Gilberto A.
Saavedra
Foto: Américo de Mello |
Para quem conhecera
Rio Branco, capital do Acre, no passado e a visita hoje, deve notar uma diferença
muito grande comparada com a cidade dos anos de 1950 até em 1970.
Sua população de
70.000 mil pessoas, já na década de 70 (século XX), deixava-a quase que, se
conhecendo toda, quando não pessoalmente, mas de vista, sim.
Era ainda uma
cidade muito pequena e calma, onde se dava um bom dia, quando as pessoas se
cruzavam entre si.
Todos em seus
bairros se conheciam e, com essa interação, a maioria se tornava amiga.
Essas amizades
geralmente, entre os pais, e às vezes também com os filhos.
E assim ela se
movimentava em sua rotina diária pelos quatro cantos, ou melhor, pelos dois
lados.
Há um rio, que
banha Rio Branco, o rio Acre, dividindo-a em dois lados chamados de
‘Distritos’.
A cidade era bem
tranquila, e qualquer notícia boa ou ruim logo se sabia.
Ainda não existia a
Televisão na capital; a rádio Difusora Acreana (1944), Novo Andirá (com início
em 1966) e o Jornal ‘O Acre’ (de tiragem semanal), eram os meios de comunicação
mais importantes que informavam os acontecimentos.
Crimes diários não
tinham. Havia um receio mesmo, era de assombrações à noite, pelas vazias e
silenciosas ruas rio-branquenses. Falava-se em ‘Burra de padre”, Lobisomem e
fantasmas (almas do outro mundo).
Nesse tempo tinha
um moço chamado ‘Pega unha’ que apavorava qualquer mocinha. Mas, já tinha
cumprido a pena de reclusão pelo que tivera praticado, e já era um bom cidadão.
Os que são desse
período 50/70, se recordarão nos microfones da emissora pública, de Garibaldi
Brasil, Alfredo Mubarac, Sérgio Brasil, Diomedes Andrade, Jacira Abdon, Índio
do Brasil, Vilma Nolasco, Natal de Brito, Cícero Moreira, Mota de Oliveira
Orsetti, Anselmo Sobrinho, Paulo Farias, José Lopes, Estêvão Bimbi, José Conde,
Mauro Modesto, José Valentim, Altemir Passos, etc.
Natal de Brito ao centro. |
Muita gente, ainda
em (1950/60), não possuía um rádio transmissor em casa; se deslocava à noite
para à frente do Palácio Rio Branco, sede do governo estadual, onde estava
instalado um serviço de alto falantes na antiga Secretaria de Agricultura (um
prédio verde construído em madeira de lei).
Ali as pessoas
escutavam principalmente, as mensagens e o Noticiário Oficial do governo.
Mesmo sendo uma
cidade pequena o seu abastecimento era precário. Muitas e muitas vezes era
preciso se antecipar na hora do mercado se quisesse adquirir um produto
alimentício, principalmente, no final de semana.
Tudo acabava logo;
tinha que se levantar cedo da cama (na madrugada) senão não levava nada para
casa.
Fui muitas idas e
vindas com o meu pai e às vezes também com minha mãe. Adorava ir. Sempre saboreava
o famoso mingau de bananas ou o gostoso Mungunzá (para nós – Muncunzá), Pé de
Moleque, Tapioca, Beiju, Pamonha, Cuscuz, Saltenha, Açaí, Tacacá etc.
Quando faltava o
pão na cidade, tinha também que se levantar muito cedo mesmo, e se deslocar até
às padarias que estivessem produzindo o pão.
Nessa época
tínhamos diversas padarias: dos Lameira na Base; Prevoste (Fialho) no Centro;
Laureano na Avenida Getúlio Vargas (pai do saudoso amigo Francisco, nosso
querido pranchão); Senhor Jesus, na Cerâmica; Zé da Horta e Espanhol no Bosque,
etc.
O pão era
delicioso. Acho que não tinha essa química de hoje. Nessa época de escassez da
farinha do trigo, cada pessoa que comparecia à padaria, não podia comprar mais
de dois pães que, eram enormes.
Lá em casa, quando
não havia o pão na cidade, se alimentava pela manhã com cuscuz (pão de milho);
aipim (macaxeira); abóbora (jerimum) ou uma farofa de carne seca (nossa
conhecidíssima e gostosa jabá).
O quintal de casa
era bem grande, meu pai (e eu), plantávamos tudo que podíamos colher: milho,
macaxeira, além de mangueira (cinco); coqueiro (dois); graviola; fruta de Conde
(Ata) e abacate. Quando o meu pai colhia todo o milho, logo, já plantava o
aipim.
Minha ex-cunhada,
amiga e saudosa Professora Terezinha Saavedra, era uma especialista no preparo
de cuscuz, bolinho de macaxeira (aipim) e farinha de milho.
Tenho muita saudade
desse tempo difícil, porém gostoso e inesquecível.
Divertimento
público para a criançada, lembro-me do cine Biriba, no bairro do Papoco (com o
nosso saudoso José Lopes, mais tarde Radialista e Advogado).
Era ele que
comandava o espetáculo para toda a gurizada feliz. São muitos os filmes que
ainda guardo em minha memória desse cine.
Nunca me esqueci
dos seus fortes ventiladores de pés, que produziam um barulho ensurdecedor
(quando se ficava próximo deles), e o amigo e saudoso José Lopes sempre dando
um jeito neles para um bom funcionamento.
Matinês no cine Rio
Branco, também eram muito proveitosas. Os famosos seriados de capa e espada do
Rei Arthur, sempre encerravam cada capítulo numa cena emocionante.
O público mirim
gritava de alegria. Do outro lado o cine Recreio também, não ficava por baixo.
Também tinha um bom
circuito de filmes. Nunca me esqueci de um filme nacional
chamado de “Arara
Vermelha”. Um filme de Tom Payne com a bela Odete Lara, Milton Ribeiro e
Anselmo Duarte (o galã da Atlântida).
Imagem do filme "Arara Vermelha". |
Foi um bom filme
rodado na região do Araguaia, sobre a descoberta de um diamante azul e
vermelho.
Foi um tempo
inesquecível, que jamais voltará.
Os bailes eram
famosos: no clube do Rio Branco a tradicional sociedade Rio-branquense; na
Tentamen era mais associativa e, na SBORBA o povão em geral.
Tínhamos ainda o
clube do Vasco e mais recente o Juventus, clube da juventude, além, de um clube
recreativo militar, pertencente ao Exército (antiga 4ª Cia de Fronteira).
Os Mugs, os
Bárbaros e o Crescêncio Santana agitavam os bailes carnavalescos.
Na praça em frente
ao palácio do Governo, aos domingos, retreta com banda de música da guarda.
O Sargento Horácio
comandava o espetáculo musical.
Homenagens aos
maestros Holdernes e Raimundo Neves e aos músicos Sandoval dos Anjos, Mário do
Carmo Pires, Elias Ribeiro Alves, (Sargentos): Xolada, Deca, Souza, Zuza,
Adonias, Edmundo, Cleomendes, Juvenal, Zé Paulo, (Tenentes) Belarmino, Zeca
Torres, Vitor, e ao querido Capitão Pedroca (Pedro Vasconcelos Filho), autor da
belíssima composição “Canção do Soldado Acreano” (dobrado).
Depois da novena,
as moças abraçadas entre si, desfilavam descendo e subindo à praça dando um
toque especial de elegância da mulher acreana.
No estádio José de
Melo, era um show à parte. Muitos desses antigos e inesquecíveis craques,
deveriam ter com certeza, uma grande chance em outras plagas, se o tempo fosse
o de hoje.
Quem não se lembra
de Pedro Sepetiba, Toca, Boá, Guimarães, Onofre, Orsetti, Zé Cláudio, Bararu,
Alicio Santos, Édison Urubu, Irié, Tião Macaco, Mozarino, Pedro da Burra,
Escurinho, Dudu, Caetano, ‘Zezinho Pestana Branca’, Curitiba, Pipira, Helinho,
Tinoco, Arigó, Cidico, Clóter, Campos Pereira, Antônio Leó (Leco-Leco),
Adalberto Pereira, Kikito, João Carneiro, Bico-Bico, Nemetala, José Maria,
Edson Carneiro, Nostradamus, José Augusto, Klerman, Benevides, Ivo Neves e o
famoso Dadão. E muitos craques que deixaram de ser citados.
Piqueniques na
Sobral, em sítios, no aviário etc.
Não há como
esquecer esses momentos prazerosos e tranquilos de nossa antiga, tranquila e
querida Rio Branco.
Muitas lembranças desse tempo passado.
Bar Municipal, ainda em funcionamento. |
É um acervo histórico maravilhoso! Que iniciativa louvável! Parabéns ao Alma Acreana e a todos que contribuíram com esse belo dossiê, que ficará para a posteridade. Obrigado! Raimundo Carlos de Lima, cruzeirense, residente em Cuiabá-MT.
ResponderExcluirSou Eduardo De Moura, 80 anos, carioca mas radicado em Manaus (AM) há 60 anos e sou apaixonado pelas coisas deste Norte. PEÇO MO FAVOR a quem gostar da cultura nortista, dos antigos seringueiros e que conhecer uma velha canção que tinha um trecho assim: "...vendo meus amigos do alto baixando e eu sozinho ficando sem poder voltar..." que, se possível, me revele e envie toda a letra dessa música bem como outras referências e MUITO AGRADECEREI. Era uma música que uma das minhas tias-avós (Zuleika Mercedes De Moura) cantava. Peço contatarem para E-mail: deutchesafrikakorps@gmail.com ou telefonar para (92) 9.8207.5161 (mesmo zap-zap). Mais uma vez MUITO OBRIGADO!
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