dor tem as raízes...

E é sempre assim. Por mais que busquemos ventura,
Tudo quanto é pungente a ela se mistura.

No entanto, o sonhador continua sonhando,
Perdendo a ilusão, outra ilusão buscando;

Buscando a borboleta estranha da esperança,
Que alimenta de sonho a mesma eterna criança...

E atrás da borboleta ilusória e erradia,
Da túnica da vida ele a trama desfia...

ANO NOVO, que vens, qual borboleta iriada,
Novos sonhos trazendo em cada dia, em cada

Instante, – sê, por Deus! o eterno semeador:
– Multiplica ilusões ao pobre sonhador!... p.113-114


SUPLÍCIO

Num mundo vegetal, também, dramas se passam,
Pungentes, silenciosos,
Como tantos, cruciantes, dolorosos,
Que ora esmagam nossa alma,
Ora a rechaçam,
Sem que, exteriormente,
A máscara da face, sempre calma,
Transpire a mágoa ingente,
Que lhe dói,
A angústia inenarrável, que a corrói...

Assim, a “OEIRANA”
– “SALIX HUMBOLDTIANA”

Acorrentada ao seu destino amargo,
De eterna prisioneira
Da gleba ribeirinha em que nasceu,
E medrou, e cresceu,
– Tântalo vegetal
Padece a mágoa
Torturante, assassina, indizível, letal,
Que se prolonga uma estação inteira:
– De ver passar, ao pé de si, tanta água,
Que o rio vai levando,
Vai levando,
Enquanto, em gesto largo,
De súplica e humildade,
Como esmoler, que implora a caridade,
– Ela estende convulsa, os hirtos braços,
No anelo de quem quer fecundante abraços,
À liquida corrente,
Que passa indiferente,
Deixando-a a padecer a agonia inumana...
– Pobre e mísera “OEIRANA”! p.116


VELEIRO BRANCO

Veleiro branco, veleiro branco.
Que, ao longe, passas, riscando o mar,
Tuas velas pandas ao vento franco
Parecem asas a voejar.

Parecem asas cortando o azul,
Enquanto o azúleo mar vais cortando,
Veleiro branco, que o rumo sul
Sereno e calmo vais demandando.

Tuas velas brancas, pandas ao vento,
Parecem asas cortando os céus;
Parecem aves no firmamento;
Parecem lenços dizendo “adeus”.

Parecem braços, que se distendem,
Num gesto largo, num aceno nudo
De mãos trementes, que se desprendem,
Frias, silentes, dizendo tudo...

Parecem lenços que, ao longe, acenam
Um “adeus” dorido, de despedida...
Parecem sombras de almas, que penam
O “adeus” eterno, por toda a vida... p.130


POEMA DA SAUDADE INFINITA

Ah! Como eu gostaria de rever
A bem querida terra dos meus sonhos,
Os meus pagos risonhos,
A maloca nativa,
A querência da infância,
Perdida na distância,
– Mais do tempo impiedoso, e não no espaço,
Já que vai longe a minha meninice...

Vestindo o escafandro da saudade,
A memória mergulha no passado,
E eu revejo – olhos d’alma enamorada –
O modesto lugar em que nasci:

À beira rio, de águas turvas e barrentas,
– O “seringal”, de vida remansosa,
Todo poesia e encanto, aos meus olhos tranquilos...

Embora infrene a luta dos maiores.
Contra o meio telúrico, bravio,
Da selva hostil;
E esta a obstar, em vão, a incontida avançada
Em busca dos recônditos tesouros
Da “hévea” nativa,
– Em derredor de mim,
Alma povoada de candura,
Tudo sorria o riso da inocência...
Tudo cantava um canto de ternura...

Pelos campos olentes,
De moitas florescentes,
– O pipilo, o gorjeio, canto de mil aves,
Em plena liberdade,
Entoando ao Criador
Suas canções de amor...

À margem da corrente fluviar,
De águas cantantes, quérulas, viageiras,
– As “oeiranas” debruçadas a mirar-se
No espelho da linfa transeunte,
Quais ondinas vaidosas e brejeiras...

A assistir-lhes ao banho,
– As vigilantes “canaranas” ribeirinhas
Leques abertos, farfalhando ao vento...

Nos “repiquetes”, de águas novas, turbulentas,
“Balseiros” deslizando ao léu, sem rumo...

Ao primeiro sinal do escassear da linfa,
– A esponjosa flor da espumarada,
A dançar, “de bubuia”, à correnteza...

Como tudo era lindo, aos meus olhos infantes,
Tranquilo o coração, só inocência n’alma!
A vida era um sorriso, e o carinho materno
A transfundir bondade em meu ser ainda insonte...

Agora,
Repassando do tempo a dura caminhada,
(Quantos sonhos desfeitos!
Quantas sofridas mágoas!)
– Eu bem quisera ver-me, como outrora,
A banhar-me naquelas doces águas
Do meu rio da infância,
Com o coração sorrindo para o mundo,
Na ingênua mansidão daquela idade,
Como se só amor ele tivesse a dar-me,
Ao invés da tristeza, em que me inundo... p.148-150


OLIVEIRA, Mário de. Jardim Fechado. Rio Branco: Departamento de Imprensa Oficial, 1971.