Jorge Luis Borges (1899-1986)
Quero saber de quem é meu passado.
De qual dos que já fui? Do genebrino
Que traçou algum hexâmetro latino
Pelos anos lustrais já apagado?
É do menino que buscou na inteira
Biblioteca do pai as pontuais
Curvaturas do mapa e as ferais
Formas que são o tigre e a pantera?
Ou daquele outro que empurrou uma porta
Atrás da qual um homem falecia
Para sempre, e beijou no branco dia
A face que se vai e a face morta?
Sou o que já não são. Inutilmente
Sou em meio à tarde essa perdida gente.
BORGES, Jorge Luis. Poesia. Tradução Josely
Vianna Baptista. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. p.188
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