segunda-feira, 30 de abril de 2018

TARAUACÁ: HISTÓRICO DO JORNAL A REFORMA

A REFORMA
Bruno Brasil
1.ª edição de A REFORMA
Lançado em 12 de maio de 1918, A Reforma era um jornal voltado principalmente para as questões políticas, econômicas e sociais do Território do Acre, região em que circulou durante 36 anos. Foi fundado na Vila Seabra (atual Tarauacá), localidade situada na Foz do Rio Murú que servia de sede ao então Departamento do Tarauacá – uma das divisões administrativas do antigo território federal do Acre.

Ligado ao Partido Republicano do Tarauacá, o jornal se envolveu intensamente nas disputas políticas locais. Na época essas disputas eram polarizadas pelas facções lideradas por José Thomaz da Cunha de Vasconcellos e Raphael Gondim, aos quais A Reforma fazia ferrenha oposição e acusava de corrupção, e, de outro lado, chefes políticos como os coronéis Antônio Frota Menezes e Júlio Pereira Rocque, Pires Rebello e Galdino Ramos. Grande parte do noticiário político era dedicada a denúncias das irregularidades cometidas pelos inimigos políticos, quando o jornal estava na oposição, e a elogios e homenagens, quando o grupo a que era ligado estava na situação.

Publicado aos domingos em tamanho standard (45 cm x 30 cm, aproximadamente), o jornal tinha de quatro a seis páginas por edição, cada uma com cinco colunas de texto e imagens esparsas. O exemplar custava 1$000, com assinaturas semestrais e anuais a 20$000 e 30$000, respectivamente. A redação ficava na rua Cel. Juvêncio de Menezes, sem número. Em fevereiro de 1919, A Reforma mudou sua sede para um prédio maior, na mesma rua Juvêncio de Menezes, onde antes funcionava o antigo Fórum da cidade.

As razões para a fundação de A Reforma foram anunciadas no primeiro número:

A crise social que atravessamos no Departamento [de Tarauacá] estava exigindo a instituição da bôa imprensa, severa nos principios, digna na linguagem, elevada nas aspirações, serena nos intuitos, superior no objectivo. Comprehendendo essa necessidade (...), foi resolvida a creação da A Reforma, que adopta como programma: trabalhar, empenhando a melhor vontade indo até o sacrifício, pelo aperfeiçoamento moral, progresso e engrandecimento material do Departamento. O raio de acção do nosso jornal ha de estender-se a todas as manifestações da actividade humana, nos diversos desdobramentos da vida politica, administrativa, commercial e agricola do Departamento.

Também nesse número o jornal homenageava o coronel Antonio Frota Menezes, ex-governante local, e publicava o termo de contrato celebrado entre o coronel Julio Pereira Rocque, dirigente do Partido Republicano de Tarauacá e prefeito substituto do Departamento do Tarauacá, e José Florêncio da Cunha, para o arrendamento do material tipográfico da prefeitura.

José Florêncio da Cunha, fundador e primeiro diretor.
Entre as questões locais cobertas pelo jornal, sobressaem os problemas locais de fronteira, os obstáculos ao desenvolvimento da região, a reforma administrativa de 1920, as relações do antigo território com o governo central, as questões amazônicas, a migração de populações nordestinas para a região, em especial durante o ciclo da borracha ou ainda os congressos seringalistas locais, o primeiro dos quais foi realizado em maio de 1928.

No plano nacional, o jornal se engajou, em 1919, na candidatura de Rui Barbosa para a presidência da República, após o falecimento de Rodrigues Alves. Em 1930 apoiou a revolução liderada por Getúlio Vargas e a nomeação de Francisco de Paula Assis Vasconcellos para interventor no Acre.

O jornal também publicava textos literários, crônicas elegantes, colunas sociais, atos oficiais, homenagens, chegadas e partidas de figuras ilustres à cidade, editais públicos, retratos, circulares de empresas locais, crônicas esportivas, obituários, natalícios, noticiário policial, anúncios, entre outros assuntos. A partir de 28 de setembro de 1919, A Reforma começou também a publicar folhetins.

Colaboram em A Reforma Mathias Olympio de Mello, Raymundo Belfort Teixeira, Levy Saavedra, Plácido Barbosa, Júlio Dantas, Hermes Fontes, Marques Sobrinho, Ayres dos Reis, Godofredo Maciel, Péricles Moraes, Guerra Junqueiro, José Hygino, Leoni de Sá, Sansão Gomes, João Pinheiro, Barbosa Vianna, Bruno de Seabra, Ricarêdo de Góes, R. Relvas, Fran Valme, W. Valle Mello, Mar de Physa, Armando Gonçalves, Alberto Moreira, Joaquim Maria Ruella, Tabajara, José Potyguara da Frota e Silva, Benedicto Bellem, Leonardo Motta, Berillo Neves, Coelho Neto, Júlia Lopes de Almeida, Rui Barbosa e Mendes Fradique, entre muitos outros.

Francisco Ângelo Silveira gerenciou o jornal por seis anos. Nos últimos anos do periódico a figura forte era o tenente Gualter Marques Baptista, identificado em alguns momentos como um de seus fundadores e também como editor ou principal redator.

Em 1920, o jornal adquiriu o equipamento tipográfico usado pelo jornal O Cruzeiro do Sul, que circulava na região do Alto Juruá, e devolveu à Prefeitura as máquinas arrendadas desde a sua fundação. Na segunda metade da década de 1920, A Reforma se encontrava em nova sede, na rua Cel. João de Paiva, na Praça Plácido de Castro. Em janeiro de 1931, passou a ser dirigido por Júlio Pereira Rocque. Em 25 de junho de 1933, Júlio Pereira Rocque deixou a direção, que passou a Manoel Vieira da Cunha como seu “diretor político” e José de Sá Barreto, antigo chefe das oficinas tipográficas, como “editor-gerente”.

Segundo Rauana Batalha Albuquerque, em “De Bilac a Xisto: Manifestações poéticas nos jornais tarauacaenses (1900-1920)”, o jornal deixou de circular em 1934. A última edição data de 25 de novembro de 1934.
Última edição de A REFORMA
Fontes
1. ALBUQUERQUE, Rauana Batalha. De Bilac a Xisto: Manifestações poéticas nos jornais tarauacaenses (1900-1920). In Anais do SILEL. Volume 1. Uberlândia: EDUFU, 2009.
2.Tarauacá. IBGE Cidades. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1 . Acesso em 30 jul. 2012.

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