Grito calado
nos braços da manhã
um corpo de mendigo
no berço da tarde
um grito calado
na boca da noite
um balaço no silêncio
no frio da madrugada
sou inocente metralhado
O cheiro do povo
o povo fede sim
para que os senhores
possam cheirar bem
o cheiro do povo
é o cheiro que vem dos senhores
de suas minas e fábricas
caminhões e máquinas
para que os senhores
possam cheirar bem
As tetas do povo
fiquem aí os senhores
mamando nas tetas
do povo
enquanto o povo
mama nas tetas das pedras
cuidado muito cuidado senhores
qualquer dia
as pedras viram armas
qualquer dia
a fome vira raiva
qualquer dia
a casa cai
CARVALHO, Dori. Desencontro das águas. 2.ª ed.
Manaus: Editora Valer, 2018. p. 51, 81 E 90
DORI CARVALHO é ator, diretor, professor de
teatro, cronista e poeta. Natural de São Joaquim da Barra-SP, vive em Manaus
desde 1978. É autor ainda de Meu ovo esquerdo (2012), Paixão &
Fúria (2004) e Pequenas conquistas perdidas (Valer, 2021).
Nenhum comentário:
Postar um comentário
"Quando se sonha só, é apenas um sonho, mas quando se sonha com muitos, já é realidade. A utopia partilhada é a mola da história."
DOM HÉLDER CÂMARA
Outros contatos poderão ser feitos por:
almaacreana@gmail.com