Isaac Melo
O nobre deputado ao centro da imagem. Sobre a reportagem leia em AC24Horas, onde consta a imagem acima. |
O trabalhador comum, o que
sai às cinco, seis, sete da manhã, e depois de uma jornada cansativa de seis,
oito ou até mais horas de trabalho retorna a seu lar, à esses nenhum vereador,
deputado ou senador vai diante de tribunal de justiça ou do trabalho levantar
cartaz pedindo salário mais justo, melhores benefícios e garantias
trabalhistas. Não há vozes que clamam por justiça por eles. No entanto, para os
operários da pátria da TelexFree, que querem ganhar dinheiro palitando os dentes,
à esses, deputados se organizam para defendê-los e até se prestam a ir
pessoalmente levantar cartaz com dizeres clamando por justiça. Não estou
contestando o direito dos que de fato possam ter sidos prejudicados. Que a Justiça seja feita. O que me causa estranheza é a atitude de alguns homens
públicos. O autor da matéria ressalta que “o comunista Moisés Diniz incorporou
a causa e está disposto a ir às últimas conseqüências”. E ainda acrescenta,
como se fosse um grande feito, que “Diniz é bem visto pelos divulgadores e é
tratado como líder do marketing multinível”.
Justiça, sr. Deputado,
clamam aqueles que vivem e morrem à míngua, praticamente, à beira de rios, estradas,
ramais e periferias acreanas por falta de um sistema de saúde e saneamento
básico que funcionem.
Justiça, sr. Deputado,
clamam os pais que a cada dia veem seus filhos tragados ou na iminência de o
serem pelo mundo das drogas ante a passividade do poder público.
Justiça, sr. Deputado,
clamam aqueles que não tem a certeza de que, ao sair de casa, irão retornar,
ante o caos da segurança pública. E ao retornar, se ainda encontrarão a sua
casa inviolável.
Justiça, sr. Deputado,
clamam aqueles que tem perdidos as suas vidas nas estradas e ruas esburacadas e
mal sinalizadas do Acre.
Justiça, sr. Deputado, clamam
aqueles que padecem, e mesmo morrem, à espera de atendimento nos hospitais, num sistema de
saúde precário e insuficiente.
Justiça, sr. Deputado,
clamam os “brocadores” de campo do Acre que, sob um sol causticante ou sob
chuvas torrenciais, labutam o dia inteiro para ganhar uma miséria, e sem
nenhuma assistência trabalhista.
Justiça, sr. Deputado,
clamam os pais que ao fim do dia veem seus filhos tristes e esquálidos,
atormentados pelo fantasma da fome e da miséria.
Justiça, sr. Deputado,
clamam os jovens assassinados e assassinos cujo futuro poderia ter sido escrito
diferente se não lhes fosse negados alguns direitos básicos, como o ter um lar,
comida e oportunidade.
Justiça, sr. Deputado,
clamamos nós, contra a classe política que subjuga, com suas anomalias
acéfalas, a inteligência e a capacidade crítica do povo brasileiro.
A justiça, sr. Deputado,
não deve ser uma palavra de luxo, nem exclusividade de poucos. Clamai por
justiça. Porém, clamai para que se cumpra a justiça em sua totalidade.
Ide, sr. Deputado, às
últimas consequências, mas às últimas consequências lutando por uma educação de
melhor qualidade, para que o filho do agricultor tenha as mesmas chances que o
filho do doutor.
Ide, sr. Deputado, às
últimas consequências, mas às últimas consequências lutando para que a cultura
se difunda, e seu acesso não seja privilégio apenas de uma classe.
Ide, sr. Deputado, às
últimas consequências, mas às últimas consequências lutando para que cada um
tenha a possibilidade de ter um emprego, e digno, para que no fim do mês o
governo não o humilhe com suas bolsas e seus vales, quando o que fato ele
precisa é de apoio e investimento econômico e humano.
Sim, se vocês querem ser
ouvidos. Imagina, então, o povo! Mais ainda o querem ser. Quem ouve os seus
clamores? Para o povo, há os rosários de problemas, que todos nós sabemos.
Nunca, politicamente, com tanto político, e com tantos direitos, o povo real
esteve tão só e desprotegido. É trampolim. Escada que pode ser descartada após
cada eleição. Escarram-se em nós. Fazem-nos de estercos para adubarem seus
projetos pessoais.
Mas, aprendi com o poeta,
do povo vai depender a vida que vai levar. Vai doer. Vai aprender. Só não temos
o direito de calar.
p.s. Rio Branco é
atormentada por assaltos e arrombamentos, Tarauacá e Cruzeiro do Sul empestadas
de drogas, e a então pacata Feijó estabelece, devido onda de violência, toque
de recolher a seus cidadãos. E o Acre achata.
Reflexão bastante pertinente, Isaac. Enquanto o Acre está afundando em problemas sociais, um represente do povo, assume como bandeira de luta uma questão secundária.
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