Barracão do Seringal Guanabara, rio Yaco. |
DE SERGIPE AO ACRE
Avelino de Medeiros Chaves |
No ano de 1909, aos
trinta e quatro anos de idade, o coronel Avelino de Medeiros Chaves ascendera à
posição de um dos maiores seringalistas do Acre.
Nascera a 4 de
novembro de 1875, no Estado de Sergipe, de onde partiu aos dezessete anos em
direção ao Pará, para libertar-se das más condições de vida de sua terra natal.
De lá foi para o
Rio, onde sentou praça, em 1893.
Voltou a Belém,
onde concluiu o curso de Agrimensura, pela Escola Politécnica do Pará e foi
para o Acre, em 1896, no interior da Amazônia, nos rios da borracha, o Paraíso
dos Agrimensores, onde existia muito trabalho para eles, que se tornariam
políticos importantes e proprietários de extensos seringais.
Lá tomou parte nas
lutas contra os bolivianos e abriu uma estrada entre Xapuri e o Alto Iaco.
OS SERINGAIS
Onze anos após demarcar
e da sua chegada ao Iaco, já estava rico. Naquele ano de 1909, o seringal
Guanabara, no alto rio Iaco, produzira 190 toneladas de borracha, já tendo
descido 144 toneladas pelo navio Índio do Brasil, o que lhe propiciaria um
passeio pela Europa, para onde iria a passeio e a negócios, visando à aquisição
de embarcações para as suas atividades produtoras e comerciais.
Navio Índio do Brazil |
Esta produção de
190tons de borracha equivalia aproximadamente a 475.000 Libras Esterlinas,
correspondentes a 8g de ouro, por libra, correspondendo a 3,8 toneladas de
ouro, uma fortuna gigantesca para a época.
O seringal
Guanabara era o maior diamante da sua coroa de Rei da Borracha do Acre
possuindo uma área total de 2.535.000.000 metros quadrados, equivalentes a
253.500 hectares ou 2.535km2, um dos maiores do Acre, a margem esquerda do
Iaco, a nove léguas de distância da fronteira peruana, chegando a produzir 300
toneladas de borracha anualmente.
Tornara-se sua
propriedade desde 1898, mas só começara a ser explorado, em 1901, com 30
trabalhadores, em uma área onde existiam cinco grupos indígenas: os catianas,
os mais numerosos, canamaris, inamarés, capixis e maneteneris.
A maior dificuldade
no trato deste seringal sempre fora a navegação, pois os navios só iam até
Santa Clara, porém, em 1902, ele conseguiu que o Augusto Montenegro chegasse
até Porto Brasil. Algum tempo depois os navios atingiriam Guanabara, desde
então o ponto terminal da navegação, no Iaco.
Em 1912, o império
da firma A. Chaves & Cia, da qual era sócio o seringalista João Câncio de
Lima, compreendia os seringais Brasil, Guanabara, Arvoredo e Peri, no Iaco;
Canadá, no rio Acre; e Califórnia, Panamá e Mato Grosso, no rio Xapuri.
VIAGEM À EUROPA
Voltemos a 1910,
quando Avelino Chaves resolvera fazer a sua viagem à Europa, como faziam os
grandes seringalistas da época.
De descida,
passando por Sena Madureira, informou aos amigos que ficaria hospedado no hotel
Avenida, no Rio, e no Grand Hôtel, em Paris.
Durante esta
viagem, a 2 de setembro de 1910, na Alemanha, ofereceu um almoço no Salão do
Kaiser do hotel Adlon, ao qual compareceram cinquenta oficiais de alta patente
das forças armadas prussiana e brasileira, ao qual compareceu o Marechal Hermes
da Fonseca, em visita àquele país do qual era um admirador fervoroso.
Em Paris, comprou o
jornal Le Courier du Brésil, destinado à propaganda do Brasil, no Velho Mundo.
No seu regresso foi
nomeado Comandante Superior da Guarda Nacional do Alto Purus, chegando à Sena
Madureira, a bordo do navio Ajudante, sendo alvo de calorosa acolhida.
COMPRA DE
EMBARCAÇÕES
Nesta viagem ao
Velho Mundo, o coronel Avelino encomendaria três modernas embarcações para a
sua firma: a lancha Sena Madureira, a Alvarenga Catiana e esse vapor Guanabara.
O barco principal,
o Guanabara, tinha a sua primeira subida ao Iaco prevista para março de 1911,
mas fora retardada por uma greve nos estaleiros ingleses, o que atrasara a sua
entrega.
Fora construído
pela Dundee Shipbuilding Co Ltd, de Dundee, na Escócia, em 1911, nº220, com
324tbr ou 175 net, 140x29x 7,9 pés, e usava máquinas W.V.V. Lidgerwood,
Glasgow.
O magnífico Navio Guanabara |
A lancha Sena
Madureira foi feita nos estaleiros franceses Chaparelle, tendo o casco de aço
galvanizado, 13 metros de comprimento, 2,80 metros de boca, 1,10 metros de
pontal e 60 cavalos de força, e destinada à linha Iaco-Purus, até Boca do Acre.
Traria a reboque a
Alvarenga Catiana, fabricada pela empresa alemã H. Holtz, com 48 pés de
comprimento e 80 centímetros de calado, dispondo de beliches, banheiros e
cozinha.
O jornal “A
Província do Pará” informava que o barco fora classificado sob o nº100 A 1 do
Lloyd Register, como navio de primeira classe para rios, possuindo quatorze
camarotes de primeira classe, com divãs, beliches e guarda-roupas, acomodações
de terceira classe, camarotes no bico da proa destinados aos oficiais,
alojamento de oito camas para os tripulantes, duas câmaras espaçosas no convés
reservadas ao comandante e ao proprietário e instalações sanitárias. Havia
ainda um magnífico salão de refeições à popa, com quatro mesas de mármore,
ventiladores, um piano automático com vasto repertório, e um salão para jogos e
fumantes.
O barco fora
equipado com câmaras frigoríficas, destiladores de água potável, uma máquina
com a capacidade de fabricar 150 quilos de gelo por dia, um grande conforto
para as regiões de calor tropical, além de luz elétrica.
As máquinas de
tríplice expansão possuíam 350 cavalos de força, consumindo 6,5 toneladas de
carvão por dia, e desenvolvendo 11 milhas por hora, em velocidade de cruzeiro,
e 12, de máxima. Estava equipado com guindastes elétricos e lanchas com motores
americanos.
A sua viagem
inaugural começou em Belém, a 22 de janeiro de 1912, tendo a embarcação
atingido Sena Madureira a 14 de fevereiro, após 23 dias, em um percurso
relativamente rápido.
Conforme as
descrições da época, o seu rancho primava pela qualidade, sendo composto de
conservas e bebidas finíssimas compradas na França, Alemanha e Inglaterra.
Um diário desta
primeira viagem foi publicado nos números 93 e 94, do Brazil Acreano,
infelizmente incompleto, pela falta do segundo exemplar, na coleção que
consultamos, do qual iremos publicar o primeiro trecho, por retratar as
passagens de uma longa viagem, talvez de trinta dias, subindo o rio Purus.
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