César Escócio é natural
de Sena Madureira. Cantor e compositor, formado em Direito pela Universidade
Federal do Pará, passou a morar em Belém, onde além de exercer a advocacia,
dedica-se a compor e a cantar, especialmente na afirmação da cultura amazônica.
Entre seus trabalhos, destacam-se o LP Caranã (1991) e o CD Omami Omami – Lutas
populares na Amazônia (Coletiva) (1997).
O Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira traz os seguintes dados sobre Escócio: “Tem
participação em movimentos e eventos artístico-musicais no Acre e no Pará,
desde os anos 1970. Com diversas participações em gravações coletivas, lançou o
LP solo “Caranã”, em 1995. Em 1997, produziu, em Belém, o CD “Omami Omami -
Lutas populares na Amazônia”, do qual participaram compositores e músicos do
Pará. Em 2000, participou do songbook “Canções Acreanas”, com a composição “Sou
Fronteira”, parceria com o também acreano Océlio de Medeiros. O songbook, que
foi publicado sem fins lucrativos, e que faz parte do Projeto “Caderno de
Músicas Acreanas”, teve apoio de empresas oficiais como o Banco do Brasil, além
de outras, de iniciativa privada, tendo por objetivo tornar pública a produção
musical acreana. O compêndio é o registro fonográfico, através de um CD, e
gráfico, contendo melodia, letra, harmonia e arranjos instrumentais, além de
pequena biografia dos compositores e, também, avaliações de personalidades
acreanas, como João Veras, que o idealizou e produziu, Francisco Dandão, Silvio
Margarido, Romualdo Silva Medeiros e Danilo de S'Acre.”
O LP Caranã foi
gravado e mixado entre março e junho de 1991, nos estúdios “TRANZATAPE”, 16
canais, em Belém do Pará. A ilustração da capa é uma pintura de Jorge Eiró,
concebida especialmente para o LP, que contou com músicos como Sagica, Zé Luiz
Maneschy, Silvana de Faria, Alcir Meireles, Ricardo Dias, Marianne, Paulo Levi,
Luiz Pardal, Joba, Suelene e Nicinha, etc.
Capa de Caranã (1991) |
Contracapa de Caranã (1991) |
Cartaz da apresentação Made in seringal de César Escócio com a Banda Látex em Rio Branco em 1989. |
Detalhe folder de Made in seringal |
Folder do show Made in seringal (1989) |
Letras de algumas
músicas que se encontram no LP Caranã:
CARANÃ
César Escócio
Caraná
É o verão se
achegando
Natureza afora
É um povo migrante
Que foge do tédio
Que foge do vício
Da cidade
Que busca o sopro
do mar
Nas delícias da
água
Na malícia das
ondas
Nas crinas de um
sol vermelho
Nas denguices de
uma noite enluarada
Caranã
É a rosa das dunas
originando as fontes
Despertando os
cânticos
É Atalaia numa
tatuagem viva
Trançada de gente
Que nem o arco-íris
à beira do mar
Caranã
É o farol vermelho
vagalumeando
No avisar da rota
ao bom pescador
Que vem de tão
longe
De dentro da noite
De volta pro seu
amor
Caraná
É um tapiri de
palha
Perto da ladeira,
onde se dança
De onde se vê o
verão
De onde se avista o
porto
E o maçarico
E a gaivota
E a ponta de areia
que entra no mar
Caraná
Somos nós e uma lua
a brilhar
Somos nós e o sopro
do mar
São as veias da
terra a jorrar
Cristalinas salinas
Ah minha amada!
São promessas de
amor
No olhar.
NORTEANDO
César Escócio
Norte andei
Selvamar
No reflorir do ipê
No dia da luamar
No céu fumacê
Pintou de novo a
maré
Cunhã foi pro
igarapé
Traçando seus
tucumãs
Mirando-se nas
manhãs
Nas águas de abaeté
Num barco faz sua
fé
Pra retornar – Marajó
E não ficar assim
tão só
Na linha do equador
Pensando no seu
amor
Além de lá
O rio
O cheiro-ribeira
Cavalo do rio
Canoa ligeira
Eh, canoa!
Repique da maresia
Saudade agonia
Cuíra
Remanso de lua
Corações se buscam
Sem distância de
amar
Em cada
porto-cidade
Há uma
espera-miragem
Em avidez,
liberdade
Trabalho, fé e
coragem
Em refazer o pão
Atravessando o
verão
CÉU DO AQUIRY
César Escócio
Mirei
Mirei muchacha
Mira tu rambém
O cintilar das
estrelas
Lindas no céu do
aquiry
Canta toda essa
beleza
Esse cheiro de mato
Que navega no ar
Canta pela natureza
E saúda os povos
Dessa floresta
acesa
Pela luz da lua
Fogo do prazer
Mirei...
SOPRO AMAZÔNICO
César Escócio
Vociferar
A mata e seus
mistérios
O verdejar desponta
Na ponta do olhar
Tanto chão
Quanta distância
pra vencer
O céu e suas nuvens
Entre galhos e
espinhos e rios
As vozes da mata
Numa canção
selvagem
O sopro amazônico
Num verde forte
refrão
Filhos desse
império
Aldeias e tabocais
Tapuias e curumins
Araras e paxiubais
Serpentes e
jacamins
RAINHA DA FLORESTA
Pia Vila, Felie
Jardim e Txai Terry Aquino
Senhora rainha da floresta
Dai-me a força da
ayawuasca
Pra cantar nessas
malocas
Pros índios desse
lugar
Quero beber caiçuma
E tomar muito cipó
Quero bailar o
mariri
Nas aldeias do aquiry
Dai-me a força do
jagube
Na luz do lampião
Iluminando todas as
veredas
Que dão pro meu
coração
Como é grande essa
floresta
É maior a solidão
Dessa vida
passageira
Desse verde sertão
Vou seguindo pela
vida
Varejando de ubá
Todos os rios dessa
terra
Unidos chegarão ao mar... Nossa homenagem ao artista César Escócio e o nosso agradecimento ao amigo João Veras.
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"Quando se sonha só, é apenas um sonho, mas quando se sonha com muitos, já é realidade. A utopia partilhada é a mola da história."
DOM HÉLDER CÂMARA
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