O blog Alma Acreana traz, mais uma vez, um material iconográfico
imprescindível para a compreensão da história acreana. Trata-se da publicação
de mais de 100 charges referentes ao Acre, que compreende o período entre os
anos de 1902 a 1927. As charges foram retiradas da revista O Malho, editada no
Rio de Janeiro, e de circulação nacional, entre os anos de 1902 a 1954. Nas
charges, fica patente como o Brasil e os brasileiros reagiam à questão acreana.
Ora críticas, ora humorísticas, ora debochadas, as charges trazem personagens
como o Barão do Rio Branco, Afonso Pena, Rodrigues Alves, Rui Barbosa, Plácido
de Castro. Abordam questões referentes ao conflito entre o Acre e a Bolívia, o
envio de presos para o Acre, o isolamento da região, a busca de autonomia,
denúncias referentes aos desmandos e autoritarismos, fome, etc. Enfim, um
material riquíssimo, agora tornado disponível na internet, para todos aqueles
que se interessam, de modo acadêmico ou independente, pela história acreana,
com a certeza de que muito acrescentará aos atuais estudos de nosso Estado.
Transcrevemos ipsis litteris os
títulos das charges, e suas respectivas legendas. Isaac Melo
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QUEM TEM PADRINHO NÃO MORRE PAGÃO
– Viste? Habeas-corpus
para a gente implicada em apólices falsas, de estellionatos, e denegação da
prisão preventiva do Dr. Gomes Netto... Que mais falta?
– Falta vermos prender e deportar para o Acre
os expostos na Roda da Santa Casa!... Esses é que são criminosos, passiveis de
duras penas...
O Malho, RJ, 28 de janeiro de 1905, Ano IV,
N.º124
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QUASI SE PEGAM...
– Tengo uma idéa portentosa para se ganhar
miliones de pesetas. Usted podria hacer sociedad con yo...
– Vamos a isso! Ganhar dinheiro é commigo.
Diga lá de que se trata.
– Se trata de cambiar nuetas falzas!...
– Que é lá isso? Notas falsas!... Você ‘stá
malucom seu hespanhol das arábias?! E a policia!
– Que importa eso? Lo habeas-corpus...
– Ahi vem você com o abras-copos duma figa...
Isso é só para os gatunos de casaca...
– Mientras, los ratoneros que se fueram para
lo Acre lo ban obtener del tribunal...
O Malho, RJ, 18 de fevereiro de 1905, Ano IV,
N.º127
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ACRE NÃO É MARIMBA!
– Mas que bigodeação, seu compadre! Os quebra
lampiões estão voltando do Acre, que não é graça!
– Pudera! Si os funcionários não querem
ficar, ganhando bons ordenados, quanto mais “eles”, que iam trabalhar de
graça!...
– Trabalhar não! Morrer de graça, si me faz
favor!...
O Malho, RJ, 18 de fevereiro de 1905, Ano IV,
N.º127
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NARIZ DE PALMO E MEIO
Irineu
Machado:
– Má rais te parta! Godofredo Cunha!
que me não deste habeas-corpus aos
meus eleitores desterrados no Acre!... Mas eu me vingo, deixa estar!...
O Malho, RJ, 4 de março de 1905, Ano IV,
N.º129
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VOX POPULI
– Veja você, sinhá Thereza: o governo anda
com tanto medo, que até mandou o Sezerdello para Matto Grosso...
– Ué, gentes! Podia sê muito pió, se elle
fosse mandado pô Acre!
– Isso é verdade, mas ainda assim é desaforo!
– Não é só desaforo: é farta de vergonha!
O Malho, RJ, 22 de abril de 1905, Ano IV,
N.º136
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O RELATÓRIO DO ZÉ
R.B.: – Mas, então, você foi mesmo ao Acre?
Zé: – Fui, sim, seu barão, e vi tudo com estes que a terra há de comer!
R.B.: – E que tal? Fiz um bom negócio, não?
Aquillo dá arame em penca!
Zé: – O senhor fez um bom negocio, si
pretendeu adquirir um cemitério. É como disse o Cunha Mattos: até agosto, o
mais tardar, todos os desterrados estarão liquidados...
R.B.: – Mas não se enriquece homem de Deus?
Zé: – Sim: ganha-se dinheiro para o
enterro...
R.B.: – Ora, bolas! Então é uma espiga!
Zé: – Tal qual seu barão: O senhor tirou-me a espiga da bocca!
O Malho, RJ, 6 de maio de 1905, Ano IV,
N.º138
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A SEREIA DO AMAZONAS
Sá
Peixoto:
– Repare, Sr. Barão, que todos os prefeitos do Acre sahem brigados e doentes...
O melhor é entregar aquillo ao Amazonas...
R.
Branco:
– Sim? Ora deixe-se de maçonarias, seu
Peixoto! Uma cousa daquellas, com tanta borracha e que nos custou tanto arame?!
O senhor sabe lá o que eu suei para comprar aquillo?
Sá
Peixoto:
– De modo que o Amazonas ficou gelado com a sua diplomacia... Ora, barão! Aos
menos partamos aquillo ao meio...
Pecegueiro: – Qual! Seu barão, fique duro!
R.
Branco:
– Partir? Veremos... o seu Amazonas é muito esperto, mas olhe que não ignoro
isto: – Quem parte e reparte e não fica com a melhor parte ou é tolo ou não tem
arte...
O Malho, RJ, 6 de maio de 1905, Ano IV,
N.º138
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IDÉAS NA INTIMIDADE
R.
Alves: –
Mas, Seabra! que diabo de historia é essa de escravos no Acre?
Seabra: – Eu sei lá!... Isso
de escravo é um modo de falar... Pois não dizem por ahi as más línguas, que V.
Ex. quer que todos sejam seus escravos votando no Bernardino? Já quê que é como
eu digo, uma questão de palavras...
R.
Alves: –
Boa idéa seria aproveitar essa gente do Acre para votar no nosso homem, em
troca de uma carta de liberdade... Hein? que dizes?
Seabra: – Boa idéa!...
O Malho, RJ, 24 de junho de 1905, Ano IV,
N.º145
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O ACRE EM TROCOS MIÚDOS
O branco: – Então, não queres ir para o Acre?
O preto: – Ossuncê tá tolo, hein? pensa qui
eu não ouvi lê o discurso de seu
Hasloque? Aquillo lá é pió que no tempo dos zicravo. Gente trabaia, trabaia,
mas dinheiro é tudo p’ra imposto de impostoria. Comida custa dinhêrão; medico
só há p’rou conto de réis; quem não tivé cem lona no borso, não pode morrê. Oia, seu Zuzé, eu só vai p’ro Acre com páo nas unhas, p’ra fazê daquillo
uma terra independente em que si possa vivê! Não tô arrezorvido a sê zicravo e
burro outra vez!
O Malho, RJ, 16 de dezembro de 1905, Ano IV,
N.º170
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ALTAS IMPACIÊNCIAS
Barão: – Mais dias, menos dia, esta questão
da Panther fica resolvida por si
mesma.
R. Alves: – Como assim?!
Barão: – Ora! o Kaiser respeita-me, e até me
chama o Bismarck brasileiro... Por esse lado estou tranquilo. O que me dá
tratos à bola é a pretensão do Amazonas, querendo surrupiar-me o Acre e o
projecto dos cearenses para transformar o Acre em Estado independente. São duas
temendissimas espigas...
R. Alves: – Sim? E depois?
Barão: – Depois... nada! Homem, o senhor
parece que está com pedra no sapato!... Tanta pergunta.
Fique sabendo que estou estudando todas essas
questões e que a minha diplomacia mais uma vez vai embasbacar o mundo!
R. Alves: – Prompto! E fique eu embasbacado,
a olhar para os seus feitos como boi para palácio! Assim, olhe!
O Malho, RJ, 30 de dezembro de 1905, Ano IV,
N.º172
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TAL PAI, TAL FILHO!
Pai
Accioly:
– Filho, precisamos não nos esquecer dos cearenses que estão no Acre. O Amazonas quer abiscoitar aquella
manjuba e si assim for, ficaremos gelados...
Accioly
Filho:
– Tem razão, papai, precisamos não esquecer os nossos e eu estou a prompto a
fazer o sacrifício de ir ser governador do novo Estado.
Pai
Accioly:
– Boa idéa! Teremos onde nos expandir...
Accioly
Filho:
– ... e com aquella reserva, endireitaremos isto aqui...
Pai
Accioly:
– Nós nos endireitaremos primeiramente e depois trataremos do resto.
O Malho, RJ, 13 de janeiro de 1906, Ano V,
N.º174
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CANDIDATURA MANQUÉE
Constantino
Nery: –
Tencionava dar-te esta cadeira senatorial, mas as conveniências partidárias e
sobretudo a necessidade de annexação do Acre ao Amazonas determinaram a escolha
de um cabra mais turuna que você para essas batalhas em secco... apezar de ser
também official de marinha. Você me desculpe, almirante!
Alexandrino
de Alencar:
– Nada tenho que desculpar... Não seria máo ficar a duas amarras, porém, como
temos reforma naval e talvez outros casos, como o da Panther, não faltará sarna para me coçar.
Seja feliz!
O Malho, RJ, 13 de janeiro de 1906, Ano V,
N.º174
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A VERDADEIRA DIPLOMACIA
Barão: – então, vossa
magestade dá ou não dá uma satisfação ao Brasil?
A
Bolívia (ao ouvido do Kaiser): – Não caia em fazer isso de graça: o Brasil
tem muito dinheiro para pagar boas satisfações...
O
Kaiser:
– Contente-se com a que já dei... Mais, não posso.
O Malho, RJ, 13 de janeiro de 1906, Ano V,
N.º174
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AS DUAS ESPIGAS
R. Alves: – Quando eu tomei conta do governo
o Maneco do Banharão empurrou-me a espiga do Acre para eu descascar...
R. Alves: – Quando eu passar o governo a
Affonso Penna empurrar-lhe-ei a espiga do café. Si elle estranhar dir-lhe-ei: –
Quem diabos compra, diabos vende!
O Malho, RJ, 24 de março de 1906, Ano V,
N.º184
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O ABRAÇO EM MANÁOS
Constantino Nery: – Conselheiro, venha de lá
um abraço.
A. Penna: – E que abração! Você com esses
braços abraça o mundo com as pernas...
Nery: – Não faça caso: são de borracha.
A. Penna: – Pelo que parece você quer
estical-os até o Acre...
Nery: – Que duvida! E não é diffícil. Acabo
de os fazer chegar até Pariz, para receber o grande empréstimo do Estado...
A. Penna: – Mais um empréstimo? Oh! com os
diabos!
Nery: – Que tem isso?! O Amazonas é o colosso
que o senhor veio vendo pelo caminho e... ainda não viu nada...
A. Penna: – Mas sei o que me falta ver. O
diabo é que si os Estados recomeçam nos empréstimos, quando a União precisar...
Nery: – Quando a União precisar cá está o
Amazonas para ajudar...
O Malho, RJ, 30 de junho de 1906, Ano V,
N.198
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NO PARÁ
Zé Povo: – Então, excellentissimo, que tal a
sua impressão sobre o extremo norte?
A. Penna: – Magnifica! Uma coisa, porém, me
dá volta ao miolo: é a energica representação que recebi da Associação
Commercial do Amazonas...
Zé Povo: – Ah! Já sei... Tudo aquilo é por
causa do Acre. As repartições federaes andam numa balburdia medonha! Ninguém se
entende! Todos querem metter o dente no pomo da discórdia...
A. Penna: – Chega a ser indecente o que você
está a dizer...
Zé Povo: – Não há tal! O pomo da discórdia é
simplesmente a borracha. O Acre é a borracha; enquanto os acreanos não forem
senhores dos seus narizes, têm que largar a vele para transformar mendigos em
millionários...
O Malho, RJ, 7 de julho de 1906, Ano V,
N.º199
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APPROXIMAÇÃO PELO TELEGRAPHO
Constantino
Nery:
– E o caso é que V. Ex. vai sahindo, sem resolver a questão
do Acre!...
R. A.: – Farto de
amollações ando eu! No meu governo tudo foi acre: grossa trabalheira,
descompostura grossa, Matto Grosso, grossa bernarda
de14 de novembro, etc. O Acre propriamente dito foi para mim uma grossa espinha
ou espiga, desde a revolução até o tal negocio que o barão fez, comprando... o
que já era nosso...
E ainda você me fala em Acre!...
Arranjem-se... esfreguem-se, sacudam-se com elle!...
O Malho, RJ, 10 de novembro de 1906, Ano V,
N.º217
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NOTAS DIPLOMÁTICAS
Penna: – Ora, píllulas! Para a sua
diplomacia, barão! A Bolivia comeu a isca – o nosso cobre – mas cuspiu no anzol
– o Tribunal Arbitral. Zé-Povo: –
Fizemos um alto negocio, comprando o que era nosso... Gastão da Cunha: – É o diabo, meu ilustre patrício, é que o Peru
reclama que parte do território era delle... Mais dia menos dia... temos de
pagar-lhes, também... Barão: – Boa...
boa... a cousa não está... Mas o Domicio arranjará o par de botas de qualquer
maneira... Zé-Povo: – Duro com elles,
conselheiro! Si V. Ex. amollece temos de comprar também o Peru do Acre... Basta
já os que temos por aqui... de roda bôôôôôôa!
O Malho, RJ, 2 de março de 1907, Ano VI,
N.º233
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O ACRE NA CÂMARA DOS DEPUTADOS
Carlos Peixoto – Tem a palavra o
representante do Acre!
Acreano (com
voz muito sumida) – Seu doutô
persidente, vancê não magina o que vai lá por aquellas terras onde o diabo
perdeu as botas! Alli morre gente debaixo do vergalho, que não é graça! Mas os
médicos passam attestados de óbito de congestão de figo... A gente trabaia,
trabaia, faz borracha em penca, mas... q’a dê dinhêro? Vai tudo para os
impostos, para o papo dos graúdos, para os negociante protegido que vende kilo
de carne por quinze e garrafa de paraty por cinco mil réis. Si a gente reclama
toma couro! Mardita hora que o Brazil tomou conta d’aquillo! Quando a gente era
colono da Bolivia era muito mais feliz...
G. H. – Vê, seu doutor: O Acre enche a União de dinheiro e no entanto está
nesta desgraça! É preciso, quanto antes, dar-lhe uma representação nesta
Camara!
Carlos Peixoto – Para quê?! Para os seus
representantes virem aqui receber 75$ por dia, e rasparem-se do recinto na
occasião das votações?... Si a solução é essa, então é que o Acre aca de ficar
frito!...
O Malho, RJ, 27 de julho de 1907, Ano VI,
N.º254
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PELO TELEGRAPHO SEM FIO
Placido
de Castro:
– Foi o diabo V. Ex. não ter incluído o Acre na sua viagem de inspecção ao
norte...
Penna: – Deixe-se de
brincadeiras, hein?
Placido:
–
Não se zangue, Exmo! Nada lhe acontecia, salvo as ferroadas dos mosquitos, e V.
Ex. teria ensejo de ver os horrores que por lá existem.
Penna: – Olhe, seu Placido! para ver mosquitos por
corda não preciso sahir do Cattete...
O Malho, RJ, 10 de agosto de 1907, Ano VI,
N.º256
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UMA VISITA AO PINTAR
O rendimento do territorio do Acre já excedeu
em muito a indemnização que o Brazil pagou à Bolivia. (Dos jornaes)
O Acre: – Tá qui, Papae
Grande: trago o rendimento do meu trabalho, p’ra recompensá o favô que seu
Barão me fez ha quatro anos com o Tratado de Petropolis. Espero agora que se
alembrem de mim com alguns mioramentos, já que sou tão bom pagadô...
Penna (enternecido): – E
pensar-se que quase nos arrebata esta joia a finória da Bolivia!...
Barão: – ...Na pessoa
daquelle pandego do Pando...
Um
criado
– Excellentissimos! Está ahi o sr. general Pando que solicita a honra de os
visitar!...
O Malho, RJ, 18 de abril de 1908, Ano VII,
N.º292
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ASSASSINATO DE PLÁCIDO DE CASTRO
Assassinato de coronel Placido de Castro: É o
momento em que, recebida a primeira descarga da emboscada no matto, o bravo
patriota se atira para o local, recebendo, então, a segunda descarga, que o
fere mortalmente no baixo ventre. (Reconstrucção da scena segundo os mais
fidedignos telegrammas).
O Malho, RJ, 26 de setembro de 1908, Ano VII,
N.º315
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O BRAZIL VAI PERDER O ACRE... UMA OVA!
“Tendo a Argentina dar um laudo sobre limites
entre o Perú e a Bolivia, espalhou-se o boato de que, favorável ao Perú, esse
laudo faria com que o Brazil perdesse o território do Acre.” – (Dos jornaes).
Sentinella: - Isso!... Façam lá
os seus cambalachos e estrategicos,
que eu aqui estou para o que dér e vier... A posta custou o nosso direito e o nosso rico dinheirinho: é nossa e
bem nossa! E tu, perú velho, queres fazer a Bolivia de arara?... Fia-te nos
incitamentos automáticos da virgem... não corras... e verás o tombo que levas!
Serás comido com mais ou menos farofa...!
O Malho, RJ, 12 de dezembro de 1908, Ano VII,
N.º326
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MALAS PARA PETRÓPOLIS
Penna: – Tem paciência, Zé!
Ajuda-me a arrumar as malas, que tenho pressa de subir para Petrópolis!
Zé
Povo:
Isso sei eu! Os deputados, os senadores, os ricaços de todas as classes já
partiram... Todos partem fugindo ao calor e só eu fico nesta fornalha, a pão e
laranja... Felizes os que tudo podem!
Penna: – Está você muito
enganado! É exacto que vou tomar fresco, mas ando sempre com o juízo a arder! E
quanto a tudo poder... não posso nada! Basta dizer que não pude conseguir crear
uma agencia postal no Acre! É o cumulo!...
Zé: Bonito! Se V. Ex.
não pode crear uma simples agencia do Correio no Acre, como diabo poderá eleger
o Campista... o seu successor?!...
O Malho, RJ, 2 de janeiro de 1909, Ano VIII,
N.º329
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OLIGARCHIA EM PERSPECTIVA
“Chegaram noticias de Manáos, dizendo que o
Acre se prepara, afim de, em 3 de maio ou 7 de setembro, proclamar a sua
autonomia sob a presidência do Sr. Alencar” (Dos jornaes)
A
Politicagem:
Ora se péga! Com tão boas sementes...
O Malho, RJ, 3 de abril de 1909, Ano VIII,
N.º342
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A REVOLUÇÃO NO ACRE
O povo do Alto Juruá, sob a chefia de Freire
de Carvalho, intimou o Sr. João Cordeiro, prefeito do governo federal, a
retirar-se em 48 horas, proclamando a autonomia desse departamento do Acre. (Dos telegrammas)
Vozes
do Acre:
– Nem lobos, nem cordeiros! Queremos é a liberdade, a vida constitucional a que
temos direito!
Nilo: – E com muita
razão. Eu fui prompto em mandar há muito tempo uma mensagem ao Congresso
pedindo para os acreanos direitos políticos, justiça e administração própria,
em todos os sentidos! O promettido é
devido, mas até agora o congresso nada fez... Zé Povo: – E nada faz. A reforma do ensino, o código civil, a
questão do cambio e um mundo de projectos uteis, lá estão no pó e às traças,
esperando solução... A cousa única que o Congresso faz com limpeza pressa é
receber o arame do subsídio!... Nilo: – Repito: Os acreanos terão a sua autonomia; mas a bem da paz e da ordem,
ensarilhem essas armas! O governo agirá com energia, mas não pode tolerar a
pressão revolucionaria e o descaso à sua autoridade. Contenham-se! Paz e
Amor!...
O Malho, RJ, 18 de junho de 1910, Ano IX,
N.º405
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AS TRAVESSURAS DA ÉPOCA...
Pois não é que o Acre está brincando de busca-pé com a mamãi espiritual?
Cuidado, gury! Não vás apanhar por ahi algumas chinelladas!...
O Malho, RJ, 25 de junho de 1910, Ano IX,
N.º408
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A REVOLTA DA BORRACHA
Eis aqui o resultado infallível da projectada
revolução do Acre contra a União: Quaes bolas de borracha, as balas
revolucionários farão somente ricochete sobre o pobre commercio que, esntão,
ficará espatifado...
É isso o que desejam os bravos seringueiros
ou, patrioticamente, aguardam que o governo da União cumpra a sua promessa de
autonomia, submettida, desde o anno passado, ao Congresso Nacional? That is the question!... com
borracha!...
O Malho, RJ, 25 de junho de 1910, Ano IX,
N.º408
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RESOLUÇÃO HEROICA DE UM “SMART”
Ella: – Desculpe agora a
minha curiosidade... Para que é esta mala que o senhor acaba de comprar?
Elle: –
Como!
Pois ainda não adivinhou? É que parto para o Acre...
Ella: – Para o Acre?!...
Então o senhor sai da Avenida Central e vai se metter numa terra em
revolução?!...
Elle: – Precisamente por
isso... Digo-lhe mais: vou ser revolucionário do Acre... É o melhor emprego da
actualidade... Tem-se immunidades de príncipe e fica-se millionario em tres
tempos!...
O Malho, RJ, 16 de julho de 1910, Ano IX,
N.º409
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REVOLUÇÃO GORADA
O coronel Antunes de Alencar declarou
verbalmente ao governo, que o Acre desistia de fazer a revolução e aguardava
pacificamente que a União lhe concedesse direitos compatíveis com o seu
progresso.
O Acre: – Eu andei mal
aconselhado em toda esta historia e vi-me sósinho no momento critico...
Confesso-me arrependido e prometto não principiar a marcha dos acontecimentos.
O
presidente:
– Muito bem! Assim é que eu gosto de te ver, por que isso de se derramar
inutilmente sangue brazileiro é muito triste! Vou trata de analisar as tuas
aspirações justas. Toma estas armas que são o symbolo da paz e da prosperidade
do Brazil! O resto, que é o mais doce, irá depois!...
O Malho, RJ, 29 de outubro de 1910, Ano IX,
N.º424
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PROTESTO DO ACRE
Tem chegado ao Acre vagabundos e vagabundas
idos principalmente do Rio de Janeiro. O povo de lá está contrariadíssimo com
essa nociva immigração, tão prejudicial
ao seu credito e ao seu futuro. – (Dos
jornaes).
Acre – É isto! Dou
dinheiro em penca à União e a União não me dá cousa alguma que preste!
Vai-se-me o rico dinheirinho pela esquerda e mandam-me vagabundos de ambos os
sexos, pela direita... Isto aqui não é monturo! E se a cousa continua assim, eu
viro bicho e faço um rolo dos diabos!...
O Malho, RJ, 8 de abril de 1911, Ano X,
N.º450
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AUTONOMIA DO ACRE
“O governo expediu ordens terminantes que
sigam batalhões do exercito para o Acre, com o fim de suffocar o movimento
revolucionário n’aquella região” (Dos
jornaes)
Não é com batalhões de exercito atirado a
esmo por essas regiões inhospitas, sem recursos, insalubres e sem
communicações, que o governo conseguirá manter o seu prestigios; e sim com o
desenvolvimento regular da viação, o saneamento radical e uma selecção rigorosa
de homens criteriosos que saibam corresponder às aspirações daquelle moço povo,
que é digno de ser melhor governado!
O Malho, RJ, 25 de maio de 1912, Ano XI,
N.º506
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VIDA AMERICANA
A
visinha:
– Ai! ai... mais um estouro e aqui bem perto. Queira Deus com a independência
do Acre não se vá mais um pedacinho da... Bolivia.
O Malho, RJ, 1 de junho de 1912, Ano XI,
N.º507
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RECUO IMPATRIÓTICO
Marechal: – Mandei chamar o
amigo para pedir-lhe o grande servilo de acceitar o governo do Ceará. É um acto
de pacificação e de alto patriotismo. Moura
Brasil: – Sim, marechal, é um acto de sacrifício, que estarei prompto a
acceitar... mas... Marechal: – Para o
restabelecimento da ordem e da paz no Ceará estou disposto a fazer tudo. Moura Brasil: – Preciso que me seja
entregue o serviço da secca... Marechal: –
Isto é federal, mas farei o que puder. Moura
Brasil: – Preciso também que faça a autonomia immediata do Acre... Marechal: – Mas que tem o Ceará com o
Acre? Zé Povo: – Não quererá o
ilustre oculista também a restituição da Alsacia-Lorena à França e a volta de
El-Rei D. Manoel a Portugal? Ora, seu Moura,
se não quer pacificar a sua terra, vá então plantar batatas....
O Malho, RJ, 29 de junho de 1912, Ano XI,
N.º511
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A TAL SEPARAÇÃO DA AMAZÔNIA
“Foram aqui distribuídos boletins,
proclamendo a necessidade da separação da Amazonia, constituindo-se uma nação
independente, sob o protectorado dos Estados Unidos da America do Norte. Esses
boletins obedecem a um plano combinado com gente do Acre e do Amazonas” – (Telegrammas de Belém do Pará).
Os
separatistas da Amazonia: – Ora vamos ver o effeito que a crise produz...
O
Brazil:
o – Pois sim! Não me impressionam, vocês! O Pedro I que arranjaram é um boneco
de borracha, muito mal feito, e a fita é grande demais... Não há de ser ainda
com essa que me apanham o arame.
Tenho-o bem seguro, que o tempo não p’ra graças, e elle é pouco como diabo...
O Malho, RJ, 25 de outubro de 1913, Ano XII,
N.º580
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A VERDADEIRA ESCRAVIDÃO DO ACRE
“Foi aberto e aprehendido na Alfandega de
Manaus um caixote com algemas nickeladas destinadas aos seringaes dp Acre” – (
Telegrammas de Manaus)
Zé Povo: – Mas que grossa
patifaria e que vergonha! Em vez de instrumentos agrícolas, que representam o
progresso, importam instrumentos de supplicio, que attestam barbaria e
escravidão! Decididamente, é preciso agarrar os importadores e fazel-os
experimentar as delicias das algemas...
Seringueiro: – Ora vejam lá do
que eu escapei... d’esta vez!...
O Malho, RJ, 1 de novembro de 1913, Ano XII,
N.º581
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COMO ANDA ESSA “GRONGA” POR AHI!...
Política de approximação e... cavação
“Apesar de, por uma convenção internacional,
estarem isentos de direitos os productos da Bolivia e do Brasial que, na
fronteira, transitarem de um para outro paiz, a Mesa de Rendas do Acre taxa com
quarenta e seis mil réis por cabeça a entrada do gado boliviano. O delegado do
ministério da Agricultura no Acre, pediu por telegramma de Novembro ultimo, que
o ministro respectivo pedisse ao da Fazenda que mandasse suspender esse
imposto, afim de baratear um pouco a vida naquellas longínquas paragens. Esse
telegramma foi publicado no Diario
Official de 1 de dezembro”. – (Das
nossas notas)
Zé Boliviano: – Mas, senhor! Eu ouvi dizer
que o povo acreano tinha fome de carne! Nessas condições, parece que mandar os
meus boisinhos para o Acre era até uma obra de misericordia, mesmo que não
houvesse convenção que facilita a entrada do gado, isentando-o de direitos,
como producto que é da Bolivia...
O Fiscal: – Histórias, meu caro senhor! Passe
p’ra cá os 46 por cabeça, senão não entra nenhuma! Quem manda aqui sou eu!
Zés acreanos: o – E quem sofre somos nós!
Podíamos ter carne a dez tostões o kilograma, se a quizermos, temos de pagal-a
a dez mil réis!...
Isto é que se chama auxiliar o governo na sua
politica de approximação: reduzir o Acre a cemitério de esfomeados!...
O Malho, RJ, 2 de janeiro de 1915, Ano XIV,
N.º642
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ACRE
Como optima novidade de Anno Bom, temos a
autonomia do território do Acre, o qual, naturalmente, passa para a categoria
dos Estados encrencados do Norte, com sua turma de senadores e deputados...
para o Thesouro sustentar.
O Malho, RJ, 6 de janeiro de 1917, Ano XVI,
N.º747
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ABAIXO O SURUCUCU DO ACRE!
“O prefeito de Tarauacá mandou a companhia
regional atacar a redação d’O Municipio.
O redactor fugiu para o matto e não se sabe noticias d’elle. Situação
angustiosa. Pedimos urgentes garantias e enérgicas providencias do governo
federal” – (Telegrammas do Acre para “O
Malho”).
Cunha Vasconcellos: – Qual liberdae de
imprensa, qual carapuças! Commigo, lá na Capital Federal não havia disso,
quanto mais aqui! Avança, rapaziada! Avança e passa o facão em tudo!
Zé Povo: – Está vendo, Sr. Dr. Wenceslau?!
Ahi está o resultado de V. Ex. ter mettido uma vara na mão d’aquelle villão!
Cacete no lombo é ele precisa!
Wenceslau: – Sim; mas o homem andava a morrer
de fome e precisava de emprego...
Zé: – Pois dessem-lhe o de guarda do
Instituto Ophidico de Butantan! Nunca o de Prefeito do Acre, onde elle continua
a ser o “surucucu da zona”, e a praticar esses crimes que V. Ex. está vendo e
de que é agora o principal responsável, por tudo poder e nada querer fazer!...
O Malho, RJ, 24 de março de 1917, Ano XVI,
N.º758
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NO ACRE
O Sr. Epaminondas (já come)?
(Respondendo a um apello da população do Acre
que pedia soccorros porque estava morrendo de fome, o governo respondeu
enviando uma canhoneira).
O ACRE – Mas eu preciso de munições de bocca
e não de munições de... fogo!
O Malho, RJ, 2 de abril de 1920, Ano XX,
N.º968
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PROSA ESFARRAPADA
Os acreanos continuam a protestar
energicamente contra o plano do Amazonas para tomar conta do Acre. – “Dos
jornaes”.
Amazonia – Filho, vem a meus braços!
Acre – Filho?!
Zé – Realmente, é de espantar! Não póde com
uma gata pelo rabo, vive em lamentável miséria, e ainda quer mais um filho pra
criar!...
Aqui há dente de coelho...
O Malho, RJ, 25 de fevereiro de 1922, Ano
XXI, N.º1.015
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O “PELLO” DO ACRE
NOEL – Dê graças a Deus de não ter o seu sapatinho.
É um conto do vigario. Este anno estou distribuindo deputados, augmentados em
número e subsidio...
O Malho, RJ, 1 de janeiro de 1927, Ano XXVI,
N.º1.268
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ALAVANCA DO PROGRESSO
(Um radio, gastou do Rio ao Acre 90 dias!)
– Que é aquillo?
– Um novo serviço, mais rápido, inaugurado
pelo Telegrapho Nacional para servir o Acre: – é o kagadogramma...
O Malho, RJ, 26 de março de 1927, Ano XXVI,
N.º1.280
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CONFIRA A PRIMEIRA PARTE:
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"Quando se sonha só, é apenas um sonho, mas quando se sonha com muitos, já é realidade. A utopia partilhada é a mola da história."
DOM HÉLDER CÂMARA
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