segunda-feira, 3 de junho de 2013

O QUE É IDEALISMO?

Profa. Inês Lacerda Araújo 
Filosofia de todo dia
 


O sentido habitual em que se emprega o termo "idealismo" remete à busca de condições ótimas para realizar um projeto de vida considerado o melhor possível. Quando se diz que uma pessoa tem um ideal, significa que ela pretende atingir esse objetivo, mesmo que difícil, até mesmo próximo de um sonho impossível. 

O sentido filosófico do termo remete a ideia, isto é, o pensável, portanto, oposto a real, a material, a sensível. 

Platão celebrou a Verdade, o Bem e o Belo
Platão foi o primeiro filósofo idealista. Os seres reais, sensíveis e materiais podem ser destruídos, se decompõem e essas mudanças impedem que se chegue à pureza da essência, à permanência, àquilo que nossa alma inteligível, e apenas ela tem acesso. Mas como são as ideias, quer dizer, de que elas são feitas, qual é seu ser, como podem elas existirem se são ideias? 

São concebíveis pelo intelecto, em um mundo à parte, o mundo inteligível. Sem ideia de cada coisa seria impossível o saber, a própria filosofia. Sem ideias os seres não passariam de um emaranhado tosco, impossível pensar, conhecer e, portanto, comunicar. O sensível é cópia do inteligível, mas o comum das pessoas se engana, toma aquilo que vê e sente como ser verdadeiro, quando não passa de sombra do mundo das ideias: "os que contemplam a essência imortal das coisas têm conhecimento nítido e não opiniões", escreveu Platão.

Kant celebrou a razão
Do século IV a. C. vamos a Kant (1724-1804), cujo idealismo é transcendental. Enquanto o mundo perfeito platônico é transcendente, acima do sensível, apenas inteligível - para Kant o inteligível depende do sensível. Sem o material da sensibilidade organizado por meio de sua obrigatória inserção no tempo e no espaço, o conhecimento seria vazio. Tempo e espaço formatam o material sensível a fim de poder representá-lo, pois de outro modo seria caótico. As categorias e conceitos do entendimento são o nível seguinte, permitem formular juízos. Todo ser humano é dotado dessa capacidade ou dessas propriedades formais de sua subjetividade e isso não é algo pessoal nem sentimental, não pertence à nossa vida prática, território da moralidade. Pertence ao entendimento puro e a priori, quer dizer, os objetos que se conhece passam por um tipo de regulação para representar todos os fenômenos, dentro dos limites da razão pura. Ao contrário de Platão, é impossível chegar ao ser em si ideal, nossa capacidade de conhecer depende do que é concebível, e o concebível depende de formas, de regras, de leis como o princípio de causalidade. "O pensamento é o conhecimento mediante conceitos", diz Kant, e "transcendental" é o conhecimento que "não se ocupa tanto com objetos, mas de nosso modo de conhecer objetos na medida em que este deve ser possível a priori". 

Hegel celebrou a cultura
O idealismo de Hegel (1770-1831) é objetivo. As ideias não estão no mundo inteligível de Platão, nem no modo como as conhecemos, na pureza da razão kantiana. Elas foram forjadas pela história. Sem as transformações a que estão sujeitas por meio da cultura, do espírito humano em suas obras (arte, filosofia, religião), não haveria ideias nem humanidade, não haveriam os resultados da ação do espírito encarnado em realizações, não haveria sequer sentido (entenda-se por "sentido" tanto as significações da linguagem como caminho, rumo, progressão). O evoluir dialético das ideias culmina no Espírito Absoluto, sua realização nesse itinerário da consciência: a realidade do mundo humano é feita de saber, há lógica e saber em todas as obras humanas, desde a cultura antiga, passando pelo cristianismo até a conciliação do espírito consigo mesmo com a liberdade outorgada a todos nos Estados constitucionais modernos. 

As críticas a esses pensadores idealistas vieram do realismo, do ceticismo, do materialismo e de pragmatismo. Ficam para próximo (s) post (s). 


* INÊS LACERDA ARAÚJO - filósofa, escritora e professora aposentada da UFPR e PUCPR.

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