Luisa Galvão Lessa
Presidente da Academia Acreana de Letras
Por que o povo do Acre escreve com /i/ o seu
gentílico? A resposta a essa pergunta não encontra eco na história, na
tradição, nos tratados linguísticos. Assim, não há lei capaz de mudar o
gentílico de um povo. Nós somos ACREANOS. Vamos respeitar um gentílico que faz
parte dos costumes, história, tradição do Acre há quase dois séculos.
Alguém poderia responder o seguinte: o Acordo
Ortográfico nos obriga a isso. A resposta: NÃO É VERDADE. Ainda não tivemos o
Acordo Ortográfico sancionado por todos os países da lusofonia, embora aprovado
em 1990, encontra-se, hoje, em discussão no Senado Federal. Acordo significa
que todos concordam. Não é o que acontece.
Esse Acordo Ortográfico foi aprovado em 1990,
há dez anos, mas nem todos os países da lusofonia o homologaram. Há grande
resistência a ele nos três continentes. Portanto, quando alguém abole o trema,
porque o trema é desnecessário, está cometendo uma violência. Igualmente quando
alguém escreve ACRIANO está atentando contra a nossa identidade, cometendo uma
violência à cidadania acreana. Ademais, essa mudança se configura como uma
atitude discriminatória, porque o Acordo Ortográfico ainda não está em vigor.E,
mesmo que estivesse, não nos obrigaria a romper com as nossas tradições, que
estão acima de todos os acordos.
Ditas essa palavras iniciais, compreende a Academia
Acreana de Letras que o gentílico acreano é forma consagrada pelo uso
regional desde o século XIX, segundo dados colhidos nas obras: Revista do Instituto do Ceará - ANNO XLIV – 1932; Revista do Instituto do Ceará - ANNO LIII –
1939; Revista
do Instituto do Ceará - ANNO LIV – 1940; em Subsídios para a História do
Alto Purus e Separata da Revista do Instituto do Ceará, Tomo LIV – Ano LIV --
Editora Fortaleza, de autoria de Soares Bulcão.
Também
esta Casa cotejou o Folheto Unitas, publicado na typ. e Enc. de A. Loyola, 8 Pará,
1900, em cuja capa traz os seguintes dizeres: “ A Questão do Acre. Manifesto
dos Chefes da Revolução Acreana ao
venerando Presidente da República Brazileira, ao povo brazileiro e às praças do
commercio de Manaos e do Pará”, com a seguinte legenda: “Os brasileiros livres
nunca serão bolivianos”. Independência ou Morte! Viva o Estado Independente do
Acre!
Esta
Corte, parafraseando a patriótica legenda, diz: “Somos acreanos, nunca acrianos!
Isso porque no ano de 1900, em março, no
Pará, um grupo de revolucionários formou a “Comissão Acreana”, em defesa deste
solo até, então, boliviano. Neste grupo estavam os nobres heróis criadores do gentílico
acreano: Antonio de Sousa Braga, Rodrigo de Carvalho e Gastão de Oliveira.
Concordaram e secundaram o manifesto: Hypólito Moreira, Pedro da Cunha Braga,
Joaquim Alves Maria, Manoel Odorico de Carvalho, Antonio Alencar Araripe,
Joaquim Domingues Carneiro, Luís Barroso de Sousa, Francisco Manuel de Ávila
Sobrinho e Raimundo Joaquim da Silva Vianna.
Considera a ACADEMIA ACREANA DE LETRAS que um
gentílico não se muda por força de Acordo, Decreto, Lei, porque um gentílico
pertence à população do lugar, é nome sagrado que se guarda como um tesouro
raro, que dá voz ao adjetivar um povo. E nesse particular, consagrou-se no meio
linguístico, em todos os tempos, as sábias palavras do grande gramático Fernão
de Oliveira (1536) que “os homens fazem a
língua, e não a língua os homens”. Assim, segundo o mestre, “cada um
fala como quem é”. E, aqui, no
extremo oeste do Brasil a população é acreana, desde o nascimento.
Concluindo, o próprio Acordo diz que os nomes
registrados e aqueles que guardam tradições e costumes permanecem inalterados. Por tudo isso, as Ciências Humanas, por mais magníficos e
atraentes que sejam seus argumentos lógicos e dialéticos, não propiciam
arcabouço seguro para tirar dessa terra acreana o seu gentílico consagrado: acreano.
Dito isso tudo, conclamo os acreanos à preservação do nosso gentílico em
todos os meios de comunicação, com maior força nas redes sociais.
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