Mithrídates Correa
é o poeta mais desconhecido da Amazônia. No entanto, muito escreveu. Em
jornais, revistas, Manaus. Não publicou um só livro. Era um bom poeta. Poucos
se interessaram por sua obra. Um dos poucos foi o grande piauiense Assis
Brasil, que fez muito mais pela cultura brasileira do que um ministério da
cultura. Devemos à persistência de Assis Brasil a melhor coletânea da poesia no
Brasil em livro.
Mithrídates Correa
nasceu em Manaus, em 1904 e lá faleceu, em 1968. Foi juiz no interior e professor
Catedrático de Direito Administrativo da Faculdade de Direito da Universidade
do Amazonas. “Promotor público, advogado, militante, poeta”, escreveu Assis
Brasil.
Ele morreu no dia
primeiro de janeiro de 1968.
Um dia antes de
morrer, publicou no “Jornal do Comércio” de Manaus um poema profético, falando
de sua morte: “não pode o coração sofrer engano, / ainda que seja um coração de
aço”.
Apesar de não ter
publicado nenhum livro, entrou em antologias e na Academia Amazonense de
Letras, onde ocupava a cadeira Olavo Bilac.
Seus textos em
prosa são excelentes, como li nos poucos fragmentos que nos sobraram. Seu
testamento poético foi encontrado depois de sua morte. Um poema longo, do qual
extraio alguns versos, que dizem: “Quando eu já não for / ... / que se abra o
chão / e à voracidade da terra / minhas carnes atirem / vida em movimento, alma
em ação / que eu volte a ser nada / como fui outrora / da vida um acontecimento
/ em trajetória para o esquecimento / e o que deixei de mim como lembrança /
que sirva de alimento”.
Está o poema na
revista da Academia Amazonense de Letras, n. 12, de 1968. Pouco depois de sua
morte. Mas, como ele escreveu, em outro poema:
“Não morre o que
transforma a força em pensamento
e desta arranca a
cor e o movimento
e tudo que de belo
o pensamento encerra”.
Fui o primeiro a
colocar na Internet os poetas amazonenses antigos, no meu deletado “Site do
Escritor”, que a Geocities teve o cuidado de tirar do ar, até hoje não sei por
quê. Talvez porque excedia o limite do espaço on line. Mas não estava lá o
poeta Mithrídates Correa.
Como ele escreveu,
todos nós estamos “em trajetória para o esquecimento”.
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"Quando se sonha só, é apenas um sonho, mas quando se sonha com muitos, já é realidade. A utopia partilhada é a mola da história."
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