REDEMPÇÃO, por um
gesto cativante de Pericles Moraes, que desfalcou o seu arquivo, onde jaziam
inéditos, desses dois peregrinos camonianos, tem hoje a honra da colaboração de
Remigio Fernandez. A crescente e radiosa celebridade desse grande nome, dos
maiores das letras amazônicas, dispensa quaisquer elogios. Todos o conhecem,
todos o admiram, todos o amam. Visionador formidável de aspectos e emoções, admira-se
o escritor pela sua cultura complexa e aprimorada, pela elevação de suas
ideias, pelo aticismo de seu estilo elegante e nervoso. Ama-se o poeta, o
evocador e disciplinador de almas, em cujo temperamento deliciosamente emotivo,
através das rimas, repercutem as vibrações da vida.
ETERNO TEMA
A Pericles Moraes, com perpétua simpatia
Se não venci,
Senhora, o vosso austero
Desdém e o vosso
duro e rude peito
À minha triste sina
me assujeito
E na mudança do
destino espero.
Por muito vos amar,
por ser sincero
E ao vosso poderio
estar sujeito,
Tenho, afinal, de
tudo, em meu proveito,
Vosso desprezo
intolerante e fero.
Vendo, porém,
desfeita a rósea trama
Do meu sonho azul,
não me aguilhoa
O pesar, nem rancor
algum me inflama...
Só lembrar de que
amei, – me galardoa:
Pois só é bom quem
sofre, espera e ama:
Só a alma forte de
quem ama, – é boa.
MIRAGENS
Ao despertar do
berço para a vida,
Vendo a glória
sorrir-me, na distância,
Disse comigo: “Se
tiver constância
Alcançarei a meta
apetecida”.
Hoje, muito depois
da leda infância,
Pelo sonho do
triunfo enternecida,
Que foi que
consegui por tanta lida?
– Nada. Desilusões,
cansaço e ânsia.
Desço, agora,
cansado, cambaleante,
Para o invisível e
o desconhecido,
A extrema e curta
nesga do quadrante.
Desço arrastado da
fortuna, a esmo,
Na poeira dos
Sonhos envolvido
E amortalhado
dentro de mim mesmo.
Referência
Revista Redempção,
Manaus-AM, Anno I, n. V-VI, março-abril, 1925.
***
REMÍGIO FERNANDEZ
(1881-1950)
O Remígio José
Fernandez, espanhol de nascimento, natural de Astúrias, nasceu no dia 06 de
junho de 1881 e faleceu aos 69 anos de idade, no dia 09 de agosto de 1950, no
hospital de Santa Casa, às 00:45 h/min, onde esteve hospitalizado durante 02
meses acometido de gangrena, tendo sido sua perna direita amputada, e sendo
diagnosticado causa morte acidose, diabete.
Remígio
Fernandez, veio para o Brasil com a idade de 7 anos, acompanhado de um tio.
No
ano de 1893 foi seminarista, estudando nos Colégios São Vicente de Paula
(Petrópolis), e no Seminário de Mariana (Minas Gerais), onde cursou até 1903;
abandonando no entanto esses estudos por não sentir vocação sacerdotal. Neste
mesmo ano, veio a residir em Belém e em 1904 ingressou na Faculdade de Direito
e, cursando o primeiro ano, ainda calouro substituiu o Professor João Pedro
Figueiredo, no ginásio. Em 1907 leciona literatura e francês na Escola Normal,
em substituição ao eminente Professor Paulino de Brito.
Ao
diplomar-se em Direito em 1908, Remígio Fernandez foi designado a exercer o
cargo de Juiz Substituto na cidade de Cachoeira do Arari, no arquipélago do
Marajó. Em 1917, retorna para Belém, quando então ingressa no Ginásio Paes de
Carvalho assumindo interinamente a cadeira de latim, onde desempenha o
magistério por longos 33 anos como catedrático para o qual foi nomeado em 1920,
após realizado concurso em que apresenta a tese “DAS PREPOSIÇÕES DE ABLATIVO E
ACUSATIVO E ABLATIVO”. Durante o curso de sua vida pública, exerceu importantes
cargos e foi reconhecidamente importante intelectual da terra PAROARA: Foi
diretor da Biblioteca e Arquivo Públicos, Vice-cônsul da Espanha, professor dos
Colégios Progresso Paraense, Moderno, Paes de Carvalho, Membro da Academia
Paraense de Letras (Fundador da Cadeira nº 03 patrocinada por Acrisio Mota),
membro da Academia Piauiense de Letras e Instituto Histórico e Geográfico do
Pará.
Remígio
Fernandez foi poeta, escritor, crítico, advogado, professor e jornalista. Deixou
ao morrer, vasta produção literária em jornais e revistas em todo o território
nacional, principalmente na Folha do Norte de onde era assíduo colaborador e
assinava seus artigos sob o pseudônimo “TIBULO”.
Excelentes
produções literárias de Remígio Fernandez foram editadas em 1936, “Máximas de
Publio Syro”, e três livros de poesias: “Selva” em 1919; “Sol de Outubro” em
1922; e, “O caso” em 1942.
Traduziu
para o latim o romance “Iracema” de José de Alencar, com finalidade de
facilitar o aprendizado da língua latina, cadeira em que era catedrático no
Colégio Estadual Paes de Carvalho. Ao morrer Remígio Fernandez, deixou uma obra
incompleta programada para quatro volumes, de estudos sobre a língua latina
inédita que se encontra sob a guarda de seus filhos.
Remígio
Fernandez casou-se em 07 de maio de 1921, com a Srª. Izaura de Oliveira Menezes
(Paraense) tendo o casal 08 filhos.
Remígio
Fernandez recebeu homenagem da Educação Marapaniense contando o seu nome no
patrimônio histórico que é principal rede de ensino de 1º e 2º graus de
Marapanim. Inaugurado graças os esforços do Prefeito da época, o Sr. Francisco
de Sales Neves, em 1959, na gestão do então Governador do Estado: Geolás de
Moura Carvalho e o Presidente da República: Dr. Juscelino Kubitscheck de
Oliveira; funcionou primeiro como Escola Agro-Artezanal e posteriormente
Ginásio Industrial, Ginásio Estadual Remígio Fernandez, Escola de 1º e 2º Graus
Remígio Fernandez, atualmente Escola Estadual de Ensino Médio Remígio
Fernandez, popularizado como Colégio Estadual Remígio Fernandez.
Fonte:
Jornal “O Marapanim”
Página:
06, de Nº 06 (fevereiro/março de 1987).
Com
complementações da Professora Jane Lima.
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DOM HÉLDER CÂMARA
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