quarta-feira, 19 de julho de 2017

ARBORICÍDIO

Álvaro Maia (1893-1969)



Esqueço o peito desvairado,
que, vendo morto o seu menino,
no cedro em flor vibra o machado
para o caixão do pequenino...

Esqueço o noivo enamorado,
que, no itaubal que o viu menino,
procura o leito de noivado,
– princípio e fim do seu destino...

O que em suor o sangue vaza,
e acorda ao sol, ao sol se deita,
si corta as vigas para a casa,
os imbaubais para a colheita...

O construtor, o marceneiro,
que faz os barcos e a mobília,
e põe as ripas ao braseiro
para o aconchego da família...

A árvore em cruz, que se transporta
em correntezas, sobre os rios,
e vai fulgir – árvore morta
nos longos mastros dos navios...

Há dor sublime no cilício
das pobres árvores feridas,
mas do tremendo sacrifício
nascem risos, brotam vidas...

Mas derrubar troncos eternos,
cheios de glória e batalhas,
apodrecê-los nos invernos,
pulverizá-los nas fornalhas,

Abrir florestas em clareiras,
deixar os pássaros sem ninhos,
o calmo rio em corredeiras,
em labirintos os caminhos,

É ser brutal, fero, demente,
e destruir, em crime duro,
pela inconstância do presente,
toda a grandeza do futuro...


MAIA, Álvaro. Buzina dos paranás. Manaus: Sergio Cardoso, 1958. p.129-130
* Imagem retirada do livro Álvaro Maia - poliantéia: - a obra - o exemplo - o homem. Manaus: Edição UBE, 1984. p.23

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