velha gameleira
antigo ancoradouro
de margens escorregadias
testemunho
da história
velha gameleira
ainda se debruça
braços abertos
sobre o rio
a espreitar
em silêncio
o passar da história
velha gameleira
ponto de união
de ardentes namorados
das beiras de barrancos
um tanto solitários
entregues aos jogos do amor
despreocupados
com os preconceitos
na placidez
das noites de sonhos
velha gameleira
onde as balas assassinas
se cruzavam
velozes
na defesa do solo
ensanguentado
pelo poder da ambição
velha gameleira
antigo ancoradouro
de margens escorregadias
em que se travam
as longas batalhas
dos dias ensolarados
ou das noites
tão frias
em nome da liberdade
quantos heróis
e quantos canalhas
tombaram a teus pés
agonizantes
enquanto tu
hoje agasalhas
a dor
e o sangue
dos grandes guerreiros
e dos grandes patifes
e angústias
dos traidores
e covardes
em nome da pátria
por um nada
tu
velha gameleira
continuas a sentinela
na fugacidade de tua beleza
como símbolo da paz
guardiã da saudade
das alegrias
e tristezas
de outros tempos
que não voltam mais
RODRIGUES, Elzo. Pé
no chão: ode ao caboclo da Amazônia. Rio Branco: Dhelta informática, 1990.
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"Quando se sonha só, é apenas um sonho, mas quando se sonha com muitos, já é realidade. A utopia partilhada é a mola da história."
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