Isac de Melo
Pela periferia da cidade
Relembrando da minha mocidade
Revivendo e sonhando em cada flanco
Meu coração viril venceu o tranco
Do suor do cansaço e das passadas
Encontrando pessoas nas calçadas
Dando alô e olá para os amigos
Vendo prédios novatos e antigos
Fiz sucesso na minha caminhada
Quanta gente nos bancos das paradas
Mais e mais as pessoas vão chegando
E aos poucos se acotovelando
Muitas vezes sisudas e caladas
Tão cedinho e já se mostram cansadas
É o peso e o enfado da rotina
Mas existe esperança em cada esquina
E há fé em vencer o desengano
No desejo de cada acreano
De vencer pela fé na mão divina
Posso ver no sorriso da menina
Da criança e do velho aposentado
Que abunda vigor no meu estado
Nessa gente de origem nordestina
Que se orgulha com o nome em que se assina
De Raimundo José ou Juvenal
É João é Francisco é Vidigal
Manoel de Maria e Vitelbino
É Antônio Noel Pedro e Rufino
Benevides Juvêncio e Menelau
Nas pensões no entorno do mercado
Quem parar pra tomar um cafezinho
É bem vindo e tratado com carinho
Se for bom de gogó não sai calado
Futebol casamento ou batizado
Senadinho ou notícias do jornal
Decisões do governo federal
Segurança saúde educação
Se brincar só vai sair da pensão
Almoçado jantado e coisa e tal
Um mergulho na galeria meta
Uma das mais antigas da cidade
Nas vitrines olhando as novidades
O andar do relógio me alerta
Meio dia e a fome me aperta
Vou ao mercado velho almoçar
Imagino que estou à beira mar
Quando olho e avisto a passarela
Com formato de grande barco à vela
Flutuando em noite de luar
Quando era criança estive lá
Vasculhando o espaço cavernoso
Da antiga discolândia Cardoso
Ao vistoso tecidos Cuiabá
Cujo dono era o Jorge Lavocat
Nessa época era tudo diferente
Uma praça de táxi bem à frente
Que até hoje ainda permanece
E quem é do meu tempo não esquece
Hoje revejo tudo novamente...
ISAC DE MELO é poeta e músico popular acreano. Autor do livro "Urucum" (Clube de Autores, 2015).
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"Quando se sonha só, é apenas um sonho, mas quando se sonha com muitos, já é realidade. A utopia partilhada é a mola da história."
DOM HÉLDER CÂMARA
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