domingo, 25 de fevereiro de 2018

A MORTE DE JURACY

Theodoro Rodrigues

A Domingos de Andrade

Desce as águas do rio imenso e espumejante,
vogando à correnteza a pequenina igara,
a cabocla gentil, a invencível amante
d’esta terra que o sol ardentemente aclara.

Na viva luz do olhar profundo e cintilante,
no colo rijo e nu, de uma beleza rara,
um misto singular de deusa e bacante,
a carne abrindo em flor, de volúpias avara.

Ninguém sabe dizer que destino procura...
nas tribos contam que, perdida de amargura
de um amor infeliz que há muito lhe fugiu.

abandonou a taba, o rumor dos palmares
e vai pedindo à morte a sombra de outros lares,
descendo, nua e bela, a corrente do rio.

Manaus, 904
Revista KOSMOS, setembro de 1904, Ano I, N.9

Nenhum comentário:

Postar um comentário

"Quando se sonha só, é apenas um sonho, mas quando se sonha com muitos, já é realidade. A utopia partilhada é a mola da história."
DOM HÉLDER CÂMARA


Outros contatos poderão ser feitos por:
almaacreana@gmail.com