quarta-feira, 16 de abril de 2014

A UM CARNEIRO MORTO

Augusto dos Anjos (1884-1914)


Misericordiosíssimo carneiro
Esquartejado, a maldição de Pio
Décimo caia em teu algoz sombrio
E em todo aquele que for seu herdeiro!

Maldito seja o mercador vadio
Que te vender as carnes por dinheiro,
Pois, tua lã aquece o mundo inteiro
E guarda as carnes dos que estão com frio!

Quando a faca rangeu no teu pescoço,
Ao monstro que espremeu teu sangue grosso
Teus olhos – fontes de perdão – perdoaram!

Oh! tu que no Perdão eu simbolizo,
Se fosses Deus, no Dia do Juízo,
Talvez perdoasse os que te mataram!


ANJOS, Augusto dos. Toda a poesia de Augusto dos Anjos. Rio de Janeiro: José Olympio, 2011. p.127

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