Antônio Franciney
Ontem, 29 de dezembro, saboreei a última página de Páginas da Minha História, do agora conhecido
(como escritor) Edson do Vale Sidou.
O livro foi um dos meus presentes de Natal,
ofertado pela minha esposa e gentilmente autografado pelo autor ali mesmo no
balcão da Drogasid.
É a seleção dos melhores e mais heroicos
momentos de sua vida e uma viagem à Cruzeiro do Sul dos últimos 62 anos “antes
de tudo”.
A minha vontade era realizar a leitura em um
único round, sem pausas, em menos de um dia, mas não foi possível. Tão
logo iniciei a leitura, percebi estar diante de uma biografia diferente.
“Páginas da Minha História” merecia um olhar mais profundo. E assim, desliguei
os motores e desci na “bubuia”, sem pressa, em quatro dias.
A modéstia parece mesmo acometer os bons
escritores, se um escritor apresenta sintomas de vaidade, se pavoneando das
suas obras, desconfie da verdade expressa em suas linhas. Assim também,
modestamente, o mais novo escritor do Juruá do alto dos seus 83 anos de vida
afirma que não “ostenta certificados e que suas linhas são tortas”.
Não ostentar certificados para quem pretende
escrever a verdade é uma vantagem, estamos cansados de ver intelectuais,
diplomados até (sabe-se lá onde) empregarem suas letras a serviço do mal e da
difamação, transformando pilantras em heróis, ladrões em benfeitores e...
(melhor ficar por aqui). Mas e daí, Deus não escreve por linhas tortas? ora!
Tortas e expressivas..., assim, me vi
adolescente transportado à Foz do Tarauacá admirando o por do sol, imaginado o
que viveria a imaginar, boêmio em Cruzeiro do Sul, recém casado e vendo a casa
encher-se de filhos, desafiando a Ditadura Militar, e vencendo... um a um os
adversários gratuitos e as dificuldades do tempo, sem jamais perder a
esperança, a ternura e a altivez.
A melhor aula sobre a História de Cruzeiro do
Sul, principalmente no capítulo “Comunicações”. Edson Sidou e sua história de
vida, nos oferece uma oportunidade de voltar ao passado sim, isso é latente em
cada detalhe, minúcias, pormenores, (é possível sentir o cheiro da mesa da
cozinha onde a funcionária da casa da infância em Eirunepé desossava os bois),
sim, é uma aula de História, mas o que me causou maior admiração em sua
narrativa foi o exemplo de vida, (que já assimilei para repassar aos meus
filhos). Abstrai de sua narrativa que é possível vencer pela honestidade, pelo
caráter, pela simplicidade e principalmente pela fé em Deus.
Finda a leitura, algumas certezas: “Páginas
de minha história” é apenas um ponto de partida, o Juruá aos poucos vai se
mostrando e certamente a maior delas, a de que a história de Cruzeiro do
Sul(como toda história que valha a pena) é a história de seus moradores. Edson
do Vale Sidou é um dos mais ilustres, não apenas pelo livro, mas pelo exemplo
de cidadão e pai de família.
Sua narrativa é a um só tempo sublime e
austera e quem sou eu para julgar os sentimentos que se desprendem dela? Eis
alguns trechos:
“Nessa cozinha havia um grande fogão à lenha,
um tambor de ferro de duzentos litros (depósito de água) encostado à parede ao
lado do jirau de lavar louças”.
“(...) Era um homem vaidoso e arrogante.
Durante a primeira entrevista, chegou a dizer que nem mesmo o tempo impediria a
conclusão dessa rodovia pelo Batalhão do Exército(...)”.
“Em seguida, saiu dirigindo uma enorme
“moto-script” seguido de muitos outros veículos pesados, desfilando pela ruas
da cidade, como em uma grande parada, transmitindo a toda a população uma
mensagem de força e poder”.
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"Quando se sonha só, é apenas um sonho, mas quando se sonha com muitos, já é realidade. A utopia partilhada é a mola da história."
DOM HÉLDER CÂMARA
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