Isaac Melo
Ao grande Jorge Tufic
poeta universal,
brasileiro, acreano
“Dos heróis que
cantaste, que restou
senão a melodia do
teu canto?”
Carlos Drummond de
Andrade
A paixão medida
A poesia é um desassossego
E já não sei viver sossegado.
Pessoa que me perdoe,
Não sou poeta fingidor.
Não sei fingir a mim mesmo a minha própria
dor!
Sou poeta para/frase/a/dor.
Para a frase a minha dor.
Para a frase o meu ardor.
Os outros que sejam original,
Quero é a palavra-carnaval
Na folia dos fonemas, sintaxes e morfemas.
Amém. E amemos.
Palavras apenas com tapa-sexo
Desnudas, profanas, sambando na avenida
Entre bacanais de rimas, anacolutos
E anáforas, metáteses
E metáforas.
Tudo o que ora escrevo alguém dantes já
escreveu.
Digo o que me disseram!
Mas digo com o meu tom, as minhas cores,
Os meus sonhos, tremores e temores...
Meu edifício poético de tijolos emprestados,
Escolhidos a dedo e a êxtases.
Só Deus foi original, e por única vez.
Até o homem é paráfrase, imagem, semelhança.
Palavra, engana-se quem a compreende.
Os que nela mergulham, mergulham no mistério.
E por mais que a digam, mais ela se nos
escapa.
A palavra, sendo linguagem, diz o mundo
Que ela mesmo não sabe e esconde.
Aonde?
O poeta, na sua ignorância, sabe.
E, ao saber, já não sabe como dizer.
Êxtase, a poesia.
O que se transmite é apenas vaga expressão
Assim como os rastros, na areia, dão noção
dos pés,
Mas não é o que representa.
Baudelaire, estranho fazedor de belezas,
Colocava entre os grandes homens, o poeta.
Sim, único, dentre os mortais, digno de inveja.
‘Olhos Parados’ de Manoel de Barros me co’move
Eita, poema que eu gostaria de ter escrito.
E teria, se ele não tivesse nascido antes que
eu.
A mesma coisa com Drummond,
Homem que, na calada da noite, transformava
palavras
Em luz, em estrelas, para alumiar os corações.
E, Tufic, com seus fios de luz, a cantar majestosamente
As saudades do seio materno e etéreo de todos
nós.
Sim, grande Mário Chamie, não desprezeis
Os resíduos de indigência com que vivem nós,
Os poetas menores e sem tronos.
Até dessas pedras Drummond pode suscitar
poesia.
Sem os restos, o que resta?
Até a merda (pardon messieurs) vira húmus,
Que aduba a terra, faz germinar a semente e
A planta florescer, para estupefação do poeta
E da criança que passa candidamente.
Se da merda brota flor,
Por que do resto não brota poesia?
É preciso poematizar o poema. É fato.
Poematizar, que é? Senão retirar a poesia das
coisas
E plantar nos olhos da gente!
Casca de ferida, abridor de latas, pneu velho
Rabo de lagartixa, pé de mesa, pôr de sol
Tudo tem prenhez de poesia.
O problema é essas nossas manias de grandeza,
De buscar as coisas do alto
Quando o segredo é debruçar-se sobre as de baixo
E as que nos habitam.
Às vezes, quem me contou foi a Adélia, a
mineira,
Deus tira a poesia da gente.
Mas é preciso perder para ter.
O que possuímos, já perdemos.
O que perdemos é o que fato é nosso.
Sou a eternidade dos que me precederam.
Rimbaud, cujo corpo me chega em papel,
E o espírito, em tinta e caracteres... vive
em mim!
Dou-lhe sangue, fôlego e glória, ainda que
tudo
Sobreviva e independa de mim mesmo.
E Hesse, criador de lobos e sidartas...
E Gibran, o profeta...
Então vestir-se com a túnica inconsútil de
Jorge de Lima...
E ver as águas de Guimarães, o Rosa, a se
ensaboarem
Antes de saltarem da cachoeira...
O inferno com os poetas, ao céu sem eles.
Sem poesia não há salvação. Oráculo do
senhor.
E agora me faço original, a ponto de Lobato:
Tanta palavra para dizer nada,
Tanta palavra para dizer nada,
Esses nadas que são tudo!
você escreveu:
ResponderExcluir"E Hesse, criador de lobos e sidartas...
E Gibran, o profeta..."
do profundo do seringal
a sua poesia-origem está nascendo
dolorosamente nascendo
Como passeador de poetas. Passos juntos com os quais a sua poesia também vai se abrindo. Abraços, Isaac!
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