quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

PÁGINAS DA MINHA HISTÓRIA

Antônio Franciney


Ontem, 29 de dezembro, saboreei a última página de Páginas da Minha História, do agora conhecido (como escritor) Edson do Vale Sidou.

O livro foi um dos meus presentes de Natal, ofertado pela minha esposa e gentilmente autografado pelo autor ali mesmo no balcão da Drogasid.

É a seleção dos melhores e mais heroicos momentos de sua vida e uma viagem à Cruzeiro do Sul dos últimos 62 anos “antes de tudo”.

A minha vontade era realizar a leitura em um único round, sem pausas, em menos de um dia, mas não foi possível. Tão logo iniciei a leitura, percebi estar diante de uma biografia diferente. “Páginas da Minha História” merecia um olhar mais profundo. E assim, desliguei os motores e desci na “bubuia”, sem pressa, em quatro dias.

A modéstia parece mesmo acometer os bons escritores, se um escritor apresenta sintomas de vaidade, se pavoneando das suas obras, desconfie da verdade expressa em suas linhas. Assim também, modestamente, o mais novo escritor do Juruá do alto dos seus 83 anos de vida afirma que não “ostenta certificados e que suas linhas são tortas”.

Não ostentar certificados para quem pretende escrever a verdade é uma vantagem, estamos cansados de ver intelectuais, diplomados até (sabe-se lá onde) empregarem suas letras a serviço do mal e da difamação, transformando pilantras em heróis, ladrões em benfeitores e... (melhor ficar por aqui). Mas e daí, Deus não escreve por linhas tortas? ora!

Tortas e expressivas..., assim, me vi adolescente transportado à Foz do Tarauacá admirando o por do sol, imaginado o que viveria a imaginar, boêmio em Cruzeiro do Sul, recém casado e vendo a casa encher-se de filhos, desafiando a Ditadura Militar, e vencendo... um a um os adversários gratuitos e as dificuldades do tempo, sem jamais perder a esperança, a ternura e a altivez.

A melhor aula sobre a História de Cruzeiro do Sul, principalmente no capítulo “Comunicações”. Edson Sidou e sua história de vida, nos oferece uma oportunidade de voltar ao passado sim, isso é latente em cada detalhe, minúcias, pormenores, (é possível sentir o cheiro da mesa da cozinha onde a funcionária da casa da infância em Eirunepé desossava os bois), sim, é uma aula de História, mas o que me causou maior admiração em sua narrativa foi o exemplo de vida, (que já assimilei para repassar aos meus filhos). Abstrai de sua narrativa que é possível vencer pela honestidade, pelo caráter, pela simplicidade e principalmente pela fé em Deus.

Finda a leitura, algumas certezas: “Páginas de minha história” é apenas um ponto de partida, o Juruá aos poucos vai se mostrando e certamente a maior delas, a de que a história de Cruzeiro do Sul(como toda história que valha a pena) é a história de seus moradores. Edson do Vale Sidou é um dos mais ilustres, não apenas pelo livro, mas pelo exemplo de cidadão e pai de família.

Sua narrativa é a um só tempo sublime e austera e quem sou eu para julgar os sentimentos que se desprendem dela? Eis alguns trechos:

“Nessa cozinha havia um grande fogão à lenha, um tambor de ferro de duzentos litros (depósito de água) encostado à parede ao lado do jirau de lavar louças”.

“(...) Era um homem vaidoso e arrogante. Durante a primeira entrevista, chegou a dizer que nem mesmo o tempo impediria a conclusão dessa rodovia pelo Batalhão do Exército(...)”.

“Em seguida, saiu dirigindo uma enorme “moto-script” seguido de muitos outros veículos pesados, desfilando pela ruas da cidade, como em uma grande parada, transmitindo a toda a população uma mensagem de força e poder”.

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