terça-feira, 6 de março de 2018

O POETA ULISSES CASTELO BRANCO

Isaac Melo 


Ulisses Castelo Branco (Ulysses Castello Branco, grafia original) foi um poeta cearense, que viveu alguns anos, em princípios do século XX, na cidade de Tarauacá, então Vila Seabra. Ulisses era natural de Pacoti (CE), onde nasceu a 16 de março de 1883. Não foi possível precisar o ano em que chegou a Tarauacá, a data provável fica entre 1906 a 1909. Veio, provavelmente, atraído pelas riquezas da borracha e/ou para assumir cargos públicos, oriundo de indicações e/ou favores de amigos/políticos. Em Tarauacá foi comerciante, juiz de paz e juiz preparador do então 2.º Termo da Comarca do Juruá, na qualidade de 1.º suplente. Retornou ao Ceará em 1916, onde formou-se em Odontologia e cursou a Escola de Farmácia.

No Ceará, foi funcionário da Secretaria da Fazenda, na cidade de Redenção. Ulisses faleceu no dia 16 de março de 1925, acometido de tuberculose. Na revista O Malho, do Rio de Janeiro, o escritor Pereira d’Assumpção (do Cenáculo Pernambucano de Letras), no dia 7 de novembro de 1925, escreveu: “A tuberculose, a doença quase própria dos poetas da têmpera do meu colega, um apaixonado das musas, um fanático pelas letras, levou-o ao leito de dor fazendo-o sucumbir em pleno vigor das suas ilusões, cheio de vida e de sonhos. Deixa um livro de versos intitulado: Poesias, no qual encontramos a sua arte despida de coloridos fantásticos, porém cheia da suavidade e de encanto. Colaborou em vários periódicos, entre os quais esta revista, e sempre se mostrou um poeta sentimental, brilhando pelo seu valor e subindo pelo seu talento. Eu não ousarei chamá-lo um insigne, mas Ulysses, modesto e humilde, soube vencer pela sua arte simples. Porém revestida de emoção – da emoção que é o supremo berço da poesia.”

O jornal A Reforma, de Tarauacá-AC, em 14 de junho de 1925 (Ano VIII, N.351), também emitiu a seguinte nota sobre Ulisses Castelo Branco: “Faleceu em viagem de Itaúna para Redenção, no Ceará, em 16 de março passado, o dr. Ulisses Castelo Branco, quando o trem em viagem, partia da estação de Baturité. O extinto cearense viveu alguns anos neste lugar, onde exerceu funções públicas como suplente de juiz preparador nos primeiros dias do Termo de Seabra, da Comarca do Cruzeiro, sendo também naquele tempo, o dr. Ulisses, comerciante aqui. Regressando ao Ceará, formou-se em odontologia e exercia há muito tempo o cargo de Coletor das rendas estaduais em Redenção, onde residia, no mesmo estado do Ceará. Cultivava as musas o dr. Ulisses, deixando três livros de versos, nos quais se veem as suas excelentes produções literárias. Era casado com d. Izabel Valle Castello Branco e deixa de seu consórcio sete filhos, sendo o mais velho de 11 anos de idade.”

Ulisses, que também escreveu sob o pseudônimo de Myrtho d’Alva, publicou três livros de poesias: “Myrtos e Verbenas”, “Frutos do Outono” e “Poesias”. Sobre o último, o jornal A Reforma (24 de setembro de 1922, Ano V, N.219) escreveu: “É uma elegante plaquette de boas rimas, as primeiras da lavra do mavioso poeta da terra da luz. A publicação do novo trabalho com que se apresentou no círculo das belas letras do Estado do Ceará, o seu autor, foi feita no Rio de Janeiro, nas oficinas da Typographia do Instituto Muniz Barreto. Contêm 91 páginas em papel alvo e superior, nitidamente impressas.”

Halley Castello Branco, um dos filhos de Ulisses, nascido em Tarauacá, também foi poeta e jornalista no Ceará. Porém, nos materiais pesquisados, não foi possível encontrar muita referência sobre Halley. No entanto, sobre Ulisses Castelo Branco, além das informações biográficas, ainda conseguimos encontrar 19 poemas, que ora apresentamos, pioneiramente, numa página de internet. Pra além do juízo de valor dos poemas, o importante também é o resgate da memória e parte da obra de um poeta, há muito desaparecido e esquecido, cuja obra perdeu-se no tempo ou reduziu-se a raros exemplares.

***

A ILHA DE CORAL

À uma rocha agarrado e em sonho luminoso
Vive o velho pólipo, o artífice fecundo
Lá no fundo do mar, a construir um mundo,
Um mundo de coral, sublime, delicioso!

A princípio é um arbusto um pouco defeituoso,
Depois um matagal vasto, imenso, profundo;
Mais tarde uma região, um país lá no fundo
Das águas divinais do velho mar ditoso!

Um dia surgirá, desse céu de água ingente,
A ilha, como se fora um sol formoso e ardente,
E então, se acentuarão as cores do arrebol...

É que o céu corará de invejas e pesares,
Vendo a Obra que virá da solidão dos mares
Receber o batismo esplêndido do sol!

Jornal O Cruzeiro do Sul, 20 de agosto de 1916, Ano XI, N.492, p.3


SONHO DE POETA

Sonhei que me parti voando – um condor bendito
Que ia viver de luz nas plagas do infinito.
Oh! com que ar satisfeito eu me lançava pelas
Vastidões siderais em busca das estrelas.

Que bom que achei erguer meu par de asas tão lindo
Para o longínquo céu partindo, amor, subindo!
Como eram divinais os rubros arrebóis,
Quando ontem, nesse sonho, eu deslocava os sóis!

Oh! que vida levei eu, lá pelo azul voejando,
Na morna luz de um sol formoso me embriagando!
De vê astros, sangrei meus olhos – que portentos!

Minhas asas parti de encontro aos elementos...
E depois de eu gozar o que se não descreve,
Tive uma morte tão linda e radiante e breve!

Ceará – Brasil

Revista Fon-Fon, 13 de março de 1920, Ano XIV, N.11


PAISAGEM SERRANA

Vim ver destas serranias,
O sol nas franjas do poente
E ouvir o grito estridente
Das seriemas bravias.

Da cigarra as monodias,
Ferem o ar intermitente
E límpida água corrente,
Bebem pombas alvadias...

Tudo aqui fala de amores,
Junto ao perfume das flores

Que, pela mata, se perde,

E aos “Concertistas” se ouvem:
– As sonatas de Beetrhoven
E as sinfonias de Verdi!

Ceará

Revista Fon-Fon, 28 de agosto de 1920, Ano XIV, N.35


NUM FIM DE OCASO BOREAL

Numa taba grácil, lá no Amazonas,
Uma índia eu vi morrer rindo, contente.
E era linda e boa e pura e inocente,
Como as rosas gentis daquelas zonas.

Vi também nos seus olhos cristalinos
Erguidos para o céu de cores várias,
A paciência das brutas alimárias
Na comum ignorância dos destinos.

E disse então comigo tristemente:
– Vou dar-te flores desta mata ingente,
De pranto os índios vão banhar-te os pés
– “Flores – pelo que foste antigamente,
Pranto – pela tristeza de que hoje és.”

Ceará

Revista Fon-Fon, 27 de novembro de 1920, Ano XIV, N.48


A GARÇA

                          A Álvaro Moreira

Gosto de vê-la assim, alto voo, bonito
E numa afetação de gestos singulares,
A olhar, para esquecer seus íntimos pesares,
Este infinito céu, sobre o mar infinito...

Ela ansiosa procura (é o seu sonho bendito)!
Outra plaga... através das coisas mais vulgares,
Pensa existirem lá, lindos lagos, pomares
Em soberbas regiões, como aquelas do Egito!

E por isso se vai, voando, voando, altaneira
E esquecendo, de vez, a pobre Companheira,
Que se ficou atrás, dos alcantis nas fráguas!

Como tu, bela garça, há gente neste mundo,
Que deixa o seu, de outr’ora, amor terno, profundo
Da ingratidão chorando as dolorosas mágoas!

Revista Fon-Fon, 14 de outubro de 1921, Ano XV, N.42


ACONSELHANDO

Ao Júlio Severiano da Silveira

Deixa, poeta, esta lida!
– Vai em busca de teu lar...
Vai mesmo cindindo o ar
Como a pomba foragida.

Vai ver a tua querida,
Que tem da virtude a palma
Doce filha de tu’alma,
A vida de tua vida!...

Vai, poeta, ver aquela...
Aquela Rosa singela
Que tanto te estima e quer...

Aquele sonho de amor...
Aquela inocente flor...
Um anjo feito mulher!

Rio Muru – T. do Acre

Revista O Malho, 13 de abril de 1912, Ano XI, N.500


MORTE DE IRACEMA
(cena cearense)

Iracema ergue aos céus o seu olhar lacrimoso,
Sente o peso sem fim do infortúnio da vida:
É que o sol se vai pôr e ela vê transfundida
Na tristeza da tarde a lembrança do esposo...

Como custa tornar à cabana querida,
O valente Martim, seu marido bondoso!
Pensa, apertando ao seio o filho desditoso,
Essa doce porção de sua alma entristecida.

Eis, porém, que assomando o vulto do guerreiro,
Iracema cai... morre, ao ósculo primeiro
Do esposo que, ao tomar-lhe o filho, alto blasfema!

Enquanto que, pousada fronde balouçante
Da carnaúba, – triste e só, – de instante a instante,
A jandaia repete o nome de Iracema!

Ceará

Revista O Malho, 22 de julho de 1922, Ano XXI, N.1036


GARÇA

Alto, pompeando ao sol, vendo as serras nevoentas,
Numa atitude assim tão doce e singular,
Vai um bando gazil de garças alvacentas,
Na persuasão, talvez, de nunca mais voltar...

Bando – nave gentil – sobre essas ondas do ar,
Eu te sigo com a vista e calculo as tormentas
Que, feliz muito embora, hás de um dia encontrar
Nesse caminho astral, nestas manhãs friorentas...

Mas... deve ser bom voar, por essa azul-cobalto.
Assim sem se vexar, de asas abertas, no alto.
Buscando uma região luminosa e querida.
Onde a vida é sem fim, onde cantando e rindo
Vive tudo, num céu, que as portas de ouro abrindo,
Te convide a gozar a delícia da vida...

Ceará

Revista O Malho, 29 de julho de 1922, Ano XXI, N.1037


A CANÇÃO DA ROLA

– “Fogo apagou... fogo apagou...”
Diz no seu canto a rola triste,
É que seu bem não mais voltou
Ao ninho amado que ali existe.

E eu que vou indo pela estrada,
Penso na Flor que se ficou!
Enquanto a rola canta, entoada:
– “Fogo apagou... fogo apagou...”

Sabe a triste que o caçador
Matou-lhe o esposo, ali, defronte,
Mas quer negá-lo a seu amor,
Ao filho seu que está no monte;

Por isso que, sempre a cantar:
– “Fogo apagou... fogo apagou...”
Também buscando se enganar,
Chama o esposo, que se acabou...

(Inédito – Ceará)
Myrtho D’Alva

Revista O Malho, 10 de fevereiro de 1923, Ano XXII, N.1065


NOITE DE INSÔNIA

Ouço, à noite, uns sons de falas...
E me entristeço e em cismas me absorvo;
Penso na voz profética do Corvo,
Pousado sobre o frio ombro de Palas.
“Nunca mais!” Oh! como dói
Essa frase fatal da ave sutil de Poe...
E nas noites assim a gente nunca dorme,
Parece que uma ave agourenta,
Na cumeeira da casa
Arrasta a asa
Enorme
E lenta...
Debalde busco alívio à dor esmagadora
Das saudades imortais...
É que perdi a minha Lenôra
Para não encontrá-la, nunca mais!
Ah! quem me dera tirar do sentido
As palavras fatais,
Que me ferem o ouvido:
– “Nunca mais!”
Vida de horror, de horror profundo!
Sem um bálsamo no mundo!
Infelizmente tudo está resumido
Nestas sílabas fatais,
Que me dizem ao ouvido:
– “Nunca mais!”
E... num lutar insano
Passei do Engano ao Desengano!
E que me resta agora?
– O réquiem triste que a Saudade chora...

Revista O Malho, 23 de janeiro de 1926, Ano XXV, N.1219


CARNE DIVINA

Na taça de coral de tua boca,
Foi que eu pude notar, quando a beijei querida,
Sentindo, então, meu Deus, com que alegria louca
A grandeza do amor! A grandeza da vida!...

Hoje, mais do que nunca, eu desejo viver,
Viver para gozar tua carne sem par,
Muito embora, depois eu, chegue a perceber
Que essa carne divina é o que me vai matar...

Jornal A Reforma, Vila Seabra, 13 de julho de 1919, Ano II, N.62


ODE À MORTE

Morte, terrível morte, irmã triste da vida!
És a expressão da dor, voz de um ser absoluto,
Que te manda trazer à terra o horror, o luto,
E o fazes sem cessar, numa ânsia indefinida!

Iconoclasta que és, ó morte oferecida,
Onde passas, atento, às vezes, olho, escuto
E penso se, de braço erguido, resoluto,
Vens me cortar da vida a fibra dolorida.

Tenho medo de ti, também não tenho medo,
Já que m’a levaste, a ela, o distinto segredo
Do pedaço melhor de minha mocidade...

Não falemos, porém nesse tempo passado,
Pois não convém cantar o verso magoado,
O miserere triste, eterno da saudade...

Jornal A Reforma, Vila Seabra, 28 de março de 1920, Ano III, N.96


O FLAMBOYANT

Cor de zarcão a flor; da cor rubra das telhas;
As lindas folhas têm o verde da esperança,
Verde da cor do mar, de um mar todo bonança
– Vermelho coro do sol, despendendo centelhas!

Não pode ser mais doce o favo das abelhas,
Do que o vendo florido, o olhar de o ver não cansa,
Tal é o encanto sutil que essa árvore nos lança,
Fazendo a ostentação dessas flores vermelhas...

O flamboyant ao sol, nestas tardes de inverno,
Faz-me sempre lembrar meu caro lar paterno,
Onde cantei, brinquei, outr’ora, tão contente,

Vendo ao longe da serra, em montanha azulada,
Lindo flamboyant alto, à beira ampla da estrada,
Semelhando-se o sol, ensanguentando o poente...

Jornal A Reforma, Vila Seabra, 18 de julho de 1920, Ano III, N.112


SOLILÓQUIO

Da face do rochedo eu via deslizar,
Sobre o glauco cetim de esmeraldina flora,
O pranto. Era manhã, vinha surgindo a aurora
E eu poeta, penetrei a floresta a cantar

Na alma eu tinha a tristeza Oceânica do mar!
E pensei, recordando o meu viver de outrora:
Tudo sofre no mundo, a própria pedra chora!
É que eu tinha encontrado o rochedo a chorar...

A vida é tão pesada, enormíssima cruz,
Que a gente arrasta, por este mundo, sorrindo!
Pesada qual madeiro em que expirou Jesus.

Mas da vida o momento último que eu tiver,
Folgarei se o puder, abraçado, sentindo
A alva cruz de marfim de uns braços de mulher.

Jornal A Reforma, Vila Seabra, 29 de maio de 1921, Ano IV, N.155


RUÍNAS

Oh! velho e terno moinho amado de meu peito,
Já te não moves mais de enfarado e tristonho!
Quem me dera ver-te hoje a girar satisfeito,
Moendo esse trigo ideal dos campos de meu sonho...

Quanta glória acabada e meu sonho desfeito!
E nisso, muito tempo, a meditar me ponho,
Porém, me vale estar ao sofrimento afeito,
Vendo-me junto ao Bem, que tão longe suponho...

Velho moinho cansado, a seara de ouro ondeante,
Fizera-te viver sem parar um instante,
A moer a produção fecunda do lugar...

Hoje, porém, estás em abandono, poente,
Restos velhos de ferro, onde em seu elemento
Alta noite se põe o mocho, a piar... a piar...

Jornal A Reforma, Vila Seabra, 5 de março de 1922, Ano V, N.193


REFLEXÕES DE UM CÉTICO

Ao Angelo Silveira

Tudo é podre no mundo! Eu, tal como Floriano,
Confio, desconfiando... E o meu fraco confiar
É a maneira sagaz de me certificar
Da humana podridão deste mundo profano!

Há tão pouco de bom no que vejo de humano!
E tudo busca só iludir... enganar!
Fruto amargo a sorrir, crocodilo a chorar...
Oh! se este engana, aquele engana e eu muito engano!

Monstro do coração do velho profundo,
Verme que não atinge a possível visão,
Todos vós enganais demais aqui no mundo

E também tanta vez sois num dia enganado!
Está patente, pois, a sobrada razão
De nunca se confiar, sem viver desconfiado...

Ceará – 1923

Jornal A Reforma, Vila Seabra, 5 de agosto de 1923, Ano VI, N.263


NO CAMPO

Oh! como és tão feliz, canário amigo,
Bem mais feliz que eu, estou bem certo,
És o senhor então deste deserto,
Por isso é que a alegria anda contigo.

Eu vejo espinho só por onde sigo
E a desventura me acenando perto,
Acabou-se-me aquele céu aberto,
O tempo de venturas que bendigo.

Aqui no campo, vim buscar prazeres,
Neste rumor das coisas e dos seres,
Para esquecer da vidas as negras cenas...

Sou pobre! E tens fortuna, ó belga, e tanta!
Além dos bens que um bardo não descanta
Ouro possuis na cor das próprias penas!

Jornal A Reforma, Vila Seabra, 25 de maio de 1919, Ano II, N.55


RUI BARBOSA

O mais sábio brasileiro do seu tempo e uma das maiores mentalidades do planeta

Não devemos dizer: Rui Barbosa morreu!
Ele vem de passar para a imortalidade.
Isto que fica em nós, esta extrema saudade,
É a lembrança: partiu o sol para o apogeu...

Se o loiro girassol para o poente pendeu,
Obedecendo a lei que rege a humanidade,
É que homem do direito, amou sempre a verdade
Dos livros que estudou, dos sábios que aprendeu...

Pudesse eu descrever do sol a trajetória!
Sol! que a gravitação levou ao céu da glória
E em torno do qual gira a procissão dos astros!

Rui se for passear lá nesse reino de Ophir,
Na gôndola que vejo agora se partir,
Numa palpitação de velas e de mastros

Jornal A Reforma, Vila Seabra, 27 de maio de 1923, Ano VI, N.253


LIRA TRISTE DE UM SIMPLES

Minha alma é simples como a dos pastores,
Simples, tão simples como outr’ora viste;
O coração mudou, está mais triste,
Segundo creio, vai morrer de amores...

É que de tua mão não tenho flores
E à desventura tanta, quem resiste?!
Perder, no mundo, o único bem que existe!
Trocar um céu de anil, por chão de dores!

Eu sempre fui assim, não tive sorte,
Quanto mais eu alegre busco a vida,
Tanto mais triste me aparece a morte;

Por isso, evito até já de cantar,
Pois, quando tanjo a lira, flor querida,
As cordas todas põem-se a chorar!

Jornal A Reforma, Vila Seabra, 17 de junho de 1923, Ano VI, N.256

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