Cecília Ugalde nasceu
em Boca do Acre-AM, em 1958, mas desde 1982 vive em Rio Branco, capital do
Acre. Cecília faz parte da nova geração de poetas acreanos, e integra, como
membro-fundadora, a Academia dos Poetas Acreanos – APA. Tem formação em Letras
pela Universidade Federal do Acre (2007). Seus primeiros trabalhos literários publicados
foram “A passagem” (conto) e “Poema diálogo” no livro “Nova Literatura Acreana”,
da Fundação Garibaldi Brasil, por ocasião do 1.º Prêmio Garibaldi Brasil de Literatura
Acreana (2008). Depois vieram participações em antologias no Brasil e em
Portugal, e mais publicações em várias páginas na internet. Seu trabalho foi objeto
de estudo no livro “As vozes femininas da floresta” (2008), da Prof.ª Dr.ª
Margarete Edul Prado de Souza Lopes. Em 2016, no SESC, Cecília publicou o livro
de poemas “Retalhos da Alma”. “É do alto do pódio de funcionária pública
federal que Maria Cecília dirige ao mundo o seu olhar poético de contemplação
dos dilemas e dores produzidas pelas condições e contradições humanas. Trata-se
de um olhar de compaixão e responsabilidade social porque nossa autora acredita
que, através da sua escrita, contribui para um mundo melhor, conforme declara
em “Dose de amor”: “Quero vestir de poesia o mundo e acabar com a dor””, escreve
o poeta Renã Leite Pontes sobre a poesia da autora. Margarete Prado, por sua
vez, assim afirmou: “Ela sabe falar das grandes dores amorosas, da imensa
solidão que envolve aqueles que já tiveram um grande amor e vivem da saudade, e
isso podemos notar na delicadeza da cadência dos versos, no ritmo suave, nos
vocábulos escolhidos, nos títulos bem elaborados, que resultam em versos
perfeitos e melodiosos”.
CONTEMPLAÇÃO
Cecília Ugalde
Contemplo como o belo que desejo
Contemplo como o belo que desejo
E estendo as minhas
mãos para tocar,
Mas és fugaz e te
dissipas em lampejos,
Como se eu não te
pudesse contemplar.
Persisto na imagem
contemplada,
Nos pormenores
alongando a visão
E me deleito ao
descobrir, ao perceber,
Quão bela é a figura
que cativa o coração.
Inda contemplo com
os olhos e com a alma,
Mas desejo
contemplar com minhas mãos
Dialogar com a
estampa figurada.
Sentindo em minhas
palmas a vibração,
Da beleza nas
carícias contemplada
E me perder nas
trilhas do desejo da visão.
DEIXA
Cecília Ugalde
Deixa ficar comigo
a noite enluarada,
Para o alvorecer
não diluir meus sonhos.
Num cálice de
penumbra estilhaçada,
Deita a seiva de
amora e de luar risonho.
Deixa aconchegar o
meu corpo mais e mais,
Para que eu possa
sentir do teu peito o calor.
Envolve-me em
lençóis de braços de corais,
Derramas em mim o
teu cheiro de amor.
Deixa enveredar por
tua carne efervescente,
Ouvir o som da pele
primado nos teus beijos.
Num frêmito pulsar
de vermelho incandescente,
O morrer de ti em
mim, sobreposto no desejo.
Deixa enfim nascer
o sol do calor da nossa noite,
Terão seus raios a
polidez de todos os caminhos.
Verte meu corpo que
de amor postula açoite,
Faz-me completa no
abrigo do teu ninho.
Deixa...
É NATAL
Cecília Ugalde
É dezembro... O dia
nasce pleno de vida e de amor.
No ar, a melodia,
meu sonhar, minha certeza/incerta,
A porta que
continua aberta à espera de você chegar.
A cidade cheia de
cores, de motivos e ornamentações.
As pessoas são
formigas, formigando as praças, as ruas,
Os supermercados,
os alimentos, os carros e a estação.
Eu me locomovo em
meio a toda essa gente/multidão.
De joelhos, abro os
longos braços e agradeço aos céus.
Para colher o que
me foi doado estendo as mãos.
Choro um pouco e
sorrio outro tanto, nessa época de magia
E de encantos, que
nos traz o renascer das esperanças.
Nunca mais preciso
esperar. Há poesia em minhas mãos.
É Natal, e a
prática de lembrar e ser lembrado nos conduz.
Quero acender as
velas do meu veleiro e cruzar o mar,
Levantar minha taça
e brindar à vida, o nascimento, a luz,
E desta sorte,
renascer no tempo e na vida com JESUS.
FATOS (RE) VERSOS
Cecília Ugalde
Tanta água no
mar...
E eu aqui no
deserto árido da minha solidão.
Uma lua enorme no
céu...
Eu me alumiando com
o átomo de uma estrela morta.
A revoada de
pássaros na janela...
E eu morrendo a
míngua da minha asa metade.
Doze horas de luz
por dia...
Eu tropeçando na
escuridão da minha ignorância.
Sete cores no Arco
Iris...
E eu alimentando
uma esperança incolor.
Inúmeras páginas em
branco...
E eu aqui vivendo
uma história tombada.
A primavera
eclodindo em flores...
E eu remendando os
talhos feios de minha alma.
Tudo porque sai de
minha concha...
Para ser liberdade
E viver a aventura
De amar
De querer
De SER.
FLUÍDO
Cecília Ugalde
O tempo passou e
levou o tempo outrora...
E trouxe a dor que
me doeu: a dor da separação.
E cresceu tamanha
dor, desmedida na tristeza...
Que plantou
lágrimas no jardim do coração.
O tempo passou e
levou o tempo outrora...
O vento soprou e
varreu as folhas amarelas.
A tarde chorou o
pranto que lavou tuas pegadas.
E a bruma escura e
chorosa marcou o fim do dia,
Quando a noite
chegou de saudade enxovalhada.
O tempo passou e
levou o tempo outrora...
E apagou do teu
olhar a luz dos olhos meus.
E na procura do
sorriso que consola o coração,
Minh’alma fluiu e
no universo se perdeu.
E o tempo passou e
levou o tempo outrora...
NOS TRILHOS
Cecília Ugalde
Nos trilhos... O
trem, o tempo,
As pessoas no
vagão,
De vindas e idas,
Na bagagem a fé,
A esperança, o
coração.
O trem corre, o
tempo passa,
Os trilhos ficam, a
vida move-se,
Parte para uma nova
estação,
A dor escorre nas
janelas do vagão.
No vagão do trem da
vida,
Nas chegadas e
partidas,
Nos acompanha a
solidão.
O ADEUS DA PARTIDA
Cecília Ugalde
Estou partindo de
mim...
Levando na mala
fragmentos de uma história
Ainda por nascer,
por que você não deixou acontecer.
Transformou tudo em
um sonho ligeiramente sonhado.
Estou partindo de
mim...
Guardei as
esperanças para um futuro qualquer
Mas ainda flertei
com a ilusão de te ver chegar,
Segurar a minha mão
e me pedir pra ficar.
Foi apenas um
flerte a mais, antes de partir.
Estou partindo de
mim...
Para não mais ouvir
chorar o coração
E apagar da memória
os desejos não realizados,
Que deixo no
passado para poder sobreviver.
Estou partindo de
mim...
Mumifiquei as dores
e sepultei os temores
De seguir uma nova
direção.
Estou perdida, sem
mapa e sem orientação,
Mas por respeito a
minha dor, vou embora de mim.
E para você que
matou meu sonho, minha ilusão...
Não volto nunca
mais.
SE FOSSE...
Cecília Ugalde
Se fosse verdade
que você me chama,
Que você me ama,
que você me quer.
Ah! Se fosse
verdade essa voz que canta
Nos contornos do
meu corpo, corpo de mulher.
Se fosse verdade
que o bem floresce
Como a flor que
nasce com todo esplendor.
Se fosse verdade
que da alma emana
Na luz dos teus
olhos reflexos de amor.
Se fosse verdade
que o amor não morre,
Que da terra
escorrem águas para o mar
E das espumas doce
nascem o som da lira
Que no teu corpo
inspira o desejo de amar.
Ah! se fosse
verdade que no céu se canta
Um ditirambo de
encanto e louvor...
Para no sentimento
mútuo ficarmos no outro
Numa fusão
sólida... ébrios de amor.
URGÊNCIA DE VOCÊ
Cecília Ugalde
Tenho fome da tua
boca, da tua pele,
De sentir no meu
corpo tua ousada mão,
Ando com fastio de
outros alimentos,
Já não me sustenta
o sagrado pão.
Estou faminta do
teu sorriso inebriante,
Dos teus cabelos
feitos de raios de sol,
Caminho pelas ruas
como um vigilante,
Farejando o som
distinto dos teus pés.
Busco teus traços
na manhã que chega,
Quero me alimentar
da tua mente atrevida,
Da tua fúria no meu
corpo confidente e solto.
Quero respirar o
sabor que me adoça a vida,
Vestir o segredo do
teu corpo soberbo e nu,
Até saciar a fome
que existe em mim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
"Quando se sonha só, é apenas um sonho, mas quando se sonha com muitos, já é realidade. A utopia partilhada é a mola da história."
DOM HÉLDER CÂMARA
Outros contatos poderão ser feitos por:
almaacreana@gmail.com