SONETO DA ENCARNAÇÃO
José Lopes Marques
No quenótico logos encarnado
O mistério inefável se desvela,
Numa síntese tão magna e singela,
O divino abre mão do seu estado.
A vontade do Pai Ele revela,
Como Deus, fez-se auto limitado,
Pra, na cruz, ter a morte do seu
lado
E verter seu sublime sangue nela.
Encarnou pra beber amargo fel,
A coroa de espinho suportar,
Para ouvir o escárnio mais cruel.
O juiz permitindo-se julgar
E aceitando a sentença como um réu,
Para o injusto, por si, justificar.
Belém-PA, Março de 2006.
SIMÃO CIRENEU
José Lopes Marques
Homem algum sua cruz quis carregar,
Por isso, forçaram um cireneu,
Onde estavam os dois de Zebedeu,
Para a dor de seu mestre aliviar?
Filipe, André e Bartolomeu
Fugiram espantados do lugar,
Simão, resoluto em seu negar,
E o Messias sozinho padeceu.
Vencido pela dor o Nazareno,
Já quase perdendo a sobriedade,
Precisa de auxílio do terreno.
Mas todos em sua crueldade,
Não fazem um gesto tão pequeno
Ao que levou a cruz da humanidade.
João Pessoa-PB, março de 2008.
A INFINITA SOLIDÃO DA HORA NONA
José Lopes Marques
Três horas de densa escuridão,
E o Filho, no Gólgota, em agonia,
Desejou de seu Pai a companhia,
Consumido de extrema solidão.
Recusou fel e vinagre ao fim do dia,
Não bebeu esse anestésico vão,
Já que era a dor da separação,
Que à sua alma inquieta consumia.
Só, o Filho contempla a eternidade,
Vê distante seu único Semelhante
E, sozinho, carrega a iniquidade.
Vendo o seu desamparo lancinante,
Grita a dor que sua alma inteira
invade,
Dor infinda sentida em um instante.
João Pessoa-PB, março de 2008.
> José Lopes Marques é escritor e poeta acreano, nascido em Tarauacá. Formado em Teologia pelo Seminário Batista do Cariri, em Filosofia pela Universidade Federal do Pará (UFPA), especialista em Ensino de Filosofia (UFC) e mestrando em Filosofia pela Universidade Federal do Ceará. Além disso, é professor de Filosofia da rede pública do Estado do Ceará e da Faculdade Batista do Cariri. É autor de Diário de Sonhos do Doutor Satírico (All Print, 2013).
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