O CANOEIRO DO TEMPO
Milton Maia Filho
As asas do tempo são as horas, pássaro que
não para de voar. Voam para bem distante e não voltam mais.
O tempo é como água do rio que corre para o
mar.
A canoa e o remador desafiam a correnteza,
sobem o rio.
A saudade é um canoeiro que faz do tempo um
desafio: sobe contra sua corrente e não se cansa de remar.
COMPARTILHANDO
Milton Maia Filho
Exuberante açaizeiro
Sementes para a passarada
Que sempre chega primeiro
Outras a serem processadas
Divide-se assim a vinha
Fonte de energia e vigor
Em gestos a vida caminha
Desfrutando o amor
Dividindo com multiplicação
Nesse açaizeiro
Passarinhos não faltarão
Para nova plantação
No ar levam as sementes
E largam em novo chão
HOJE AO LUAR
Milton Maia Filho
A vista é fantástica; a encosta íngreme e o
mar infindo a se perder com o pôr do sol. Já bem indo...
No entremear da noite acende-se a fogueira à
luz do luar. Na areia começa a dança e o porvir. O cancioneiro canta quebrando
o silêncio com a canção do mar: as ondas e o bramir.
Na falta de mais gente, são testemunhas as
estrelas e a lua com brilhos incandescentes.
Oh! Grande oceano, conduza sempre o mar a
escrever suas poesias na areia com o seu bailar.
MEU PÉ DE CANELA
Milton Maia Filho
Tempera mingau
O pé de canela
Pode ser de curau
Que fiz para ela
Raspa seca em pó
Joga por cima
Não vale comer só
Gosto que desatina
Na fritada de banana
No arroz doce
Todo mundo ama
Cravo, erva doce e canela
São como temperos da vida
Que adoçam a saudade dela
O POETA, O ESCULTOR E O ALFAIATE: “O poder da
criação”
Milton Maia Filho
O corte do linho pelo alfaiate
ajustou-se na medida certa,
como o escultor da arte
que fez do barro a sua descoberta.
O corte foi o inglês,
a estátua renascentista;
chegou a vez
de um prosaísta:
o poeta,
para fazer das letras
uma festa.
Todo mundo leu, comeu,
Bebeu e dançou como passista,
o que ele rimou e escreveu.
A CURVATURA DA LUZ
Milton Maia Filho
A luz do luar
é a única
que faz curvas
na estrada da noite.
Só obedece
a uma direção:
a que vem do
do coração.
O OLHAR DAS ESTRELAS
Milton Maia Filho
Param no tempo
os melhores momentos,
caminhamos.
Voltamos...
Sobretudo,
no céu, lá bem fundo,
a lua,
e saudade tua.
Mas nas estrelas é que vejo
teu doce olhar,
aonde fica o desejo
de te encontrar.
Então “eu mando
a saudade esperar”.
A ÂNCORA DO AMOR
Milton Maia Filho
Ouvi os céus
E vi brilhantes
Eram estrelas, seus
diamantes...
O firmamento tocava
Surgia da luz da lua
Uma sonata
Para um seresteiro de rua
As estrelas são vagalumes
De Deus
Que dão, ao amor, volumes
Um grande farol iluminou
O caminho do navegante
Ao Porto que um dia sonhou
AS PEDRAS DA SAUDADE
Milton Maia Filho
Não se via nada em curta distância.
Chovia muito e os vultos se difundiam
Entrelaçando-se com ventos de esperança.
Dançavam sombras, e sobre o tempo
escorriam...
O molhado era saudade, o ar que ventilava
Levava-a para o rio
Bem encorpado, que nadava
Para chegar ao mar, seu desafio.
No meio do caminho não mais se encontrou,
Nas pedras ressecadas
Seu leito restou
A morada
Final,
Amada.
***
No armazém da saudade tem lembranças por
atacado e a varejo. Na balança está o tempo a retalho. Mas não há preço que
pague um grama de recordação, visto que o endereço da registradora é o coração.
Milton Maia Filho
***
“Borboletas que beijam o vento” e dançam como
se não saíssem do lugar, aprisionam o tempo fazendo dele a estação de
primavera. Mas em verdade, quando menos se espera, fazem voar saudades.
Milton Maia Filho
***
Com luar nas alturas as estrelas dormem em
noites escuras.
Milton Maia Filho
__________________
MILTON MAIA FILHO é acreano de Rio Branco. Professor,
advogado, engenheiro e poeta. Reside em Portugal.
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"Quando se sonha só, é apenas um sonho, mas quando se sonha com muitos, já é realidade. A utopia partilhada é a mola da história."
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