quinta-feira, 4 de julho de 2013

EMILY DICKINSON: alguns poemas

 




***


Morri pela beleza e mal estava
Ao túmulo ajustado
Alguém veio habitar a sepultura ao lado.
(Defendera a verdade.)

Baixinho perguntou: “Por que morreste?”
“Pela beleza”, respondi.
“E eu pela verdade. São ambas uma só.
Somos irmãos”, me disse.

E assim como parentes que à noite se encontram
Entre os jazigos conversamos,
Até que o musgo alcançou nossos lábios
E cobriu nossos nomes.
                                                    

***


Não com um bordão um coração se parte.
Nem com uma pedra.
Um açoite
Tão pequenino que você não vê,
Eu o vi ferir,
Até a enfeitiçada criatura
Sucumbir.
Nobre demais é o nome deste açoite.
Não o digo jamais.

Magnânimo o pássaro
Visto pelo menino.
Cantou
Para a pedra que o matou.


***


Dizem que o tempo ameniza.
Isto é faltar com a verdade.
Dor real se fortalece
Como os músculos, com a idade.

É um teste no sofrimento
Mas não o debelaria.
Se o tempo fosse remédio
Nenhum mal existiria.


***


Esta poeira quieta foi outrora,
Senhoras, cavalheiros e crianças;
Foi talentos, foi risos e suspiros
Blusas, batinas, tranças.

Este lugar foi vívida mansão
De jardins bem-cuidados,
Onde flores e abelhas perfaziam
Circuitos de verão. Hoje é passado.



DICKINSON, Emily. Poemas. Tradução Idelma Ribeiro de Faria. São Paulo: Hucitec, 1986. p.23, 59, 87, 95.

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