quinta-feira, 21 de maio de 2015

BICHO DA TERRA

Raimundo Correa (1859-1911)


Homem, embora exasperado brades,
Aos céus (bradas em vão e te exasperas)
Ascendo, arroubo-me às imensidades,
Onde estruge a aleluia das esferas...

Cá baixo, o que há? traições e iniquidades,
As tramas que urdes, e os punhais, que aceras;
As feras nos sertões, e nas cidades
Tu, homem, tu, inda pior que as feras!

Cá baixo: a Hipocrisia, o Ódio sanhudo
E o vício com tentáculos de polvo...
Lá cima: os céus... Dos céus o olhar não desço.

Homem, bicho da terra, hediondo é tudo
O que eu conheço aqui; eis porque volvo
O olhar, assim, para o que não conheço!


CORREA, Raimundo. Poesias. São Paulo: Livraria São José, 1958. p.128

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