Poetas
institucionais têm dor.
Não duvidam.
Morrem de medo de
quem governa a dor.
E vivem a
metrificar instituições as tantas
para o gozo de seus
comandos e de suas penas calculadas
nas margens
descaradas de seu tempo e de seu lugar.
PREVISÃO DO MEDO
PARA HOJE
oscilação
sol frio morno
quente insuportável quente morno frio
lua ainda sem lua
vai de meio claro meio turvo
metade crescente
cheia brilhante semi lume sem brilho
rara luz bola
transparente distante
sol frio morno de
imagem sonegada pela escura nuvem
sem luz nem sol nem
lua só água desaba do céu
medo!
frio morno quente
insuportável
A CATEDRAL DA SEDE
Todos querem o
centro.
Ser.
Sonham, lutam por
ele.
Alguns morrem,
alguns vivem enfermos.
O centro? Uma voz
do fundo interpela...
Sim! Todas as vozes
da superfície respondem.
E completam:
Qualquer um! E repetem mais de uma vez.
Mas onde está estar
o centro?
E a resposta se
emudece nos cantos
e assim se mantém
para todo o resto.
No fundo e na superfície.
E nada se acaba
como a impermanência da sede.
EMPATE
Eu jogando dados
com o poema que invento:
Ele vem me dizendo
Eu retruco
Ele se impõe como
uma libido
Eunuco
Nos calamos por um
instante
nenhum facilita no
apreço
mas só ele, só ele
escrita
a minha pessoa
esquisita.
ACRE EM TRANSE
Onde estão todos?
Onde estão?
Nos limites,
clicando conflitos?
Nas trincheiras,
como cães de guerra?
Nas retaguardas das
conveniências, em seus papéis partidários?
E os dignos, os
cansados, os calados, os eloquentes, os malucos, os dementes?
Todos!
Os meninos, as
meninas... e os demais humanos de asas?
Onde estão de casa
em casa?
Os da minha
infância sem ventura.
Os da minha
juventude sem medo.
Os da minha
maturidade sem espanto.
Os da minha morte
sem pranto.
Oh-culpados!
Matando tempo.
Matando nome.
Matando gente.
Matando fome.
DIVERSÃO E ARTE
Te juro: após
pensar... planejar... inventei.
Saiu de mim uma
máquina sem nenhuma servidão.
Não foi acidente.
Ainda bem. O resultado me satisfez.
Foi o que imaginei,
foi o que resolvi criar.
Exatamente por não
servir a nada, a máquina funciona.
Isso te incomoda,
né?
Por que não inventa
a tua?
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"Quando se sonha só, é apenas um sonho, mas quando se sonha com muitos, já é realidade. A utopia partilhada é a mola da história."
DOM HÉLDER CÂMARA
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