segunda-feira, 21 de maio de 2018

O SERINGAL GUANABARA

Antonio José Souto Loureiro
Barracão do Seringal Guanabara, rio Yaco.


DE SERGIPE AO ACRE

Avelino de Medeiros Chaves
No ano de 1909, aos trinta e quatro anos de idade, o coronel Avelino de Medeiros Chaves ascendera à posição de um dos maiores seringalistas do Acre.

Nascera a 4 de novembro de 1875, no Estado de Sergipe, de onde partiu aos dezessete anos em direção ao Pará, para libertar-se das más condições de vida de sua terra natal.

De lá foi para o Rio, onde sentou praça, em 1893.

Voltou a Belém, onde concluiu o curso de Agrimensura, pela Escola Politécnica do Pará e foi para o Acre, em 1896, no interior da Amazônia, nos rios da borracha, o Paraíso dos Agrimensores, onde existia muito trabalho para eles, que se tornariam políticos importantes e proprietários de extensos seringais.

Lá tomou parte nas lutas contra os bolivianos e abriu uma estrada entre Xapuri e o Alto Iaco.

OS SERINGAIS

Onze anos após demarcar e da sua chegada ao Iaco, já estava rico. Naquele ano de 1909, o seringal Guanabara, no alto rio Iaco, produzira 190 toneladas de borracha, já tendo descido 144 toneladas pelo navio Índio do Brasil, o que lhe propiciaria um passeio pela Europa, para onde iria a passeio e a negócios, visando à aquisição de embarcações para as suas atividades produtoras e comerciais.
Navio Índio do Brazil
Esta produção de 190tons de borracha equivalia aproximadamente a 475.000 Libras Esterlinas, correspondentes a 8g de ouro, por libra, correspondendo a 3,8 toneladas de ouro, uma fortuna gigantesca para a época.

O seringal Guanabara era o maior diamante da sua coroa de Rei da Borracha do Acre possuindo uma área total de 2.535.000.000 metros quadrados, equivalentes a 253.500 hectares ou 2.535km2, um dos maiores do Acre, a margem esquerda do Iaco, a nove léguas de distância da fronteira peruana, chegando a produzir 300 toneladas de borracha anualmente.
Tornara-se sua propriedade desde 1898, mas só começara a ser explorado, em 1901, com 30 trabalhadores, em uma área onde existiam cinco grupos indígenas: os catianas, os mais numerosos, canamaris, inamarés, capixis e maneteneris.

A maior dificuldade no trato deste seringal sempre fora a navegação, pois os navios só iam até Santa Clara, porém, em 1902, ele conseguiu que o Augusto Montenegro chegasse até Porto Brasil. Algum tempo depois os navios atingiriam Guanabara, desde então o ponto terminal da navegação, no Iaco.

Em 1912, o império da firma A. Chaves & Cia, da qual era sócio o seringalista João Câncio de Lima, compreendia os seringais Brasil, Guanabara, Arvoredo e Peri, no Iaco; Canadá, no rio Acre; e Califórnia, Panamá e Mato Grosso, no rio Xapuri.

VIAGEM À EUROPA

Voltemos a 1910, quando Avelino Chaves resolvera fazer a sua viagem à Europa, como faziam os grandes seringalistas da época.

De descida, passando por Sena Madureira, informou aos amigos que ficaria hospedado no hotel Avenida, no Rio, e no Grand Hôtel, em Paris.

Durante esta viagem, a 2 de setembro de 1910, na Alemanha, ofereceu um almoço no Salão do Kaiser do hotel Adlon, ao qual compareceram cinquenta oficiais de alta patente das forças armadas prussiana e brasileira, ao qual compareceu o Marechal Hermes da Fonseca, em visita àquele país do qual era um admirador fervoroso.
Salão do Adlon Hotel, Berlim, 1910.
Em Paris, comprou o jornal Le Courier du Brésil, destinado à propaganda do Brasil, no Velho Mundo.

No seu regresso foi nomeado Comandante Superior da Guarda Nacional do Alto Purus, chegando à Sena Madureira, a bordo do navio Ajudante, sendo alvo de calorosa acolhida.

COMPRA DE EMBARCAÇÕES

Nesta viagem ao Velho Mundo, o coronel Avelino encomendaria três modernas embarcações para a sua firma: a lancha Sena Madureira, a Alvarenga Catiana e esse vapor Guanabara.

O barco principal, o Guanabara, tinha a sua primeira subida ao Iaco prevista para março de 1911, mas fora retardada por uma greve nos estaleiros ingleses, o que atrasara a sua entrega.

Fora construído pela Dundee Shipbuilding Co Ltd, de Dundee, na Escócia, em 1911, nº220, com 324tbr ou 175 net, 140x29x 7,9 pés, e usava máquinas W.V.V. Lidgerwood, Glasgow.
O magnífico Navio Guanabara
A lancha Sena Madureira foi feita nos estaleiros franceses Chaparelle, tendo o casco de aço galvanizado, 13 metros de comprimento, 2,80 metros de boca, 1,10 metros de pontal e 60 cavalos de força, e destinada à linha Iaco-Purus, até Boca do Acre.

Traria a reboque a Alvarenga Catiana, fabricada pela empresa alemã H. Holtz, com 48 pés de comprimento e 80 centímetros de calado, dispondo de beliches, banheiros e cozinha.

O jornal “A Província do Pará” informava que o barco fora classificado sob o nº100 A 1 do Lloyd Register, como navio de primeira classe para rios, possuindo quatorze camarotes de primeira classe, com divãs, beliches e guarda-roupas, acomodações de terceira classe, camarotes no bico da proa destinados aos oficiais, alojamento de oito camas para os tripulantes, duas câmaras espaçosas no convés reservadas ao comandante e ao proprietário e instalações sanitárias. Havia ainda um magnífico salão de refeições à popa, com quatro mesas de mármore, ventiladores, um piano automático com vasto repertório, e um salão para jogos e fumantes.

O barco fora equipado com câmaras frigoríficas, destiladores de água potável, uma máquina com a capacidade de fabricar 150 quilos de gelo por dia, um grande conforto para as regiões de calor tropical, além de luz elétrica.

As máquinas de tríplice expansão possuíam 350 cavalos de força, consumindo 6,5 toneladas de carvão por dia, e desenvolvendo 11 milhas por hora, em velocidade de cruzeiro, e 12, de máxima. Estava equipado com guindastes elétricos e lanchas com motores americanos.

A sua viagem inaugural começou em Belém, a 22 de janeiro de 1912, tendo a embarcação atingido Sena Madureira a 14 de fevereiro, após 23 dias, em um percurso relativamente rápido.

Conforme as descrições da época, o seu rancho primava pela qualidade, sendo composto de conservas e bebidas finíssimas compradas na França, Alemanha e Inglaterra.

Um diário desta primeira viagem foi publicado nos números 93 e 94, do Brazil Acreano, infelizmente incompleto, pela falta do segundo exemplar, na coleção que consultamos, do qual iremos publicar o primeiro trecho, por retratar as passagens de uma longa viagem, talvez de trinta dias, subindo o rio Purus.

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