domingo, 15 de outubro de 2017

O SER PARA A MORTE, SEGUNDO HEIDEGGER

Inês Lacerda Araújo
Filosofia de todo dia

Na concepção de ser para a morte, Heidegger concebe nossa finitude como marca essencial do ser humano, em termos ontológicos.

Viver no tempo é saber-se finito, que o ser humano vive até o fim. A morte está em nossa vida. O fato de estar lançado e ser para a morte angustia. A experiência da morte dos outros faz ver nossa determinação ontológica, isto é, o fim inevitável. O corpo do morto ainda é cercado por resquícios de algo vivo nas celebrações do funeral, muitas vezes se procura substituir quem já foi, mas não se pode assumir a morte do outro, e sim a sua própria, ser-aí que vai morrer, que esse é seu modo de ser, insubstituível. O ser-aí não finda como as coisas que se acabam ou como animais que morrem. No momento em que o homem é, ele já é seu fim, esse é seu modo de ser.

Enquanto modo de ser, a análise existencial é incompatível com suposições sobre a pós-morte. A estrutura ontológica e existencial da morte consiste na possibilidade de poder não mais estar aqui, ser-aí, presente. Ora, como o ser-aí depende de poder ser isso ou aquilo, o tempo todo, a morte é a possibilidade que impede todas as possibilidades. É a possibilidade mais própria e insuperável na qual o ser-aí já está lançado. E ele experimenta isso pela angústia. Ser no mundo angustia pois é ser para o fim. Nada a ver com o medo da morte. Esse medo de morrer se acha na cotidianidade, a morte é compensada pelo palavrório, pelo tornar público aquele sentimento, escamotear dissolvendo-a pela publicidade, e isso para evitar encará-la, melhor não pensar nisso.

No projeto existencial, diferentemente, sabe-se que a morte é inevitável, ponto final. Daí decorre uma liberação para as possibilidades compreendidas agora como finitas. O que dá uma nova dimensão para a existência. Estar aberto para a certeza da morte redimensiona a vida, a angústia mantém essa abertura frente ao nada, a liberdade para a morte. Não somos o nosso próprio fundamento, o pro-jeto nos lança para frente, o que no fundo é nada, e ao mesmo tempo, somos livres para assumir diversas possibilidades. O nada está essencialmente inserido na estrutura do estar-lançado” e “o nada existencial não possui o caráter da privação”. Ser livre em suas possibilidades é ser livre para escolher uma delas e suportar não ter escolhido outras.

Em nossa situação atual, o esquecimento do ser parece mais grave. Domina o que Heidegger chamou de "palavrório", a inconstância, a agitação febril, o diz que diz que, mensagens e mais mensagens, imagens e mais imagens. Veja isso, comi pizza, meu filho engatinha, meu gato mia, e mais e mais banalidades.

Você se sente confortável com tanto poder da curiosidade?!

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