sábado, 6 de maio de 2017

O QUE É PENSAMENTO PÓS-METAFÍSICO?

Inês Lacerda Araújo
Filosofia de todo dia

Em posts anteriores mostramos o que é metafísica em contraste com a pós-metafísica, de acordo com o pensamento de Habermas.

Para este o momento atual da filosofia se caracteriza pelo pensamento pós-metafísico, mesmo que ainda seja uma época ainda moderna, e não pós-moderna.

Como se explica esse paradoxo?

Vamos por partes. A metafísica clássica, cujos representantes principais são Platão e Aristóteles, vê o todo como causado pelas ideias, Platão, e pelo motor primeiro, Aristóteles. As ideias são o modelo para todos os entes, tudo o que existe são cópias dos conceitos ideais e divinos. Já as causas para Aristóteles produzem os entes mesmos, em sua individualidade e especificidade.

Com a filosofia cristã, Deus é a causa absoluta de todos os entes, criados do nada. Interessante que os gregos entendem que o nada, nada pode produzir. Ao passo que o conceito de nada é fundador para filosofia cristã.

Note-se os termos e conceitos essenciais ao pensamento metafísico: causalidade, totalidade, unidade, essência, absoluto, nada e o conceito de ser ligado ao de pensamento abstrato. Dada a multiplicidade dos entes no mundo, para poder pensá-los há que abstrair, deduzir a unidade a partir da heterogeneidade.

Descartes, Spinoza, Leibniz e Kant representam a metafísica nos séculos 17 e 18, e Kant, mesmo criticando a metafísica baseada no ser em si mesmo, quer dizer, independente de pensá-lo por meio de conceitos, recupera conceitos metafísicos, o de Deus e de alma imortal como pilares da razão prática.

As exceções na história da filosofia até chegar ao pensamento de tipo pós-metafísico são os nominalistas (sem nomear, sem conceituar seria impossível conhecer as coisas), os materialistas e o empirismo (a experiência e não os conceitos abstratos são a base para atingir a realidade). Impera a noção de uno, de identidade e de que a teoria é necessária para chegar à verdade.

O pensamento pós-metafísico em contrapartida dispensa a busca de uma origem primeira de todas as coisas, nega que haja necessidade de um fundamento ou essência permanente a sustentar todos os seres, afirma que não há teoria sem prévia experimentação, como demonstram as ciências.

O primeiro passo para a pós-metafísica foi a substituição do modelo filosófico baseado no eu, no sujeito, em sua consciência, para o modelo baseado na linguagem. Somos sujeitos sim, mas devido a nossa capacidade de articular signos, de abstrair por meio da linguagem, de formalizar, de compreender devido à capacidade de formular frases significativas, atos de fala para afirmar, deduzir, mostrar, negar. Em suma, conceitos absolutos se tornam significados comunicáveis.

Habermas contesta a pretensão de Heidegger de ainda dar sentido à metafísica. Em Que é Metafísica? (1929), Heidegger parte da questão mais abrangente da metafísica, a questão da totalidade dos entes, para a questão do nada, do que absolutamente não são os entes. Há necessidade de postular o nada inclusive porque aquele que questiona se vê às voltas com o nada ao se angustiar, a totalidade dos entes parece escapar em momentos de nossa existência aí no mundo. 

Para Habermas, que é um anti-Nietzsche, esses abismos de ser e nada são pura abstração. De uma perspectiva pragmática, afirma Habermas, nós agimos, e, principalmente agimos pela linguagem. Nos comprometemos em atos comunicativos ou usamos a linguagem para o disfarce, para a subjugação (em atos estratégicos). A vida prática vale mais que a vida teórica.

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