José
FARHAT
Falemos hoje de aviação. Pesquisando para
comemorar o primeiro voo solo de Amelia Earhart, de Hawaii à Califórnia, em 11
de janeiro de 1935, distância mais longa que aquela que separa os Estados
Unidos da Europa, pousei na Encyclopaedia Britannica e acabei voando na
lembrança de minha própria ligação com a aviação, desde o dia da
chegada do primeiro avião que pousou em águas de Rio Branco, no Acre, um ano e
quatro meses após o voo de Earhart, o que me levou ao site Alma Acreana
onde encontrei alguns detalhes deste último fato histórico.
A narrativa do acontecimento pelo site Alma
Acreana mereceu alguns reparos e escrevi para os editores do site e eles
publicaram a minha versão sobre quem primeiro gritou ao ver um avião no céu, um
pontinho no horizonte.
Um primeiro avião, da estadunidense Panair,
fracassou numa tentativa de amerissagem em Rio Branco e, meses depois, a
companhia alemã Condor teve sucesso.
Hidroavião Taquary |
A aventura aeronáutica acreana não ficou por aí e, junto
com Otávio Bonfim de Oliveira, exemplo de garoto bem comportado, construímos um
avião com duas caixas, nas quais eram importadas do outro Brasil para o Acre as
cervejas produzidas em Belém, e duas folhas de zinco formando as asas. Otávio
arrumou um quepe e se tornou o comandante. O avião decolava voava, voltava
amerissava ou pousava, para nós, enquanto não saia do chão, nos baixos da
residência de Dr. Mário de Oliveira.
Minha vida seguiu seu rumo e, quando cresci, vendi aviões
comerciais durante 12 anos, já tinha um brevê do Líbano e tirei outro aqui mesmo,
no Campo de Marte em São Paulo, e continuo, aos 86 anos, interessado em tudo o
que se refere a avião e aviação. Para que se tenha uma ideia do quanto estou
ligado, passei o dia chateado porque uma transportadora aérea da Arábia Saudita
comprou uma dezena de aviões Bombardier do Canadá preterindo os aviões
da Embraer que tanto sucesso têm apresentado na região; reminiscência de
vendedor que perdeu uma venda, talvez.
Amelia Earhart (1897-1937) |
Earhart mudou-se de cidade em cidade
frequentemente, com sua família, e completou o colegial em Chicago em 1916. Foi
enfermeira militar no Canadá durante a I Guerra Mundial e assistente social na
Denison House, em Boston, depois da guerra.
Contrariando o desejo de sua família,
aprendeu a voar em 1920-1921 e em 1922 comprou seu primeiro avião, um Kinner
Canary de segunda-mão, biplano de dois lugares, pintado de amarelo vivo que
Earhart apelidou de “Canário”, com o qual registrou o primeiro recorde
feminino em altitude, voando a 14.000 pés (4.267,2 m).
Earhart tornou-se, entre 17 e 18 de
junho de 1928, a primeira mulher a voar sobre o Atlântico, entre os continentes
que o oceano separa, americano e europeu, mas era somente como passageira em um
avião Fokker trimotor, pilotado por Wilmer Stultz e Louis Gordon. Ao
voltar, e no mesmo ano, publicou suas memórias deste voo num livro intitulado 20
Hrs., 40 Mi, referência ao tempo de duração do voo.
Nem seu casamento, em 1931, com o
publicitário George Palmer Putman, impediu-a de continuar sua carreira sob o
seu nome de solteira corroborando o que me disse um velho lobo do ar certa
feita no aeroporto de Bauru onde fui treinar: “Voar, é cachaça”.
Mulher determinada e para justificar
a fama que lhe trouxe o voo sobre o Atlântico, ela entrou na cabine de seu Lockheed
Vega e voou sozinha, de Newfoundland para a Irlanda, um voo que estabeleceu
o recorde de tempo de 14 horas e 56 minutos. Depois deste voo, ela escreveu
outro livro: The Fun of It (1932).
Intrépida, ela empreendeu uma série
de voos através dos Estados Unidos, o que a colocou à testa de um movimento que
encorajou o desenvolvimento da aviação comercial.
Como era de se esperar, ela também
tomou parte ativa no esforço de abrir a aviação para as mulheres e acabar com a
dominação masculina no setor; o que de certa forma as mulheres ainda lutam e
quando conseguem brilham.
Foi em 11 de janeiro de 1935 que ela
fez o voo solo a que nos referimos no início deste artigo, de Hawaii à Califórnia,
superando, devido à maior distância o seu voo da América à Europa. Corajosa,
ela foi a primeira pessoa a ousar tomar esta rota perigosa onde muitos morreram
e ter sucesso.
Não contente com as realizações, até
então, a arrojada Earhart, acompanhada de Fred Noonan como navegador, ela
iniciou, em 1937, a bordo do bimotor Lockheed Electra, para um voo ao
redor do mundo. Completados mais de dois terços de distância de seu objetivo,
seu avião desapareceu no Pacífico central, próximo à Linha Internacional da
Data.
Seu desaparecimento misterioso
levantou muitas questões e especulações a respeito dos acontecimentos que o
cercaram, mas a única verdade é que os fatos continuam desconhecidos.
Hoje temos aviões que voam de
qualquer lugar, percorrem continentes e voltam a pousar nos pontos de partida e
voar para e de Rio Branco é comum, o que não tira a importância dos dois fatos
aqui apontados.
> José FARHAT é formado em Ciências Políticas (USJ-Beirute) e Propaganda
e Marketing (ESPM-São Paulo), tem cursos de extensão ou pós-graduação em:
Comércio Exterior (FGV-São Paulo), Introdução à Teoria Política (PUC-São
Paulo), Direito Internacional (PUC-SP) e cursou Filosofia no Collège Patriarcal
Grec-Catholique (CPGC-Beirute). Domina os idiomas: Árabe, Francês, Inglês e
Português e tem artigos publicados sobre Política Internacional, no Brasil e no
Líbano. É ex-Diretor Executivo e atual Conselheiro do Conselho Superior de
Administração da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira; foi Superintendente de
Relações Internacionais da Federação do Comércio do Estado de São Paulo e é seu
atual membro do Conselho de Comércio e atual Diretor do Centro do Comércio do
Estado de São Paulo. É diretor de Relações Nacionais e Internacionais do
Instituto da Cultura Árabe. Acesse aqui o site de José Farhat.
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"Quando se sonha só, é apenas um sonho, mas quando se sonha com muitos, já é realidade. A utopia partilhada é a mola da história."
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