Bruno Brasil
Lançado em 12 de
maio de 1918, A Reforma era um jornal
voltado principalmente para as questões políticas, econômicas e sociais do
Território do Acre, região em que circulou durante 36 anos. Foi fundado na Vila
Seabra (atual Tarauacá), localidade situada na Foz do Rio Murú que servia de
sede ao então Departamento do Tarauacá – uma das divisões administrativas do
antigo território federal do Acre.
Ligado ao Partido
Republicano do Tarauacá, o jornal se envolveu intensamente nas disputas
políticas locais. Na época essas disputas eram polarizadas pelas facções
lideradas por José Thomaz da Cunha de Vasconcellos e Raphael Gondim, aos quais A Reforma fazia ferrenha oposição e
acusava de corrupção, e, de outro lado, chefes políticos como os coronéis
Antônio Frota Menezes e Júlio Pereira Rocque, Pires Rebello e Galdino Ramos.
Grande parte do noticiário político era dedicada a denúncias das
irregularidades cometidas pelos inimigos políticos, quando o jornal estava na
oposição, e a elogios e homenagens, quando o grupo a que era ligado estava na
situação.
Publicado aos
domingos em tamanho standard (45 cm x 30 cm, aproximadamente), o jornal tinha
de quatro a seis páginas por edição, cada uma com cinco colunas de texto e
imagens esparsas. O exemplar custava 1$000, com assinaturas semestrais e anuais
a 20$000 e 30$000, respectivamente. A redação ficava na rua Cel. Juvêncio de
Menezes, sem número. Em fevereiro de 1919, A Reforma mudou sua sede para um
prédio maior, na mesma rua Juvêncio de Menezes, onde antes funcionava o antigo
Fórum da cidade.
As razões para a
fundação de A Reforma foram
anunciadas no primeiro número:
A crise social que atravessamos no
Departamento [de Tarauacá] estava exigindo a instituição da bôa imprensa,
severa nos principios, digna na linguagem, elevada nas aspirações, serena nos
intuitos, superior no objectivo. Comprehendendo essa necessidade (...), foi
resolvida a creação da A Reforma, que adopta como programma: trabalhar,
empenhando a melhor vontade indo até o sacrifício, pelo aperfeiçoamento moral,
progresso e engrandecimento material do Departamento. O raio de acção do nosso
jornal ha de estender-se a todas as manifestações da actividade humana, nos
diversos desdobramentos da vida politica, administrativa, commercial e agricola
do Departamento.
Também nesse número
o jornal homenageava o coronel Antonio Frota Menezes, ex-governante local, e
publicava o termo de contrato celebrado entre o coronel Julio Pereira Rocque,
dirigente do Partido Republicano de Tarauacá e prefeito substituto do Departamento
do Tarauacá, e José Florêncio da Cunha, para o arrendamento do material
tipográfico da prefeitura.
José Florêncio da Cunha, fundador e primeiro diretor. |
Entre as questões
locais cobertas pelo jornal, sobressaem os problemas locais de fronteira, os
obstáculos ao desenvolvimento da região, a reforma administrativa de 1920, as
relações do antigo território com o governo central, as questões amazônicas, a
migração de populações nordestinas para a região, em especial durante o ciclo
da borracha ou ainda os congressos seringalistas locais, o primeiro dos quais
foi realizado em maio de 1928.
No plano nacional,
o jornal se engajou, em 1919, na candidatura de Rui Barbosa para a presidência
da República, após o falecimento de Rodrigues Alves. Em 1930 apoiou a revolução
liderada por Getúlio Vargas e a nomeação de Francisco de Paula Assis
Vasconcellos para interventor no Acre.
O jornal também
publicava textos literários, crônicas elegantes, colunas sociais, atos
oficiais, homenagens, chegadas e partidas de figuras ilustres à cidade, editais
públicos, retratos, circulares de empresas locais, crônicas esportivas,
obituários, natalícios, noticiário policial, anúncios, entre outros assuntos. A
partir de 28 de setembro de 1919, A Reforma começou também a publicar
folhetins.
Colaboram em A Reforma Mathias Olympio de Mello,
Raymundo Belfort Teixeira, Levy Saavedra, Plácido Barbosa, Júlio Dantas, Hermes
Fontes, Marques Sobrinho, Ayres dos Reis, Godofredo Maciel, Péricles Moraes,
Guerra Junqueiro, José Hygino, Leoni de Sá, Sansão Gomes, João Pinheiro,
Barbosa Vianna, Bruno de Seabra, Ricarêdo de Góes, R. Relvas, Fran Valme, W.
Valle Mello, Mar de Physa, Armando Gonçalves, Alberto Moreira, Joaquim Maria
Ruella, Tabajara, José Potyguara da Frota e Silva, Benedicto Bellem, Leonardo
Motta, Berillo Neves, Coelho Neto, Júlia Lopes de Almeida, Rui Barbosa e Mendes
Fradique, entre muitos outros.
Francisco Ângelo
Silveira gerenciou o jornal por seis anos. Nos últimos anos do periódico a
figura forte era o tenente Gualter Marques Baptista, identificado em alguns
momentos como um de seus fundadores e também como editor ou principal redator.
Em 1920, o jornal
adquiriu o equipamento tipográfico usado pelo jornal O Cruzeiro do Sul, que
circulava na região do Alto Juruá, e devolveu à Prefeitura as máquinas
arrendadas desde a sua fundação. Na segunda metade da década de 1920, A Reforma se encontrava em nova sede, na
rua Cel. João de Paiva, na Praça Plácido de Castro. Em janeiro de 1931, passou
a ser dirigido por Júlio Pereira Rocque. Em 25 de junho de 1933, Júlio Pereira
Rocque deixou a direção, que passou a Manoel Vieira da Cunha como seu “diretor
político” e José de Sá Barreto, antigo chefe das oficinas tipográficas, como
“editor-gerente”.
Segundo Rauana
Batalha Albuquerque, em “De Bilac a Xisto: Manifestações poéticas nos jornais
tarauacaenses (1900-1920)”, o jornal deixou de circular em 1934. A última
edição data de 25 de novembro de 1934.
Última edição de A REFORMA |
1. ALBUQUERQUE,
Rauana Batalha. De Bilac a Xisto: Manifestações poéticas nos jornais
tarauacaenses (1900-1920). In Anais do SILEL. Volume 1. Uberlândia: EDUFU,
2009.
2.Tarauacá. IBGE Cidades. Disponível em:
http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1 . Acesso em 30 jul. 2012.
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