Aníbal Beça
Para Clodomir
Monteiro
A palavra é o adereço
com que o poeta se enfeita
para o res-
caldo.
(A ferrugem e a alimária)
A escama que
re-descobre
re-veste
re-pensa
ferraduras de pangaré
chão de muito pisar
xerém de muito pilar.
Aí está a oficina inoxidável:
retalho
e rebotalho
zuarte
e seda
ferrão
de lacraia.
Como as osgas são o giz
descorando as paredes
e as pedras aborto de águas;
como o camaleão se despe
de franjas aveludadas
das asas de mil borboletas
paridas de um decamerão:
musgoso
verdoso
limoso
Lápide de orgias
o muro se inscreve
no aprendizado supletivo
do crivo da luz:
avena
de caramujos
centopéias
alinhavadas
pelas
agulhas do sol
ária amarela
solitária
partitura
de clave
clara
e escura.BEÇA, Aníbal. Banda da asa: poemas reunidos. Rio de Janeiro: Sette Letras, 1998.
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